sábado

Santana, o disponível

Talvez tenha sido o António, um dos melhores cartonistas do mundo (repito, um dos melhores do mundo) quem mais eficientemente caricaturou o "menino-guerreiro" ou o "guerreiro-menino", como diria o meu amigo FF.

Eu próprio de Santana guardo duas espécies de memórias: uma na Feira de Carcavelos, quando Santana andava a distribuir panfletos políticos no meio dos ciganos para se eleger deputado europeu. Conseguiu. Outra, já em finais da década de 80 do séc. XX - quando o dito irrompeu numa Universidade privada para assegurar uma cadeira de Direito Comunitário - e apenas foi o 1º dia.

Resultado: da feira de Carcavelos só me lembro das t-shirts que comprei aos ciganos, e estou-lhes grato por isso; da 2ª memória - tal como os outros colegas, é não ter memória de Lopes - senão na sua imensa disponibilidade plasmada nas revistas côr-de-rosa, do Sporting, da Figueira, da Cinha Jardim, de um programa piroso em que contracenou com Torres Couto (um mafioso da UGT que fugiu com dinheiros do FSE e um dia quis ser presidente do Benfica), enfim, toda uma cadeia de disponibilidades que nada tem a ver com aquilo que Aristóteles definiu como o bem comum na polis.

Por isso, só poderei louvar a lucidez intelectual e a coragem política de José Pacheco Pereira ao criticar Santana pela sua intensa e obsessiva disponibilidade. Santana mostrou-se disponível para ser PM sem ir a votos, conseguiu; antes disso lá conseguiu tirar a CML a João Soares, e para quê?! Anos antes também lavrou a sua disponibilidade na Figueira. Lá plantou umas palmeiras e montou o circo mediático muito à boleia da Cinha Jardim - que depois deixou de ter disponibilidade para santana. Compreende-se...

Hoje apresenta-se à Distrital do psd de Lisboa que o impõe à Manela- levando Pacheco a bater com a porta. Santana não está disponível para servir uma causa, uma missão, um serviço público. Ele está - sim - disponível para servir-se das causas e dos lugares que vai conseguindo abichanar no partido para benefício pessoal e gaúdio próprio. Sob o lema de altruísta Santana não passa dum egoísta, de um narcisista, um egocêntrico. Algo que, creio, ele já não consegue controlar e entra no domínio da patologia.

Quando devia ter sabido servir Lisboa - tapando os seus buracos, planificando a vida da cidade, cumprindo o seu mandato até ao fim com boas políticas públicas nos mais variados sectores, Santana convida arquitectos milionários, mete-se nas broncas do Parque Mayer e noutras tantas disponibilidades cujo passivo está hoje, com sangue, suor e lágrimas a ser liquidado por António Costa e pela sua equipa na vereação.

Santana, como tenho vindo a afirmar, ainda vive na nostálgia de Sá Carneiro. Pensa e actua como se ele ainda estivesse vivo, para lhe aparar os golpes e para o ir promovendo a cargos para os quais não tem a mínima vocação e competência, como ser autarca (ainda por cima da capital).

Serviu-se de Lisboa para ir a PM; serviu-se da expulsão de MMendes do PSD (com os votinhos concertados com Meneses) para ir a presidente do Grupo parlamentar do PSD; hoje serve-se do facto de ser o menos mau dos piores candidatos para apresentar a sua disponibilidade à Capital - quando a capital apenas o quer ver de costas.

Pergunto-me de que massa o homem é feito, e só posso concordar com o António, o melhor cartonista do mundo - quando olha para Santana e vê tanta disponibilidade no tronco e tão pouca disponibilidade de neurónios...

Santana está a destruir o pingo de dignidade pessoal que ainda lhe resta (por ter sido assessor de Sá Carneiro), e com tanta ansiedade, perdão, disponibilidade, só vai enriquecer os curricula dos estudantes da área da Psicologia clínica e das organizações que hoje estão fazendo os seus estudos-de-caso nas universidades.

Pergunte-se a Santana se já caiu em si... (ou caiu de si). Qualquer das leituras é trágica. Há quem diga que, no seu caso, seria preferível, cair da ponte sobre o Tejo - onde marcelo andou a dar mergulhos para conquistar a Capital, mas só ganhou uma constipação e a CML foi ocupada por Sampaio - que, curiosamente, depois foi parar a Belém.

Cá está, também seriam estes os planos de Santana...