sábado

A "vaca-fria" da blogosfera e as regras do Ornitorrinco

Giorgio Nova foi um dos teóricos que olhou para a blogosfera (B.) e rápidamente a compreendeu, por isso a encostou à parede e lhe deu três nomes, no fundo, uma troika de categorias que simultaneamente a tipificava caracterizando a própria condição humana, da qual o homem só consegue escapar sendo sempre o melhor através da educação e da sua função directora assumida, em traços largos, pela Cultura e, no degrau acima, pela própria Civilização.
Mas o sacana do Giorgio Nova é tão fino e invisível que não se deixou apanhar no risoma, de Giorgio só me aparecia o Armani, que também não é mau perfume.
Dizia ele que a B. podia ser arrumada enter caçadores, intriguistas e xamãs. É verdade, embora não esgote o problema. Ainda que seja impossível definir os blogues em função do seu conteúdo, nenhum segue uma única linha editorial, mas isso nem o sr. Fernandes do Público faz, que apenas mostra ao mundo a sua (in)capacidade rica em idiotia para fazer as manchetes mais aberrantes de que há memória - na própria memória visual - desde que o mundo é mundo e tem memória de si.
Mas se, por um lado, G. Nova tem razão naquela arrumação conceptual, pois fácilmente encontramos nela extensões da sociedade de corte, como diria Norbert Elias, que pulula por aí, no aqui e agora de carne e osso, por outro, a Rede obriga-nos, pela sua própria complexidade, contingência e incerteza - que movimenta toneladas de informação ao segundo, multiplicando variáveis e acções & reacções em cadeia - a incarnar no tal animal esquisito - o ornitorrinco - que falava o Humberto Eco (muito antes de Pacheco Perreira), e Kant - antes de ambos - o que nos obriga a esse trabalho permanente de adaptação e de (re)interpretação de todas aquelas variáveis e complexidades que hoje tecem as teias deste nosso mundinho.
Um mundinho tão grande quanto pequeno, a que nem a blogosfera escapa. E como tudo isto, em boa medida, me foi explicado - primeiro por Kant, aqui há uns anos, depois, mais modernamente, por Humberto Eco, aqui há uns meses, talvez um dos "filósofos" mais ricos e complexos do nosso tempo, estas notas também lhes são dedicadas.
A Eco - a dobrar - porque ainda está vivo e recomenda-se.. E porque, afinal, ainda lhe posso vir a apertar a mão, e assim já estou bem-recomendado.