terça-feira

O Prós & Contras sobre a crise financeira global foi um Tratado sobre o óbvio

Confesso que espera mais, bem mais do Prós & Contras acerca da crise financeira e das vias que os quatro maiores banqueiros portugueses definiam para tranquilizar os mercados e devolver a confiança perdida à economia real.
Mas a dona Fátima - as usual - anda sempre atrasada, provavelmente tal decorre do corpo de consultores que tem que só a informam do título e tema dos programas quando, em boa parte, as soluções para eles já foram fixadas a alto nível, ou seja, no plano do Estado.
Nesse sentido, o governo português aprovou a criação de um fundo de até 20 bilhões de euros para garantir a liquidez aos bancos do país.
O governo britânico disse que irá gastar até 37 bilhões de libras para injectar recursos nos principais bancos do país. O movimento pode garantir que o governo se torne o maior accionista do Royal Bank of Scotland e do HBOS.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou nesta segunda-feira, 13, um plano anticrise de até 360 bilhões de euros, destinados a garantir os empréstimos entre bancos e a intervir nas instituições com problemas de liquidez.
Na Alemanha, o pacote de resgate financeiro inclui uma injecção de até 80 bilhões de euros em capital novo e até 400 bilhões de euros em garantias bancárias.
O governo da Áustria apresentou um pacote de medidas no valor de 100 bilhões de euros para combater a crise financeira internacional.
O governo italiano e o Banco da Itália aprovaram novas medidas para aumentar a confiança no sistema financeiro, em linha com outros países integrantes da zona do euro.
Já o governo espanhol aprovou a criação de linhas para garantir até 100 bilhões de euros em emissão de bônus bancários em 2008 e para comprar ações de bancos, disse o primeiro-ministro Zapatero.
Na Holanda, o governo anunciou que irá garantir até 200 bilhões de euros em empréstimos interbancários.
Hoje, o Banco Central Europeu (BCE) disse que pretende emprestar aos bancos comerciais qualquer volume solicitado em dólares. Em um anúncio conjunto com o Federal Reserve, o BCE, o Banco da Inglaterra e o banco central suíço disseram que vão aceitar todos os pedidos dos bancos comerciais por empréstimos a uma taxa de juro fixa.
Portanto, há dinheiro a rodos no mercado financeiro (lá colocado pelo mercado político), mas isso deve-se à vontade dos políticos, dos Estados e não dos banqueiros, de modo que para o programa de dona Fátima deveriam estar políticos e não apenas banqueiros, que em alguns casos contribuíram para agravar mais a crise do que a resolver. Embora Portugal não seja um paradigma negativo nessa crise global, apesar das elevadas taxas e comissões que a banca pratica em Portugal. Poderia aproveitar a oportunidade para fazer alguma redenção e confessar-se, mas os banqueiros são pequenos deuses sem fé, salvo no dinheiro.
Isto para dizer que vi quase todo o programa com o som em of, porque nada de relevante alí foi dito, os Estados de véspera já tinham preparado o caldinho para a banca voltar a funcionar e os aforradores voltarem ao sono dos justos. Ricardo Salgado, Faria de Oliveira, Fernando Ulriche e Carlos Santos Ferreira teorizaram acerca do óbvio no mundo mais previsível possível. Nada de novo debaixo dos céus, portanto.
O Estado ganha aqui um ascendente tremendo sobre o mercado, que carece de Regulação intensiva para se evitarem os abusos e as contabilidades criativas praticadas nos EUA e em alguma Europa - que amplificou o diabo especulativo entre os depositantes de todo o mundo. Uma pseudo-economia assente em produtos sem realidade que ela inventa em função do jogo especulativo, só poderia redundar em tragédia, segurada a tempo pela mão bem visível do Estado-pai-padrinho-amigo-confidente-fiador-credor-ventilador-confessor e o o diabo a sete.
Por mais que a banca e os banqueiros internacionais gesticulem foi o Estado que combateu as práticas mafiosas, o anarquismo na manipulação dos activos, o amigo da competitividade e o coadjuvante da produtividade. Coube ao Estado, neste 1º quartel do séc. XXI tomar conta do jogo especulativo e dizer quem manda na economia mundial e, ao mesmo tempo, pôr fim à economia histérica e inoperante fundada no vento e na ilusão que nenhuma relação tinha com as sociedades e a vida das suas populações.
O Estado é hoje o patrão da mão-invisível (do bastardo Adam Smith) tornando-se presente na regulação dos mercados e na restituição da confiança à generalidade dos operadores económicos - que somos todos nós - pessoas, empresas e organizações em geral - que praticamos actos isolados mas articulados com a economia global que a dinamiza e faz rolar o mundo.