segunda-feira

O que falta ao PSD - por Francisco Sarsfield Cabral -

O sublinhado é nosso e o Francisco disse tudo acerca deste projecto de psd. O psd de Gaia...
O que falta ao PSD, in Público
Faz esta semana meio ano que Luís Filipe Menezes ganhou as eleições directas no PSD, tornando-se líder do partido. Antes, Menezes tinha criticado o que considerava ser uma oposição fraca de Marques Mendes ao Governo PS. Curiosamente, nos primeiros meses da sua liderança Menezes foi brando face às políticas governamentais, abandonando as principais bandeiras do PSD de Mendes contra o Governo.
M. Mendes combatera a localização na Ota do novo aeroporto. Acabou por ganhar a batalha – mas, quando o Governo escolheu afinal Alcochete, o líder do PSD era Menezes, que defendera a Ota. Mendes queria a baixa de impostos – Menezes discordava, alinhando com Sócrates (agora já quer baixar a carga fiscal). Mendes reclamava um referendo para ratificar o Tratado de Lisboa da União Europeia; Menezes foi pela ratificação no Parlamento e assim ajudou Sócrates a fazer passar na opinião pública mais um incumprimento de uma promessa eleitoral.
Começaram, então, a surgir no interior do PSD críticas à actuação do novo líder. Menezes, que antes não se coibia de dizer preto sempre que M. Mendes dizia branco, ficou incomodado e desafiou os discordantes para novas eleições directas. Agora, passados dois meses, Menezes rejeita essas eleições.
Entretanto, sentindo necessidade de se demarcar do PS, o líder do PSD resolveu quebrar o Pacto de Justiça celebrado entre os dois partidos e rejeitou o novo mapa judiciário proposto pelos socialistas, mas sem apresentar qualquer mapa alternativo. E também avançou para liquidar o consenso alcançado na anterior direcção com o PS quanto à lei eleitoral autárquica. Menezes quer agora que os presidentes das juntas de freguesia votem nas assembleias municipais; há menos de um ano defendia o contrário.
Sucedem-se as posições contraditórias, além das já referidas – desde o desmantelamento do peso excessivo do Estado, mas recusando fechar serviços públicos ou retirar quaisquer direitos sociais, até à flexibilização das leis do trabalho. Na passada quarta-feira o primeiro-ministro anunciou o fim da gestão privada em hospitais públicos, começando pelo Amadora-Sintra. Mas este regresso à estatização não mereceu da direcção do PSD qualquer firme e audível crítica de fundo, apesar de numa entrevista ao Expresso, em 22 de Dezembro, Menezes se ter manifestado contra o monopólio do Estado na saúde.
Na mesma entrevista, o líder do PSD criticou Sócrates por não ter “a coragem de romper com o status quo nas políticas do trabalho e no código laboral, que torne Portugal mais competitivo”. Mas ao Jornal de Notícias do passado dia 5 Menezes dizia não existirem condições para flexibilizar as leis laborais.
Acusado de não apresentar propostas pela positiva, Menezes apanhou uma ou outra ideia vinda do estrangeiro. Sarkozy anunciou que ia retirar a publicidade do canal público francês de televisão, logo Menezes veio prometer que a RTP deixaria de ter anúncios comerciais. Mas a proposta surgiu desgarrada de qualquer ideia sobre o que deve ser o serviço público de televisão, se ele se justifica ou não, etc. Barak Obama inspirou-lhe um novo logótipo para o PSD, onde o azul predomina. Resultado: a rejeição e a troça de Alberto João e o desconforto de inúmeros militantes.
Este comportamento errático ameaça dissolver o pouco que resta da identidade do PSD. Mas Menezes já deu uma explicação para a ausência de propostas políticas alternativas do seu partido, limitando-se por enquanto a navegar à vista na oposição ao Governo (navegação à vista que explica, em parte, a imprevisibilidade do líder). “As propostas de governação são algo para os últimos seis meses” antes das eleições, disse Menezes ao Expresso. Assim, não lhe roubam as ideias... Aliás, de que serve uma equipa estar a ganhar ao intervalo, se no fim do jogo acaba a perder?
Uma tão curiosa estratégia eleitoral, sobre a qual certamente os teóricos da política se debruçarão nos próximos tempos, tem todavia um problema. É que, quando – daqui a um ano – Menezes apresentar fantásticas políticas alternativas, entretanto encomendadas a algumas cabeças pensantes, já não terá uma réstia de credibilidade junto da maioria dos portugueses. Ora, mais do que em propostas concretas, as pessoas votam em políticos nos quais acreditam e que as mobilizam em torno de um projecto. É isso que falta ao PSD.
Francisco Sarsfield Cabral
Jornalista
Obs: Publique-se pelo interesse público que revela este artigo. Sugere-se, contudo, ao actual líder que não o leia para evitar depressões pós-Páscoa...