terça-feira

Claro acredita na post-Globalização...

As preocupações estratégicas do Claro, de José Mateus.
Introdução do livro aqui
**"Há muito que aqui, no CLARO, vimos defendendo que a "globalização" já foi... Mais recentemente, Jeffrey Frieden, da Harvard University, num artigo para o think-tank Bruegel, "Will Global Capitalism Fall Again?", fazia comparações com o colapso do capitalismo global antes da I Guerra Mundial e perguntava porque é que a história pode repetir-se a si mesma. Qualquer observador atento, mesmo sem referir nem recorrer a conceitos como "gap" e "core", próprios da obra de Thomas P.M. Barnett, "The Pentagon's New Map", encontra, nos últimos anos, acontecimentos que podem, facilmente, ser lidos como anunciando o que na L'Expansion, Hervé Juvin, presidente do Eurogroup Institute, explicou, de modo bem claro :
"Après la mondialisation"
L'Expansion Si la majorité des Français est d'accord sur un point, c'est bien sûr la mondialisation. Pêle-mêle accusée de supprimer des emplois, de menacer nos services publics, d'envahir nos territoires et de répandre la malbouffe, elle est la mère de toutes les peurs. Et, sans nul doute, les candidats à la prochaine présidentielle vont-ils s'atteler, chacun avec sa musique, à promettre de restaurer la France dans ses frontières, dans ses lois et, pourquoi pas, dans sa monnaie - la Banque centrale européenne a du souci à se faire...
Pourtant, la situation est paradoxale pour qui la considère de l'extérieur. Pour qui négocie des contrats d'approvisionnement en énergie, la mondialisation par les marchés est déjà une histoire ancienne : on a désormais affaire à des relations de puissance, et l'énergie est plus que jamais un marché politique où les prix ne sont que résiduels et où la concurrence se réduit à un jouet d'économistes.
Pour qui fréquente les organisations internationales, la résurgence des nationalismes est plus frappante que le multilatéralisme, et le retour des frontières et des séparations, plus significatif que leur ouverture.
Pour qui détermine des stratégies d'entreprise, le temps est bien loin où l'on rêvait de l'usine unique fabriquant un produit unique et, pourquoi pas, d'un consommateur unique. Chaque entreprise cherche à produire près de ses marchés, beaucoup s'interrogent sur la relocalisation, et chacune travaille à sa légitimation.
Et pour qui négocie des contrats internationaux, gère des fonds ou accompagne des programmes de développement, ce n'est plus l'avancée d'un droit unique dans un monde unifié qui impressionne, c'est l'écart partout grandissant entre un très petit nombre d'entités et d'individus qui sont sortis de leur territoire, de leur identité, de leurs origines, et la majorité de ceux qui trouvent en leur identité, leurs origines et leur territoire les repères qu'ils n'ont plus ailleurs.
Le temps est venu de parler d'une autre mondialisation, avec des logiques et des forces bien différentes et souvent même opposées à celle qui s'était engagée dans les années 70.
Le temps est venu pour l'Europe de remettre en question ses rêves d'universalité, son complexe de supériorité, sa posture d'autorité morale. Si la question à venir est bien celle de la diversité du monde, et de la revanche de cette diversité sur les forces de banalisation, l'Europe doit moins parler et commencer à réapprendre le monde.
Le temps est donc venu pour la France de revisiter son discours. La sortie de la religion, qui la rend aveugle à la montée d'un conflit religieux mondial, la sortie de la puissance, qui la rend peu sensible à la montée des volontés de puissance à l'Est et au Sud, lui ont caché le mouvement nouveau du monde vers la séparation, vers la différence, vers la distinction.
A coup sûr, ceux qui ont lutté contre la mondialisation des marchés vont détester le nouveau monde des puissances, des identités et des croyances. Et il n'est pas sûr qu'ils ne regretteront pas bientôt ce qu'ils ont tant honni, quand ils ne mesuraient pas ce qu'ils retiraient de ce système qui s'achève et de la bienveillance d'un monde qui bientôt ne nous pardonnera plus rien.
Par Hervé Juvin, président d'Eurogroup Institute "
** Prossegue o Claro de José Mateus. Na actual conjuntura portuguesa, é bom que, pelo menos, alguns homens, pelas funções que ocupam, percebam isto : José Carlos Zorrinho, Luís Amado, Rui Pereira e José Sócrates. Seria bom que Cavaco (o único PR até hoje havido com matriz para perceber isto) também o percebesse e, dados os seus laços históricos, inoculasse o PSD. Do CDS, BE e PC, nada que tenha uma pequena relação, mesmo distante, com inteligência há a esperar daí… estão perdidos, definitivamente, no seu autismo politiqueiro que, de resto, também ameaça, mas sem esse carácter irremediável, o PSD e o PS. Rui Pereira, Amado ou Zorrinho, pelas funções que ocupam e pela capacidade que já mostraram, bem podem um destes dias começar a organizar uns seminários fechados, com especialistas e não com os costumeiros intelectuais gongóricos e autistas, sobre o tema «concepção, funções, vulnerabilidades e potencialidades de Portugal no mundo pós-globalização »… Ao Presidente Cavaco Silva, bem como ao PSD, também ficaria muito bem este tipo de trabalho ! O trabalho de mapear o "to move in the direction of accepting the challenges of the information age and, in effect, moving us off kind of the industrial era models that we`ve had for decades", na expressão de Barnett. De resto, é por aqui que passa qualquer definição séria de uma estratégia para sobreviver e afirmar-se no século XXI… Tempo e espaço (e do aqui estamos a falar é, sobretudo, do « espaço » deste tempo) continuam e continuarão a ser as coordenadas de qualquer estratégia e o seu conhecimento prévio imprescindível para a elaboração de qualquer estratégia com hipóteses de ser ganhadora. Quem tiver dúvidas que estude o caso desse estratega maior da história da Humanidade que foi o senhor D. João II…"

Obs: Quando Francis Fukuyama escreveu aquele artigo/ensaio sobre O Fim da História, na revista The National Interest no Verão de 1989, para significar que já nada haveria para além do liberalismo, já tudo estaria inventado, ele apenas queria manifestar esse consenso mundial em torno da democracia liberal como sistema de governo, à medida que esse mesmo sistema triunfava sobre sistemas e ideologias rivais, como a monarquia hereditária (e não constitucional), o fascismo, e a plêiade de comunismos do Centro e Leste europeu que Moscovo implantou após a II Guerra Mundial por motivos e estratégias que todos conhecemos. Fukuyama pegou nalgumas ideias de Hegel e olhou para a história política contemporânea com novas lentes e foi, por isso, um escritor político inovador. Viu na democracia liberal a tal forma final de governo humano. Essa, grosso modo, foi a sua concepção de evolução de sociedade. Hoje aparecem novos autores questionando que a Globalização é já um conceito em declínio...
Discordo. Por uma razão simples: ele sempre existiu, mas em estado de potência (pela história e gesta dos Descobrimentos, desde logo), depois a complexidade crescente da vida internacional acabou por o manifestar e os teóricos do sector teorizaram-no. O que é isso de post-Global? A economia continua selvagem e predatória, as TIC ajudam mas também geram muito desemprego pelo caminho, os negócios fazem-se mas a distribuição dos rendimentos é feita de forma pouco democrática... Seria suposto que se actualmente vivêssemos nesse tal mundo post-Global, quiça uma utopia, seriam também os valores post-materialistas sobre a globalização competitiva que conhecemos - que hoje estaríamaos a usufruir. E isso não é, manifestamente, assim. So far...
Creio que a globalização - por ser um decisor oculto (que está lá, mas não se vê em cada decisão) é um conceito de continuidade que se irá tornar recorrente nas próximas décadas.
E porquê: a extensão das redes globais, a intensidade dessas interdependências, a velocidade a que sopram e o impacto que geram nas economias e nas sociedades são de tal modo conceitos e realidades infra-estruturantes que eleas se associaram a esse estágio ao mesmo tempo velho-e-novo que é traduzido por globalização.
Já agora, aproveito para sublinhar que os principais teóricos mundiais desse tema não são aqueles supra-referidos, que têm interesses legítimos mas muito sectoriais, mas David Held e Anthony McGrew.