sábado

Um abraço ao Armando Rafael...

2007/11/10 09:25

Armando Rafael foi encontrado sem vida na Câmara Municipal de Lisboa

Armando Rafael, chefe de gabinete de António Costa, foi encontrado sem vida, na noite de sexta-feira, nas instalações da Câmara Municipal de Lisboa, vítima de morte súbita.

Licenciado em Direito, Armando Rafael tinha 45 anos e iniciou a sua vida profissional como jornalista do Diário de Notícias, onde chegou a redactor principal.

Participou activamente nas campanhas presidenciais de Jorge Sampaio e acompanhou António Costa quando este assumiu cargos governamentais, tendo sido seu chefe de gabinete no Ministério da Justiça.

Recentemente, suspendeu a sua actividade jornalística no Diário de Notícias para de novo acompanhar António Costa, agora como seu chefe de gabinete na Câmara Municipal de Lisboa.

Deixa viúva Clara Azevedo, repórter fotográfica que trabalhou no Expresso."

Nota: Conhececendo o Armando, e com quem se tinha rapidamente um trato fácil, informal e caloroso, não ficaria bem comigo mesmo se não escrevesse aqui umas palavras em sua memória. Começámos logo a tratar-nos por "tu", o que ficou um clima hiper-produtivo, amigável e cooperante, por isso quando hoje recebo a notícia pela Olga fiquei surpreendido, reli para acreditar.

Foi, confesso, um soco no estômago e uma foice na nuca. Desde logo, porque gostava do Armando, depois porque estava na flor da idade. Ninguém deveria "partir" assim, de forma tão abrupta. Mas a vida é este desafio (terrível) permanente, podemos programar a emergência de uma vida, mas nunca o seu fim.

Só de pensar que ainda há dois, três dias estivémos juntos para tratar assunto de interesse comum e depois isto... Até dá vontade de "ilegalizar a morte" antes dos 80 para que notícias destas não voltem a atingir-nos. Ou então, "matar a própria morte" com uma caçadeira de canos cerrados, mas temo que nem uma nem outra possibilidade sejam atendíveis neste nosso tempo.

No fundo, o que eu queria mesmo era deixar aqui um abraço amigo e fraterno ao Armando (e a todos os seus familiares, amigos e colegas), com a promessa de que nos reencontraremos. Só não sei quando e de que forma.

ATÉ SEMPRE ARMANDO... (com 8 ou 4 págs., as que quiseres)

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O testemunho de Guilherme d' Oliveira Martins

RECORDAR ARMANDO RAFAEL Guilherme d'Oliveira Martins - Presidente do Tribunal de Contas

A morte nunca se espera, e muito menos quando se trata de alguém de quem se esperava muito. Um dia, temos a notícia, brutal, e fazemos na nossa lembrança um filme de vida. O Armando Rafael foi meu aluno na Faculdade de Direito, daqueles que não se esquecem. E encontrei-o ao longo da vida, sempre com a mesma atitude crítica e curiosa. Era inteligente e lúcido, cultor da liberdade de espírito e da amizade, que soube pôr ao serviço da sua profissão. Mesmo quando exerceu funções de cidadania da maior importância, nunca deixou de ser um competente cultor da sua arte. Bem recordo os seus trabalhos e a preocupação de manter-se actualizado nas suas áreas de eleição - política internacional, defesa e segurança. Colhi dele bons ensinamentos. E que pode esperar-se mais de aluno que foi um amigo? Muito obrigado, Armando Rafael!

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Testemunho de Mário B. Resendes, blog Bicho Carpinteiro

Depois de uma longa ausência, regresso pelos piores motivos: morreu um amigo.O Armando Rafael merecia que a vida lhe tivesse dado tempo para que chegasse onde merecia e tinha talento para estar. Era culto, sabia que o mundo não acaba nas nossas fronteiras, tinha um enorme sentido de humor, gostava das coisas boas que a vida tem. Frontal, mas sempre solidário; espírito independente, lealdade irrepreensível, ao lado dos amigos nas horas difíceis. Até sempre, Armando.

posted by Bettencourt Resendes

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Timor-Leste pelo prisma da Austrália
Armando Rafael
Ao contrário do que muitos portugueses - e até timorenses - tenderão a pensar, Timor- -Leste não é uma prioridade para a política externa australiana.
É certo que alguns editoriais e até artigos de opinião que têm saído recentemente na imprensa australiana poderão induzir o contrário, deixando depreender que Camberra gostaria de poder determinar (ou pelo menos influenciar) o que se passa em Díli. Mas não: Timor-Leste e a crise timorense só são determinantes para a Austrália na medida em que isso pode pôr em causa o equilíbrio das suas relações com a Indonésia e a estabilidade na região. Só isso. E nem mesmo a disputa em torno do petróleo parece ser tão relevante para os padrões de segurança locais.
Quer se queira quer não, é isto que resulta da doutrina que domina a política externa e a política de defesa e de segurança da Austrália. Sem que se registem neste domínio grandes discrepâncias entre conservadores, como o primeiro-ministro, John Howard, e os traba-lhistas que o antecederam, um dos quais até incentivou a Indonésia e o regime do presidente Suharto a invadirem Timor-Leste, em 1975. Em nome da estabilidade, a verdadeira obsessão de Camberra.
E percebe-se porquê. Até ao final da década de 60, a Austrália pouco ou nada se interessou pela Ásia e pelos seus problemas, alinhando pela batuta dos EUA durante a Guerra Fria. O que só contribuiu para que a Ásia olhasse para Austrália como um "infiltrado" ocidental. Com tudo o que isso representa ou pode significar.
Depois, tudo mudou. Designadamente com a queda do Muro de Berlim e com a derrocada do comunismo. A Austrália passou a assumir-se gradualmente como potência regional, tentando, como se tem visto nos últimos meses, estreitar relações com a China, Coreia do Sul, Índia ou Filipinas.
Sem que isso altere a geografia ou as relações de vizinhança com o gigante indonésio, que é quatro vezes mais pequeno do que a Austrália, tendo, contudo, uma população 12 vezes maior que arrasta consigo diversas incompatibilidades e rivalidades.
O que explica que instituições como o Australian Strategic Policy Institute [aspi.org.au] ou documentos como o Defense White Paper insistam na necessidade de Camberra ter uma política pró-activa na região, evitando que os conflitos da Papua Nova Guiné, das ilhas Fiji ou das ilhas Salomão "contaminem" a unidade indonésia, fazendo, por efeito de dominó, recrudescer as reivindicações independentistas de Aceh, Ambon, Bornéu ou Irian Jaya, território que reproduz uma situação idêntica à de Timor-Leste. Com a pequena particularidade de o lado ocidental da Papua Nova Guiné representar quase 20% do território indonésio e apenas um por cento da sua população.
É sob este prisma que deve ser encarado o "interesse" da Austrália perante Timor-Leste. Para os australianos, o que conta não é Timor-Leste, mas a Indonésia e a estabilidade num arco geostratégico que separa o país do continente asiático, numa altura em que a defesa e a segurança passaram a contemplar capítulos sobre a sida e o branqueamento de capitais.
Daí que a Austrália não queira que Timor-Leste (ou a Papua Nova Guiné, as Fiji ou as ilhas Salomão) tenha forças armadas ou militares, preferindo apostar numa espécie de gendarmerie. Ou que Camberra tenha a noção de que não pode dar-se ao luxo de recorrer sistematicamente às suas tropas para pôr termo aos conflitos que se registam nestes Estados.
Sob pena de isso só prejudicar as relações com a Indonésia, tida como a segunda das três principais prioridades da política externa australiana, num contexto em que a primeira incide sobre o relacionamento entre EUA e China e a terceira assenta na Papua Nova Guiné.
O resto, incluindo algumas opiniões que têm sido publicadas, deve ser descontado no capítulo de uma certa arrogância australiana.