O caso de Hugo Chavez...Uma "estória" de sucesso
Muitos de nós já nos perguntámos por que razão Hugo Chavéz se pode dar ao luxo de ser provocador e, ainda por cima, fazer-se passar por vítima. Na cimeira Ibero-americana o seu propósito foi objectivamente subverter o espírito da conferência e criar um facto político através das suas persistentes provocações e, assim, manter Fidel Castro ligado à máquina dando risadas convulsivas. Ele sabia que se continuasse a ser chato e mal-educado alguém iria notar, e, desse modo, também alguém iria reagir e aí o caudilho Hugo teria o pretexto para se vitimizar diante o mundo. O petróleo que o País tem fez o resto, um resto que é "tudo".
Agora Chavez vem a Portugal, e como não pode ser incomodado diplomáticamente senão suspendem-se alguns contratos altamente valiosos para Portugal e a nossa economia, apresenta-se como um diplomata, um gentelman povoado de fair-play quando dias antes andou por esse mundo fora a "bater na mulher", comportando-se como um carroceiro de Bagdad. Faz lembrar aqueles amigos que alguns de nós temos, para o melhor e para o pior, que nuns dias são pessoas de bem, noutros não passam de gente medíocre, possuídos pela inveja e pelos maus sentimentos. Quem domina alguns instrumentos de psicologia conhece a tipologia desta condutas à légua. Chavez é um destes sintomas (bi)polares, e se hoje tem "amigos" tal decorre, obviamente, do petróleo e do gás natural que o seu país pode exportar para economias dependentes como a nossa.
Mas estas razões, de per se, não explicam o quadro geral em que Chavez se situa, nem explica por que razão o caudilho é um caso de sucesso internacional. Desde logo, quem não gosta de G.W.Bush tem meio caminho andado para coligar-se (negativamente) com Hugo - que tudo fará para vingar Castro e abater políticamente Bush na República Imperial.
Mas Hugo Chavez vai além desta parada, ele conta boas histórias, ele é uma história, um artista, um actor de teatro, ele promete satisfazer os desejos de cosmovisão de todos aqueles que não se identificam com uma América mentecapta, prepotente, unilateralista e de cruzada - como foi a América que resultou do post-11 de Setembro e fez a intervenção no Iraque, no Afeganistão, etc, etc. E cometeu imensos erros de palmatória, muitos dos quais até levaram Collin POwell a afastar-se da Casa Branca pelo facto da sua perspectiva não ser coincidente com a política oficial da White House.
Mas aquilo que faz de Hugo Chavez um caso de sucesso no sistema político internacional prende-se com o facto de ele ter uma narrativa que vai ao encontro de milhões de cidadãos que não gostam da América de Bush e, de certo modo, estão à "esquerda" da política e encaram a vida com as promessas que Hugo procura também "vender" e partilhar no convívio internacional, no intervalo das suas provocações carroceiras. Um desses rendidos é, nitidamente, Mário Soares que hoje vê em Hugo um trampolim para recuperar boa parte do prestígio, do poder, da influência e da autoridade perdidos nas brumas da memória. Aqui Soares cavalga a onda em toda a linha, e até faz o "túnel" como diriam os surfistas...
Neste contexto Hugo Chavez é tudo isso: contestação aos EUA, uma alavanca para políticos caídos no esquecimento, um milagre sul-americano, petró-dinheiro fácil, êxito social, segurança e previsibilidade para as economias que consigo transacionarem, um ego do tamanho do mundo, diversão, prazer e muitos, muitos outros sentimentos com os quais até nos identificamos, porque somos latinos, quentes e afectuosos... E, sobretudo, humildes, muito humildes no estrangeiro. Ou seja, um País quando faz um contrato com a Venezuela encontra alí um certificado de segurança que lhe permite ver o futuro com mais esperança. É o que sucede hoje a Portugal com a assinatura de todos aqueles contratos energéticos entre a Galp e a Petróleos da Venezuela. Os consumidores, que somos todos nós, diferentes e iguais nas necessidades, procuramos, em última análise, o mesmo resultado: combustíveis mais baratinhos. Em termos políticos essas lideranças, venezuelanas e portuguesas, querem ser promovidas à boleia dessas energias, que nos tornam mais ricos e potenciam o nosso bem-estar, além da lisonja que granjeiam por parte dos respectivos eleitorados. Pois quer Socas, quer Chavez saem bem desta história de petro-casamento. Portanto, temos aqui um conjunto de ingredientes que tornam estes dois países, estes dois líderes, estas duas economias e sociedades irmãs no destino, na amizade e no futuro. Chavez elevou o seu populismo ao ponto de dizer que não é egoísta, por isso partilha o seu petróleo connosco. Isto é brilhante!!! Só um demagogo-populista se lembraria de explicitar esta evidência desta forma. Qual raciocínio primário à la Santana Lopes... Chavez, está provado, dispensa os profissionais do marketing, coisa que Luís Filipe Meneses não pode fazer junto dos seus amigos das Agências de Comunicação, pois ele é a história embrulhada no embrulho feito por ele próprio. Um autêntico "petro-Pai-Natal"... E mais, Chavez faz tudo isso com um preço altamente competitivo para Portugal, com extrema simpatia e conveniência para a nossa comunidade de meio milhão de portugueses na Venezuela que Hugo confirma serem muito trabalhadores e afectuosos. Provavelmente, os venezuelanos são apenas afectuosos... Ou seja, Hugo Chavez é a "broca" que a esquerda mais dura carecia para minar uma certa Europa mais liberal e pró-América, a alavanca ideal para servir de estertor de G.W.Bush, e é aqui que Mário Soares entra num filme que não era o seu, mas que, por obra e graça dos seus contactos, lá conseguiu recuperar um papel na história e hoje reclamar para si boa parte deste guião luso-sul-americano. Entretanto, o filme do Por que não te callas... prosseguirá numa sala de cinema perto de si...
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