terça-feira

Notas Soltas por António Vitorino - "amálgama" foi a palavra da noite

Fazer o referendo agora seria extemporâneo. Sejamos sérios: os que querem o referendo, neste preciso contexto (ultra-competitivo) da Europa e do mundo, são os partidos anti-sistema (PCP e BE) que aproveitam sempre esse momento de chicana política para atacar a política global do governo, seja ele do PS ou do PSD. Para esses partidos das margens do sistema político - que conhecem aí o seu momento alto de antena política para se afirmarem e arrebanhar os descontentes, o objectivo seria criticar tudo e todos e não esmiuçar o tratado e conhecer as suas consequências e impacto socio-político na sociedade portuguesa. O que, de resto, poderão fazer no Parlamento através dos seus deputados.
Quem mais quer o referendo? Alguns professores de direito, os comentadores e analistas e conexos que vão à televisão teorizar e fazer doutrina sobre a matéria. Essas pessoas vivem dessa exposição, desse aparecer na caixa negra, desse mimetismo mediático que os promove - e assim vão vendendo o "seu peixe" na esperança de que as polémicas que alimentam acabem por nutrir a sua própria posição mediática na arena simbólica e no mercado da análise e da opinião em Portugal.
Fazer agora um referendo sobre o Tratado reformador de Lisboa seria dar pasto ao pcp e ao be para fazer do momento mais uma Feira da ladra política neste Verão outonal que paira sob os céus abençoados de Lisboa.
O referendo seria, portanto, uma "amálgama": de intenções, de vontades, de projectos e de interesses político-partidários. Um alguidar com alhos e bogalhos. Ou seja, incorríamos no risco de discutir tudo menos a Europa e o tratado que dele nasceu para desbloquear institucionalmente a Europa a 27: o tal gigante económico com pés de barro e anão político - que queremos deixar de ser em face do bloco norte-americano e asiático..
Faça-se, pois, esse referendo parlamentar... E de lá alguns debates para a nação - mas já com a Europa em marcha, com a economia a crescer, com mais e melhor emprego e investimento e qualidade de vida para os cidadãos europeus.