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Quem pagou - por Vasco Pulido Valente - a "vaca sagrada" do jonalismo político português -

(Público assinantes) 16.06.2007,
Vasco Pulido Valente Quando a CIP se recusou a dizer quem pagara o estudo sobre o presuntivo aeroporto de Alcochete, houve logo uma suspeita universal. O português, que se julga esperto, vê sempre uma conspiração em toda a parte e ouviu sempre directamente de um primo do cunhado da mulher quem está por detrás de quê. Verdade que o "caso" se prestava. Tinha o ingrediente da "corrupção", tinha o ingrediente da "política" e, principalmente, tinha o ingrediente do "capitalismo". Começaram, como de costume, a correr tremendíssimos boatos, que envolviam Lino, Sócrates, Cavaco, a banca, a Espanha e o venerando espectro da "Especulação". A "esquerda" ficou a ruminar e apareceu mesmo um "puro", que se recusou a escrever uma palavra sobre o assunto, enquanto a questão do dinheirinho não fosse devidamente esmiuçada.
Perante isto, a CIP confessou que um grupo de empresários dera 25 mil euros por cabeça. Mas, como seria de esperar, não convenceu ninguém. O "sigilo" (que, de resto, o Presidente da República parece que aprovou ou, pelo menos, não desaprovou) anulava à partida qualquer espécie de explicação. Para a sabedoria indígena, quem esconde, não esconde com certeza coisa boa. Andávamos nisto, quando Francisco van Zeller revelou ingenuamente a razão do mistério: o grupo de empresários insistira no anonimato, porque alguns deles dependiam do Governo e temiam "represálias". "Represálias", claro. O medo move a CIP como o último empregado do último serviço do mais miserável ministério. O santo medo do patrão que faz de Portugal este país pacífico e ordeiro que o mundo admira.
No dia em que a CIP apresentou o "plano de Alcochete", o coro da "direita" burra e dura entrou num frenesim apologético à "sociedade civil" (que, infelizmente, não sabe o que seja). A solução para o "novo aeroporto de Lisboa", que durante meio século o Estado procurara em vão, chegava finalmente da iniciativa, da força e da inteligência da "sociedade civil". Só que essa "sociedade civil", tão cheia de vigor, é clandestina e se mexe, quando se mexe, clandestinamente para se proteger da cólera do Estado. O "plano de Alcochete" não mostra a sua independência, mostra a sua dependência do eng. Sócrates, que a sustenta e segura. Os beneméritos da CIP, que tentaram resolver da melhor maneira um grave problema nacional e participar num debate que o próprio Presidente pediu, andam por aí de cara tapada como criminosos.

Obs: Consabidamente VPV é considerado - não se sabe por quem, um dos melhores senão mesmo o melhor cronista da república (credo!!). Meteu sempre o mundo numa troika de parágrafos, é muito inteligente, culto e sábio. E segundo consta, trata os alunos abaixo de cão... Gostaria de o ter apanhado como professor... Mas, curiosamente, é sempre eficiente no diagnóstico e no chamado levantamento de necessidades, como dizem os técnicos de Rec. Humanos - mas é sempre muito furtivo a apresentar uma ideia, uma proposta de solução, ainda que tímida, murcha.. Nada.

Daquela testa só emanam diagnósticos pessimistas, conclusões destrutoras, ideias alternativas - ZERO. Bem sei que não pagam 100 ou 200 cts à peça a VPV para ele andar por aí no jornal de Belmiro de Azevedo a ajudar o governo na formulação de políticas públicas, muito menos em matérias de localização de sítios para a construção de aeroportos, mas já vai sendo altura do cronista da república contribuir com algo de positivo para o seu país, já que de diagnósticos marados estamos todos fartos.

Recicle-se, pois, o padrão analítico rotineiro de Vasco Pulido valente que, de resto - consome um mês a fazer aquilo que os melhores blogues em Portugal fazem num dia. E de forma mais eficiente, criativa e certeira. E de borla, já agora.

Qualquer dia VPV deixa de ter assunto, não encontra diagnóstico e começa desabridamente a dizer mal de si próprio. Já esteve mais longe...

Enfim, eis o que verdadeiramente penso desta "vaca sagrada" do jornalismo político em Portugal. Que, como deputado, foi o que se viu: uma lástima.

  • PS: sugerimos aqui a VPV que diga efectivamente o que pensa desta problemática do aeroporto, porque ele escreve, escreve mas esquece-se sempre de dizer o que pensa relativamente ao essencial. É sempre destrutivo, nunca propositivo. Neste caso o essencial é saber o seguinte: onde é que o cidadão Vasco desejaria construir o aeroporto?
    Para ajudar o Vasco a ser mais propositivo e menos destrutivo nas suas mais do que previsíveis análises - deixamos aqui a pedrada sonora do Verão de 2006, Crazy - numa versão alternativa a fim de estimular a criatogénese do cronista - que dispensa apresentações.

Gnarls Barkley Crazy Theremin Jam