segunda-feira

Putin tem uma lata que não deixa de ser realista, até sufoca

Fórum Económico em São Petersburgo Putin acusa Organização Mundial do Comércio de ser "arcaica e não democrática"
10-06-2007 19h52 - Por Lusa
Alexander Demianchuk/Reuters
"Putin sugeriu a criação de instituições regionais euro-asiáticas para o comércio livre. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou hoje a Organização Mundial do Comércio (OMC) de ser "arcaica e não democrática", num discurso pronunciado no Fórum Económico, a decorrer em São Petersburgo.
Putin, que discursava perante os seus homólogos da Comunidade de Estados Independentes (ex-URSS, menos os países bálticos) e empresários, sugeriu "a"criação de instituições regionais euro-asiáticas para o comércio livre".
"As organizações financeiras actuais foram criadas levando em conta apenas um pequeno número de membros activos — são arcaicas, rígidas e não democráticas, o que é bem o caso da OMC e dos interlocutores da Conferência de Doha, que atravessa graves dificuldades", disse Putin.
Há vários anos que a Rússia pede para ser aceite como país membro na Organização Mundial do Comércio, objectivo ainda não alcançado.
Putin defende "arquitectura de relações económicas mais justa"
O Presidente russo defendeu também o aumento da lista de moedas de reserva mundiais e de centros financeiros globais para criar "uma arquitectura de relações económicas mais justa".
"Estou convencido de que os discursos habituais sobre uma divisão justa de recursos e investimentos não resolvem nada", disse Putin.
O líder do Kremlin sublinhou que o desequilíbrio na economia global "é sentido cada vez mais e agrava a diferença entre os países pobres e os mais ricos".
Para um desenvolvimento estável da economia mundial, indicou Putin, "é indispensável formar uma nova estrutura de relações económicas internacionais".
Além disso, para o chefe de Estado russo "é evidente que o sistema financeiro mundial, dependente apenas de uma ou duas moedas e de um número limitado de centros financeiros, já não reflecte as necessidades correntes e estratégicas da economia global".
As organizações financeiras mundiais, sublinhou, "requerem uma reestruturação profunda, porque foram constituídas para responder a realidades totalmente diferentes e hoje já não conseguem encontrar lugar nas actuais condições de crescimento económico estável da maioria dos países emergentes".
"A resposta a este desafio é apenas uma: o surgimento de várias divisas mundiais de reserva e de vários centros financeiros internacionais", sublinhou, acrescentando que "agora é indispensável criar as premissas para diversificar os activos do sistema financeiro mundial".
Neste contexto, Putin manifestou a sua convicção de que "os centros financeiros e de decisão dos novos consórcios globais podem vir a estar na Rússia", fazendo assim um convite implícito aos países para negócios com passagem por Moscovo.
O Kremlin continuará a propiciar "a atractividade do rublo, do mercado financeiro e do sistema bancário" da Rússia.
Obs: Ao ler estes comentários de Putin ao sistema económico internacional saído do mundo post-Yalta em 1945 lembrei-me daqueles pastosos artigos do doutor Adriano moreira sobre os pactos de Varsóvia e a Nato. Dizem aquilo que já sabemos há quase duas décadas. Por este andar, qualquer dia Putin ainda reclama a titularidade da Estátua da Liberdade que a França ofereceu aos EUA no séc. XVIII, só é pena o sr. ex-KGB não possa garantir no seio das fronteiras do seu próprio impériozinho alguns valores essenciais em democracia, como a Liberdade de expressão, de associação sem que isso não signifique um envenenamento a prazo de mais jornalistas corajosos..
Ele não deixa de ter razão nas observações adrianistas que faz, o problema de Putin - como de alguns restolhos salazarengos que passeiam a sua surdez por aí, é que são os últimos a ter legitimidade para o denunciar, vindo de quem vem.