As escolhas de Marcelo - agri-doce: A meretrização da política local em Portugal
Ver os comentários de Marcelo tem de ser sempre com duas garrafas, uma de Porto e outra de Vodka. Com aquela anuimos e consolidados alguns pontos de vista expendidos pelo analista, com esta dá vontade de fazer caretas, eis o Marcelo agri-doce na sua missa dominical tocado pela sua oralidade fluente que embala mas não surpreende a alma.
De Sarkosy disse ter uma resistência física, psicológica e mediática, por isso limpou as eleições à 2ª volta. Admira-me ouvir isto da boca de Marcelo, pois ele encarna essa troika de condições socio-políticas e na política Marcelo sempre foi um perdedor, até naquela aliança-macaca com PPortas em 1997 que acabou por ser denunciada unilateralmente. Marcelo até deu um mergulho no rio Tejo, arriscando-se a embater num cacilheiro e, ainda assim, perdeu para o pobre Sampaio que se tornou edil da Capital em 1989, salvo erro. De Hergé, e hoje par hazard até falámos dele noutro contexto, Marcelo disse umas coisas interessantes: aprendeu a falar francês com Tin tin.. Como nunca ouvi Marcelo parler francais esperemos que fale um pouco melhor do que Mário Soares. Mas o que é mais curioso é que certas análises, como naquela passagem de Seara a cavalgar a onda de Lisboa só por ter consigo os alienados da massa associativa do Benfica - Marcelo faz mesmo lembrar o personagem da BD que tenta impingir frigoríficos em África onde nem sequer havia electricidade... Aqui exigia-se de Marcelo um pouco mais de seriedade e de honestidade intelectual.
Mas Hergé foi, de facto, um criador genial, embora eu não tenha aprendido a falar francês com ele, porque, em rigor, nunca fui muito fluente em francês, recorria sempre ao inglês, e quando esta falhava remetia para o portugueÊs, por último, o gesto é tudo de modo que a comunicação nunca ficava interrompida, apesar de também nunca ter jeito para o desenho. Um jeito que Hergé dominava aliado a histórias com argumentos tão fortes quanto simples - e atingindo a faixa etária do 8 aos 80 anos, daí a sua sedução e universalidade. Pela linguagem, pelo estilo, pelo carácter sugestivo do desenho que assegurava sempre uma continuidade entre o traço e a narrativa - formadora de gerações. E o mais curioso é que Hergé, no plano político-ideológico, começou por ser um fervoroso anti-revolucionário e acabou por se condoer com os revolucionários do comunismo da guerra fria, aceitando, noutro tabuleiro, sugestões dos leitores iniciando, desse modo, um jornalismo tão romântico quanto moderno que acabou por ser percursor dos tempos modernos. Hoje, porém, os jornalistas apelidam-se uns aos outros de "chibos", eles lá saberão...
Relativamente à autarquia de Lisboa, e à sondagite que foi realizada ainda sem os candidatos terem todos apresentados os seus cabeças-de-cartaz - o que me faz supor que a democracia se tornou acessória - António Costa ganha mas com dificuldade e muita erosão de votos sacados ao PS por parte da revoluciónária-romântica que é essa transfuga do PSD que é Helena Roseta. A mesma que dramatiza ao defender os sapos, as aves em vias de extinção, os cágados e os louva-a-deus de Alcochete se afigura como uma candidata que poderá meter dois vereadores na CML. Ao invés do PCP e do BE que, com esforço, só meterão um vereador cada. Eis a geometria política de Marcelo, que é discutível, na medida em que não atribuímos aqui a HR essa força da natureza ou importância sociológica capaz de seduzir tanto lisboeta. Espero não me enganar... A 1ª perdedora desta estória é a srª Governadora civil - que deverá pôr o lugar à disposição antes que alguém a empurre do cargo, que acabou por não saber cumprir ao cometer voluntariamente uma ilegalidade estrondosa na marcação das eleições intercalares. Provavelmente, a senhora será despedida e alguém no PS a recolocará num lugar de chefia a ganhar o dobro. Veremos..
Depois temos ainda o efeito Carmona que gera mais compaixão do que racionalidade, para não dizer que mete dó. Mas a ir a jogo é óbvio que dificulta ainda mais a vida a Fernando Negrão e a MMendes - permitindo que esses votos insatisfeitos possam deslizar para A.Costa do PS. Veremos... Depois AC foi inteligente em rasgar o seu centro esquerda e centro direita convidando Saldanha Sanches e José Miguel Júdice - que há 2 meses se desvinculou do PSD, e fez muito bem. Muita gente já rasgou o cartão daquele partido porque percebeu que nem para limpar as unhas o dito serve, tamanha é a desilusão desta liderança, mormente na autarquia teleguiada por MMendes nestes dois últimos anos de corrupção, nepotismo, tráfico de influências entre muitos outros crimes que as autoridades terão de avaliar e sentenciar. Do congresso do cds pouco ou nada há a dizer: a Madá do Caldas fez o seu número e as santanetas de serviço aplaudiram e afagaram o ego inflacionado de PPortas - que no final irá lamber-se a 2 ou 3% dos votos, e o sr. Telmo Correia lá será um vereador de qualquer coisa, dada a impossibilidade de Bagão Felix aceitar o convite mais credível de PP - para tentar agarrar o eleitorado na casa dos 5%, que foi alcançado com Zézinha em 2001. Mas, como sempre, e agora vem a garrafa de Vodka, Marcelo faz sempre uns números de circo para Hergé ver, e fê-lo quando disse que Fernando Seara tinha condições ganhadoras em Lisboa, eis o momento em que fui parar ao r/c com duas costelas partidas e fractura no externo, o que me deixou sem respiração, mas não tolo. E como se esta inflacionação da importância de Seara não fosse, de per se, abusiva e desonesta, o homem nem sequer se importou com o facto de Seara ter um compromisso político com os desgraçados dos sintrenses, que na hora H seriam enfiados na IC19 em horas de ponta só para o Seara do Benfica se montar na edilidade lisboeta, segundo os doutos e cínicos conselhos de Marcelo. É nisto de favores aos amiguinhos - que Marcelo não percebe as figuras tristes que fazam lém do seu facciosismo que até o faz perder telespectadores. Ou seja, começa por ser arguto numas coisas e depois aventa análises brujessas na esperança de que Lisboa se converta numa espécie de Assembleia Geral do Benfica e aclame, à latere, o seu amiguinho de Sintra - e que eu conheço, infelizmente, bem, como ex-aluno de faculdade. Marcelo distorce a realidade para que os factos se encaixem nas suas megalómanas teorias, mas sucede que é Marcelo que terá de inverter a fórmula, porque a realidade continua a ser o que é, uma antítese do que o comentador disse de seara em Lisboa. Não sei se isto dá para rir se para chorar, mas esperemos que Marcelo não ensine este tipo de direiro político e autárquico aos seus alunos, senão eles ainda ficam com a ideia de que sérios e competentes são aqueles políticos que aceitam ser autarcas num local e depois, a meio do mandato, porque as circunstâncias mudam como o vento, se põem a jeito para "montar" um cliente maior e mais apetecível, no caso vertente - Lisboa. Daqui resultando aquilo que poderemos designar por efeito ou fenómeno da meretrização da política local em Portugal. Que também é mais um elemento da gramática política que integrará o léxico do sector no burgo. Esperemos aqui que Marcelo fique convencido de duas coisas: Seara não aceitou "montar" Lisboa não pelas razões que evocou, mas porque sabia antecipadamente que seria humilhado nas urnas (mesmo com a abstenção previsível do Verão), e mais vale um pássaro na mão... Eis o raciocínio torpe de Seara, que ainda por cima justificou a recusa por razões de índole pessoal (e não políticas, como deveria ter dito, sem fosse um "homensinho" político com valores, e não mais um trânsfuga do cds - como Zita seabra - que aterrou no PsD). Depois, Marcelo deve fazer comentários políticos que não incitem à violação dos mais básicos princípios de direito político e de continuidade dos mandatos do poder local, senão as pessoas, e até os seus alunos, vão ficar com a impressão de que Marcelo ficou assim quando recentemente esteve em África, e mesmo assim creio que por lá não disse nem defendeu tanta imoralidade política.
Já agora, uma perguntinha para Marcelo - que costuma parar por estas águas apesar de nunca ter a coragem de citar e de omitir as fontes, assim como a de muitos outros blogues de referência que ele já aprendeu a ler e a reler antes de dizer algumas das balelas domingueiras que pontificam nas suas missas semanais: por que razão, atendendo à 2ª linha de Negrão e ao compromisso e ao temor de Seara do Benfica, Marcelo não avançou para Lisboa, nem que para isso tivesse de dar mais outro mergulho no rio Tejo e partir a testa política no calado dum qualquer navio que passasse ao largo da costa? Também teve medo, naturalmente... Marcelo ainda sonha com Belém, coitado!! Era certo e sabido que se o fizesse voltaria a bater com a tola no cacilheiro e ficaria a sangrar, mas, ao menos, prestava um serviço público ao PSD, a Lisboa e a Portugal - em vez de fazer algumas análises que, de facto, são tão previsíveis quanto primárias, e subjectivas quanto alinhadas com os seus amiguinhos da política que, em rigor, nada mais fizeram do que instrumentalizar o futebol e o aparelho mediático para subirem a escadaria da notoriedade e, assim, manipularem votos. Neste caso, o desgraçado do Benfica, para terem alguma capacidade de penetração política junto da sociedade alienada que temos.
Mas uma coisa é certa: votam nesses paraquedistas quem não tem filtros intelectuais e não sabe separar o trigo do jôio, e cada cada vez menos hoje os lisboetas comem "sorvetes com a testa", como se dizia na década de 80... E ainda bem. E que comer sorvetes com a teste seria votar no seara para Lisboa, é que a seguir os lisboetas teriam de o mandar o Tejo, quiça ao lado dos mergulhos de Marcelo...
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