sexta-feira

O que quer Cavaco dos Roteiros da Inclusão? Será mais um role-playing à Augustus no fashion-Lisboa...

Cavaco insiste na receita dejá-vous dos Roteiros para a inclusão, a mesmíssima coisa da Presidência aberta inaugurada com Mário Soares há uma década. Convém agora mudar a semântica senão a gramática política confunde-se, e uma das "originalidades" políticas dos titulares de cargos públicos é pensarem que, de facto, são muitos originais, para não dizer geniais. Daí Cavaco ter chegado a estes luminosos roteiros de macdame. Na prática, vai dar ao mesmo, até lhe poderia chamar "presidências abertas" (consolaria Soares..por não o ter convidado para a comemoração dos 50 anos da Europa), pois o que conta são as acções concretas e infra-estruturantes no terreno, e não os passeios que me fazem lembrar aquela visitas a passo de gansso de Samora Machel ao museu da Gulbenkian, e depois terminava as suas visitas oficiais a Portugal colocando a coroa de flores ao contrário na Estátua António José de Almeida, na Av. Rovisco Pais, alí ao Técnico, zona muito conhecida por ser uma artéria da capital muito frequentada por prostituição. Mas sobre isto, o engº Carmona nada diz ou faz. Bom, eu penso que ele é "engenheiro"... Se não for as minhas desculpas, desde já.
Mas para que quererá Cavaco estes Roteiros pela Inclusão? À partida não duvido que as suas intenções sejam as melhores: dar pão, alcatrão, internet e muito amendoim ao povo. Deixá-lo feliz, saciado com tanta promessa desenvolvimentista e de Liberdade. Criar o Paraíso no Portugal-profundo e expulsar toda e qualquer espécie de injustiça, assimetria regional, iniquidade ou qualquer outra fonte de discricionaridade que atrase o desenvolvimento homogéno deste nosso querido Portugal, como diria o aristocrata do Eça... que depois foi morrer a França, já que o Portugal do séc. XIX era tão bom, como hoje.
Admito que tudo isto ocupe 1cm2 no cérebro de Cavaco, mais do que não seja para se fazer eleger num eventual 2º mandato, impedindo, assim, Soares de se fantasiar sobre a estrutura da realidade presidencial. Mas Cavaco é ainda duma geração de papel e lápis, pode mexer num PC, pode até enviar e receber mails, mas a estrutura do seu pensamento não consegue operar em rede, em tempo real, de modo relacional, como se impõe na estrutura do Rizoma da rede das redes.
Cavaco pode saber o que é uma impressora e distingui-la dum agrafador, mas ainda não se apercebeu que a sociedade se digitalizou, que a globalização desregulamenta o ambiente de papel e lápis em que se formou, e é isso que hoje altera o equilíbrio de poder entre vendedores e compradores, por um lado, entre investidores de capital e investidores de competência, por outro.
Ainda se Cavaco se fizesse acompanhar por uma "manada" de empresários dispostos a investir no Portugal profundo, esses Roteiros para a inclusão fariam sentido, assim mais me parece tratar-se duma passagem de modelos da moda Lisboa, em que Cavaco faz o role-playing de Augustus, mas para ver o fashion-Lisboa nessas aldeias despovoadas e miseráveis povoadas de deserto, velhinhas enrugadas pela erosão do tempo, confesso que prefiro ver esse fashion na escadaria duma Praça romana, onde o material é substancialmente melhor.
Dito isto, questiono sériamente a valia destas novas velhas presidências abertas. Se elas faziam sentido na década de 80, hoje têm um valor facial perfeitamente gratuito, ainda que os telejornais à noite façam mais duas reportagens sobre a ranhoca da velhinha que acabou de dar um bacalhau à "estrela presidencial" (mais a cambada de assessores que parasita o OGE) que percorreu a aldeia à velocidade do vento. Mas depois, nada fica, é o vazio e as promessas que ainda matam mais os que ficam.
Cavaco deveria repensar imediatamente a sua forma de querer interagir com os problemas da sociedade e da economia real. Ele deve saber que num mundo cada vez mais teleguiado pelos competentes, e ele sempre pugnou por isso (apesar do PsD estar povoado de incompetentes e gente mui pouco recomendável, é a malta das malas pretas..), e do seu ex-partido ser um antro de boys, o controlo será sempre da economia, dos clientes, do mercado, das empresas, do lucro. Ainda que ele queira atrair investimento e empresários aos locais onde vai, assim não o conseguirá fazer. Um road-show à americana seria, porventura, mais eficiente.
Cavaco esteve há escassos meses na Ìndia, o maior escritório e democracia do mundo, mas ele ainda parece não ter entendido que a hipótese mais plausível para desenvolver Portugal passa por outro tipo de abordagem - em vez de fazer rally-ligeiro pelas aldeias de Portugal. É só poeira... Na realidade, quanto mais a economia se informatizar, digitalizar e se converter às normas do conhecimento intensivo, menor será também a possibilidade de algum lucro tresmalhado acabar nos bolsos dos balsemões-investidores que por aí andam tentando vender gato por lebre.
Afinal, onde está o amigo Americano? Onde paira o investimento?