sexta-feira

As agências de Comunicação vistas a uma nova lux...

No texto infra procurámos colar a ideia de que as Agências de Comunicação (AC) são agentes mais preocupadas com a manutenção de interesses corporativos e pouco sensibilizadas para a valorização da democracia social, política e económica do nosso tempo. Mas essa abordagem, apesar de parcialmente justificada, não esgota a equação global do problema.
Vejamos algumas condicionantes do novo tempo que nos poderão fazer mudar de ideias e fazer evoluir o pensamento para um caminho de acolhimento das AC na sede do exercício do poder democrático: o Parlamento.
De facto, há hoje um risco sistémico por via da globalização competitiva que aparece, assim, relacionado com a maior complexidade das sociedades actuais e com a maior rapidez dos instrumentos de comunicação que permitem estabelecer comparações competitivas, que diferenciam os incluídos dos excluídos. Neste quadro fará sentido inquirir a sociedade política, o Estado: haverá vantagem em permitir a inclusão/acreditação das AC nos principais fora de debate político do País?
Cremos, apesar de algumas reservas, que a resposta deverá ser afirmativa e com base num raciocínio simples. É que em contexto de globalização competitiva, que é o elemento perturbador permanente da conjuntura e altera a natureza das coisas, a não existência desses agentes sociais no processo de mediação socio-político poderá abrir caminho a que o marasmo informativo fique mais na mesma.
Ou seja, o que está - sem a concorrência das AC - é uma situação mediana em que o conhecimento, a produção intensiva de informação e análise, a polívalência, a flexibilidade, a capacidade para a realização de objectivos estratégicos por convergência de esforços redunda num jogo de soma nula - em que ninguém beneficia com a manutenção desse statu quo informativo que segue à sombra do "jornalismo de poltrona" - que até já teme a criatividade da própia blogosfera que lhe roubou palco e quota de mercado.
Com base neste "distinto" estabelece-se assim uma diferença radical entre o momento da produção de informação made in jornalismo clássico (o tal jornalismo de poltrona) e o momento emergente assente na produção de informaão e análise oriunda das AC que pretendem essa acreditação na casa da democracia. Aquela situação representa hoje um factor de inviabilidade para a democracia; esta situação pode, ao invés, se bem regulada e acautelada, representar um volte face na geração de informação estratégica em Portugal. Ambas coexistem no mesmo espaço, no mesmo território nacional, sob a mesma orientação política, mas uma poderá ser mais rápida e flexivel do que outra e, assim, complementarem-se beneficiando - no circuito final - o próprio cidadão consumidor de informação.
No fundo, se os políticos reforçam a sua liderança a partir do momento em que consolidam a sua capacidade de estruturar a opinião pública com base em boa informação, boas ideias e boa comunicação..., é natural que o desenvolvimento lógico de toda esta equação culminará na criação de condições que facilitará essa estruturação da opinião em função da possibilidade dos agentes políticos poderem desenvolver modelos de comunicação para as grandes audiêncas. E não, como hoje sucede, permitir que esses mesmos agentes poíticos instrumentalizem a informação de que dispõem para ajustar as flutuações da opinião em função das sua própria popularidade em contexto eleitoral.
Creio, portanto, e deixamos aqui desde já o nosso contributo para esta discussão ao mesmo tempo política e técnica, que as vantagens e virtudes desta coabitação do jornalismo tradicional ao lado das AC (de que a LPM, por exemplo, uma das maiores e mais influentes no País) só pode culminar num jogo de soma positivo, e quando assim é ganham todos...
Ou seja, mais do que um jogo de soma positiva será, porventura, um jogo de soma variável porque com interesses misturados. Isto não significa que, doravante, os "jornalistas de poltrona" entrem em conflito com os operadores das AC. Trata-se antes é de jogos nos quais os jogadores (players) não apenas ganham algo, competitivamente, uns dos outros, mas também, ganham colectivamente, e também estão sujeitos a perder algo nessa interacção.
Logo, são jogos de interesses misturados para os principais intervenientes. É hoje minha convicção, caso as AC sejam acreditadas na AR, que a situação da produção de informação em Portugal se alterará para melhor, porquanto os players pretendem ganhar uns dos outros, sendo que até aqui a competição era endogâmica, pouco estimulante porque dentro da mesma "casta" ou "seita" organizacional.
Em conclusão: quando amanhã o Presidente da AR, Jaime Gama, depositar os seus olhos sériamente no assunto não deixará de equacionar todas estas variáveis em prol da democracia de informação em Portugal. Serão a partir desses novos jogos de coordenação da produção de informação política em Portugal que os players ganharão ou perderão em comum, segundo a habilidade e talento de coordenar as opiniões, as ideias, as propostas e as soluções que o corpo político num dado momento apresente ao País.
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Gama quer regras para os 'lobbys' na política (link)
O pedido feito por duas agências de comunicação para que lhes seja atribuída uma acreditação permanente na Assembleia da República tem carácter de urgência para Jaime Gama. O presidente da AR só ainda não deliberou sobre o assunto porque espera pelo estudo comparado com outros parlamentos europeus para levar o assunto à conferência de líderes (que reúne os vários partidos) e se pronunciar sobre o assunto.
Uma coisa é certa, depois das iniciativas da LPM (agência responsável pelas campanhas eleitorais de José Sócrates e de Cavaco Silva) e da YoungNetwork nada será como dantes. Ao DN, o gabinete de Jaime Gama defende que "a existir qualquer tipo de decisão, ela carece de uma regulamentação". Isto é, deve ficar bem definido na lei como e de que forma as agências de comunicação podem trabalhar junto do Parlamento e do poder político em geral.
Ou seja, Jaime Gama entende que não se pode admitir o acesso devidamente credenciado às agências de comunicação num órgão de soberania sem estar regulamentada a actividade de lobbying em Portugal. Porque é isso que poderá estar em causa, se as ditas agências passarem a poder andar livremente pelos corredores da AR, assistir a comissões parlamentares, abordarem deputados acompanhados de grupos de pressão ou associações e prestarem serviços de assessoria de imprensa para os seus clientes junto da comunicação social acreditada em São Bento.
Estes grupos de pressão e interesse, tal como existem noutros países, podem ser, por exemplo, agricultores que defendem uma determinada medida para o sector, empresários das mais variadas áreas. O que se queira imaginar, e que de alguma forma dependa do poder legislativo.
A posição manifestada pelo gabinete de Jaime Gama encontra eco no antecessor no cargo, João Bosco Mota Amaral. Ao DN, o antigo presidente da AR, deputado do PSD, lembra que "há parlamentos e outras instituições onde essa actividade é exercida", mas ressalva que "será sempre necessária legislação sobre a matéria, o que não existe". Para Mota Amaral, "não se podem deixar entrar as agências de comunicação sem que haja previamente regras definidas".
Francisco de Almeida Leite (in DN)