segunda-feira

À PROCURA DE QUEM SOMOS

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(de José Adelino Maltez, in raiz do mais além, pág. 36)

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Houve sempre alguém
que deu corpo ao mais além,
além da morte e além do rei.
Sempre esse refazer de sementes
pela pátria e pela grei,
sendas que não sabemos
pelos mares do tempo além.
Porque mesmo sem rei nem lei
nossas mãos hão-de vencer
as algemas que não queremos.
Esta procura de quem somos
desde o milagre de Ourique,
este grito independente
do Portugal afonsino:
nós somos livres,
o nosso rei é livre,
nossas mãos nos libertaram.
Depois, o mistério desse império
que nunca foi deste mundo.
Sempre esta carga de séculos
que nos prende e nos liberta,
este versos que vou escrevendo
e, por vezes, não entendo.
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Notas do Tempo que passa:
Recupero aqui estas "palavras em pedacinhos numa filigrana de sentimentos" a que o autor chama versos. E chamam bem, mas porquê esta passagem?! Para agradar, para fazer fortuna, para lisonjear, para colher alguns louvores? Para quê, afinal?! A coisa é simples e responde-se assim: de quando em vez precisamos de recarregar as baterias com coisa diversa de prosa comum, daí o recurso a estas raízes do mais além - que nos empurra para um futuro intemporal, que é como quem diz, ajuda-nos a sair do tempo comum, estreita-nos o caminho que nos separa entre "nós" e Deus, entre o "aqui" e "agora" e o além, que desconhecemos.
Mas isto não diz tudo. Um "tudo" que reside nas vicissitudes que o momento nos impõe, nesta caminhada para esse tal além - na premente realidade do tal aqui e agora, comezinhos, como os carapaus. Daqui por uns anos seremos pó, com sorte ainda fazemos alguma História.
E se hoje nos esquecessemos das memórias uns dos outros, bem ou mal, o que restaria?! Seríamos ambos traidores a uma solidariedade que vem de trás, não direi nem de berço ou umbilical, mas cósmica - que nos empurra para o enunciado do poema: à procura de quem somos. E quem somos, afinal?
E se amanhã desacordarmos em algo, nos factos, ou na leitura deles, para a posteridade deverá constar que sempre tivémos um sentido racional, lógico, humano na produção desse sentido, dessa significação, posto que onde está um Homem é preciso que esteja toda a humanidade.
Ligados para a vida, ligados para a morte - não se sabe já como desatar estes nós. No fundo, e na senda de Miguel Torga, ninguém é feliz sózinho, nem mesmo na eternidade. Hoje o nosso amigo (e mestre doutras "guerras") soma mais um ano aqueles que já tem, razão por que aqui lhe deixamos estas palavras de amizade resumidas numa palavra: P-A-R-A-B-É-N-S.
Long life, são os nossos desejos.
Pink Floyd - Another Brick In The Wall