Um detector de mentiras e as vantagens da Biometria
Quantas vezes a PJ e demais autoridades policiais se confrontam com a necessidade de detectar se o suspeito de um crime está, ou não, a dizer a verdade durante um interrogatório? Pois bem, doravante, será possível colmatar essa brecha em virtude de um software (este Cavaco não levou a Espanha..) que está ainda a ser desenvolvido por uma equipa de investigadores portugueses. Tudo gira em torno da expressão facial do indivíduo. Sabe-se que o modelo já se encontra em contexto de afinamento laboratorial para apurar a Expressãao facial da emoção - a ser desenvolvido pela faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, dirigida por Armindo Freitas Magalhães. O qual tem explorado o filão da psicologia da emoção e do sorriso e de toda a comunicação não-verbal. Confesso aqui que com os milhares de expressões faciais que temos, cerca de seis a oito mil expressões, qualquer modelo se torna extraordináriamente problemático para revelar toda a complexidade humana. depois há sempre aqueles que mentem na perfeição e são capazes de iludir as máquinas. Ou destas serem insuficientemente programadas tornando-as incapazes de apreender toda a complexidade de expressão facial humana.
Caso este sistema venha a provar eficiência e eficácia garantida só temos com que nos congratular, sobretudo pelas vantagens em coadjuvar a justiça na identificação dos criminosos e em desvendar se durante um interrogatório um alegado criminoso mente ou não. Ou se projecta alguma incoerência entre aquilo que diz e o chamado discurso não verbal, i.é, no seu registo mais emotivo, muito frequente em política. Todavia, desconheço se Freitas Magalhães já se deu conta do verdadeiro alcance da sua inovação - já a ser desenvolvida e aplicada em estabelecimentos comerciais por esse mundo fora. Com isto quero dizer o seguinte: a ser efectivamente válido aquele sistema poderá depois aplicar-se à generalidade da sociedade cujas pessoas concentrem em si sistemas de decisão que possam vir a afectar a vida de milhares ou mesmo milhões de pessoas. Reporto-me, naturalmente, aos agentes políticos que, como sabemos, são por vezes os maiores "criminosos" (no sentido político do termo, e na medida em que as suas decisões lezam os interesses imediatos e mediatos do País e dos seus cidadãos).
Um exemplo recente desse dano político que penalizou o país: a fuga de zé Durão Barroso - conhecido pelo "transmontano de Bruxelas" - teve implicações nefastas para Portugal, para o seu erário público, para o funcionamento da economia e da sociedade. Pelas expectativas dos agentes económicos e sociais que frustrou, pelos projectos que inviabilizou, pela instabilidade e conflitualidade política resultante de S. Lopes ter assumido - monárquicamente - o poder (aquela tomada de posse foi, desde logo, vergonhosa e indiciadora do que se precipitara depois, também aqui as expressões faciais dão pasto para muita investigação) e por um conjunto de passivos sociais, económicos, políticos e até psicológicos que só a história poderá verdadeiramente sistematizar. E no caso vertente, quer como PM quer como mordo-mor da Comissão Europeia não passará, certamente, duma nota negra de roda-pé nos compêndios de História nacional e da Europa daqui por uma década.
Ou seja, a provar este sistema de Armindo Freitas-Magalhães poderá amanhã ter muitas outras aplicações que não se circunscrevem aos actos de crime comum, mas também pode vir a revelar-se um precioso auxiliar no diagnóstico da gestão dos grandes processos de tomada de decisão nos domínios políticos e económicos, sobretudo por parte daqueles players que têm a obrigação legal de tomar decisões que afectam a vida de milhares de pessoas. Fica a sugestão de mais uma aplicação alternativa ao cientista que tem este projecto entre mãos, ou melhor, entre mentes. Com um sistema destes a operar a 75% no sistema político português pergunto-me quantos deputados, responsáveis distritais, autarcas (lembro-me já de quatro), dirigentes desportivos, dirigentes partidários concelhios ou locais, ministros, secretários de Estado, Chefes de Divisão, Administradores e demais operadores já não teriam sido metidos na cadeia ou, pelo menos, obrigados a indemnizar o Estado em milhões de euros na sequência de acções dolosas e fraudulentas que tomaram no exercício das suas funções. A grande desvantagem deste sistema é, obviamente, o ambiente de big brother que ele automáticamente evoca, limitando a privacidade das pessoas e das instituições, pelo que os políticos jamais embarcariam numa aventura que sabiam, à partida, os iria queimar vivos. Enfim, algumas reflexões que deixamos aqui aquele cientista a quem, desde já, endossados votos do maior sucesso.
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