terça-feira

Pesadelos nobilizados: estória de um nóbel e homenagem a Luís Pacheco

Image Hosted by ImageShack.us Pesadelos quem não os tem??? E como agora é a temporada da caça e também a da atribuição dos nóbeis - medicina, química e literatura... pensei novamente que o Júri - colectivamente embriagado, se enganasse novamente na atribuição do desejado Prémio. Mas o mais grave é que nesse pesadelo apenas duas pessoas eram favoritas: Luís Pacheco e Zaramago. Sabendo nós o que este vale, ou seja, nada (e os seus admiradores que me desculpem tanta franqueza), o pesadelo lá terminou em sonho, dado que desta vez o Júri não se tinha embebedado com aguardente, mas com Porto Ferreira e Licor Beirão, passe a Pub.
Et voilá, no meu pesadelo, ou melhor, no meu sonho, foi o Luíz Pacheco o nobilizado.

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Isto [o lar] não é uma casa alegre. Não pode ser. É o terceiro lar onde estou e já sei que não há hipótese de arranjar melhor. Agora, para pagar isto é que me vejo um bocado aflito, porque eu não tenho dinheiro que chegue para isto. Como é que faço? Olhe, faço os possíveis. Isto custa para cima de mil euros por mês. O que eu recebo não dá para estar descansado. Tenho uma situação muito incerta.
Tenho um subsídio vitalício de 120 contos por mérito cultural. Há muita gente que tem. Agradeço isso ao Alçada Baptista. E ao Balsemão. Foi o Balsemão que inventou um decreto, que era o do mérito cultural, para legalizar estas pensões. O meu subsídio em princípio é vitalício, é um subsídio pelo passado. Mas com essa maluca das Finanças - por acaso até é gira, é muito feia mas é gira, é uma mulher a sério, não é o Peixoto, aliás o Barroso! - nunca se sabe. Mas não, porque se uma pessoa tem mérito cultural não o perde por causa da Ministra das Finanças.
Eu até estou um bocado resguardado. Enfim, estou bem aqui. Este quarto é um bom quarto, apetece trabalhar. Eu é que já não estou muito capaz de trabalhar, porque a memória, a vista, tudo isso inibe um tipo. Já não leio os jornais, não consigo. A minha ligação com o mundo é a rádio.
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Para escrever bem, para estar atento - por desejar está-lo - é preciso um tipo ler muita coisa. Sim, o trabalho do Lobo Antunes interessa-me. Tem muitas qualidades. Tem métier, já escreveu alguns 15 romances, são anos de escrita. Esse também diz que não pode estar sem escrever, mas esse é verdade. Mas também é maluqueira. Ele tem muita pancadinha. Há livros do Lobo Antunes de que eu gostei porque me tocavam. Gostei deles por bairrismo, porque ele falava de Benfica, e da Avenida Grão Vasco, da palmeira ao pé dos correios. O Lobo Antunes é um tipo um bocado sentimental, é um tipo um bocado arrapazado".
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Quem tiver dois palmos de testa ou um só de nuca perceberá - depois de ler esta entrevista na íntegra - qual a importância (relativa) que hoje os jornais de papel todos juntos têm...