segunda-feira

Acertar na mosca: a filosofia (política) da mosca

Não conheço ninguém que goste de moscas, até o actual presidente da AR diz não querer ir a África por detestar moscas. Eu detesto ser incomodado por elas, seja em trabalho, seja em lazer. Incomodam à brava, são mais rápidas e voltam sempre, como que a demonstrar que estão a reinar com a malta, que somos uns caracóis ao pé delas. Se falassem, creio que era o que diziam...
A filosofia oriental diz que um homem só atinge o supremo saber quando consegue ter a arte e a techné de as apanhar em pleno vôo com aqueles pausinhos com que comem. Por cá, no Ocidente, vai mesmo à paulada, mas daqui decorre uma dupla frustração: 1) quando tentamos apanhá-las e esmagá-las e elas se esquivam, por serem mais rápidas; 2) e quando as apanhamos e ficamos com o seu sangue estampado na palma das mãos. Sangue de mosca nas mãos é horrível, convoca até o ambiente de crime por matarmos o irmão mais novo diante dos pais, do cão e do canário, é horrível. Ainda agora fizémos mais um óbito que nos importunava sistemáticamente. Porra!!! malditas moscas, como as detesto.
Como é que um bicho tão rápido consegue depois ser tão estúpido!? Eis o paradoxo da mosca. Esta narrativa, que mais não é do que um tratado anti-mosca, comporta, creio, uma lição - apesar de se tratarem de seres abjectos e repulsivos e se alimentarem de m.... Sucede em política algo de muito semelhante ao que sucede às moscas diante duma janela: elas nunca percebem porque é que não conseguem passar para o lado de lá. A nossa função - ao reflectirmos sobre isso, é identificarmos a existência desse vidro, que é desconhecido para a mosca.
O problema é que além de rápidas elas são às carradas, e quando nos alegramos por ter despachado mais uma duas ou três logo aparecem para repôr o stock e voltar a ludibriar-nos com tanta perícia e velocidade. Confesso que nunca me senti tão gozado senão pelas moscas. Chego mesmo a supôr que Deus as inventou só para nos tornar um pouco mais rápidos e, de preferência, menos estúpidos. E, já agora, que também não gostemos de pousar em m...
É a isto que chamo o desafio epistemológico constante da filosofia da mosca. E o mais grave é que isto se repete todos os dias, tal como os dias - que mais parecem moscas.