Neocorporativismo: os novos jornalistas e o "detonador"-Carrilho
- - Em Portugal temos um Estado interventor e prestador de serviços ou fornecedor de recursos rentabilizados pelas novas corporações (leia-se agências de Pub.)? Observando o comportamento das novas Agências de Comunicação/AC, o Estado parece converter-se no último "mercado interno" imune às normas da competição internacional, íman para todas aquelas actividades profissionais que não encontram viabilidade fora das sua esfera de protecção.
- A questão essencial na relação dos grupos corporativos com o poder político é criar junto deste um efeito mágico de ilusão política como contrapartida de garantias distributivas. Em política o que não é dito, não existe, e as AC que fazem consultadoria no mercado político competem pela angariação dos melhores negócios junto de ministérios e gabinetes (e empresas do secor privado). Por seu turno, a popularidade dos políticos só persiste se aceitar satisfazer as expectativas distributivas. O círculo fecha-se de modo perfeito com os mercados do dinheiro e do poder. Um gera o outro. - A sociedade portuguesa vive hoje essa crise, dado que o Estado privilegia a distribuição e desvaloriza a produção: dele depende a continuidade distributiva; é também o centro de emprego. Reflexo da necessidade da perigosa relação entre as neocorporações e os agentes políticos. Ambos têm em comum o fito de usar o Estado para alimentarem a distribuição que suporta a popularidade. O corporativismo actual é, assim, um triturador da legitimidade popular e, ao mesmo tempo, usa os mecanismos democráticos para fazer prevalecer os seus interesses particulares imediatos. - A facilidade de acesso ao nervo da decisão política, a promessa duma licença, de um financiamento espelha o poder funcional desses players que protegem eleitores aristocráticos (que os remuneram) em desfavor das “multidões”. O que fazem, então, os cerca de 700 experts em comunicação política em Portugal? Contactos, angariação de negócios, compra de poder, influenciação de decisões, lobi. Tudo isto integra o perfil das AC, não por esta ordem necessáriamente. São operadores especializados na função de intermediação entre os candidatos e os eleitores, mas também entre os negócios e o poder político julgando criar imagens mobilizadoras dos comportamentos colectivos para reforçar a continuidade do poder. - No fundo, as AC reproduzem o modelo clássico do cacique local, agora privado da sua referenciação geográfica, passando a referenciar-se em função dos interesses (e das remunerações) profissionais. Como se dum momento para outro, distorcendo a regra do voto popular, estas AC organizassem “sindicatos de voto” afastando os eleitores da participação política e obrigando os candidatos a assumirem constrangimentos prévios limitadores da sua acção ulterior caso venham a conquistar o poder. A IPSIS (barrosista), a J. Líbano Monteiro & Ass., a UNIMAGEM, a Bairro Alto são alguns dos operadores denunciados pelo ex-director do “DN” (Fernando Lima) como estando na origem da sua humilhação-demissão. Lembram-se de como ele foi corrido do DN ao tempo de S. Lopes... E depois de como o nome de Clara F. Alves emergiu na arena - e a quem Vasco Pulido Valente disse que só tinha o 12º Ano...que deu origem depois a um processo judicial... - Mas a função do politólogo é desocultar a tendência do corporativismo dos interesses, mais sofisticado que o corporativismo doutrinal do séc. XX, já que se constitui como um “estado” dentro do Estado, servindo-se das instituições democráticas para satisfazer interesses particulares, sem estarem obrigados ao dever de solidariedade geral da polis. Olhando para o mercado político luso só se vê “elefantes e pulgas”. Neste jogo do Estado com as neocorporações não entra a classe média. O Estado é o elefante - pesado e lento que paga a factura às pulgas - ágeis, criativas e adaptáveis aos negócios. Não é fazer as coisas correctamente que é importante, mas fazer as coisas certas. - O problema é que o elefante (falido) somos nós todos; e as pulgas (AC) não deixam de se multiplicar em enxames para burilar "ideias" que iludem o poder e as multidões (foi isto que Carrilho ora denunciou...). É neste dreamworks que actores recolhem o dinheiro pago pelos contribuintes. Por isso, hoje só deveria poder aceder à política aqueles que passassem o teste do montanhista: quando se está a 2000 pés de altitude e se tem apenas os pés e as mãos agarradas à rocha, não se consegue pensar em mais nada..
- Artigo publicado na imprensa em Nov. de 2004 e republicado no nosso livro nas págs. 85-87 - Em busca da Globalização Feliz - Análise e Reflexão Política, Hugin, 2005.
- Nestas análises busco a face de Deus. Espero que não me condenem ao inferno
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