domingo

Tentativa de arrumar (algumas) ideias sobre Agostinho da Silva (comemoração do centenário do nascimento do pensador)

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  • Quando tentamos esboçar uma linha que reflicta o pensamento de Agostinho da Silva sobre o que quer que seja, defrontamo-nos com uma imensa frustração. Que decorre de tentar arrumar um conjunto complexo de coisas com uma teoria. Como a teoria não é elástica muita coisa fica de fora. De fora da teoria e das nossas pobres mentes. Daí a frustração dessa empreitada.
  • Da ideia de Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, e sua concretização política e cultural à escala global; da ideia de gerar sistemas económicos e de propriedade alternativos à pura economia de mercado capitalista; à ideia de liberdade e de tolerância; à ideia de lei, de coacção, de Estado, de Poder e até de Império (essa tal força da eternidade – revisitando Vieira e Pessoa – que alargaram o conceito de império); à ideia de representação política, de partidos políticos e praxis política; de resolução pacífica dos conflitos – integrada na questão maior da Paz e da Guerra entre as nações; à ideia de educação política/cidadania, pedagogia e quadros culturais, Organizações internacionais (ONU e outras).
  • Enfim, como os assuntos tratados por Agostinho da Silva foram imensos, é natural que a racionalização dos recursos intelectuais sobre toda essa miríade de temas não seja nada fácil de organizar.
  • No seu caso, fez apelo aos mais ilustres poetas e intelectuais portugueses para sublinhar que para além da Terra, uno se mostrou o Mar. De Portugal e da sua Nação, disse que devia ser o mais livre possível dos tropeços de Estado, animada por missionários e peregrinos, marcando agora como lugares sagrados todos os elementos de universo, quer do concreto quer do pensado, e sabendo que o acesso a eles não o garantem as armas, mas todos os esforços culturais que tendam, sem perder o que é próprio, a entender todo o alheio e a exaltar o diferente acima do igual – e por amor e alegria da diferença. Há aqui muito do legado de Camões, Vieira, Pessoa..
  • Como é que isto se fazia? Ou se fez? Transportando Portugal a sua concepção globalizadora para o Mundo? Utilizou o conhecimento (náutico) de que dispunha tendo em vista exclusivamente a sua utilidade económica? Ou, ao invés, recorreu a outra técnica ou método para descobrir os contornos da globalização em curso na sociedade global? A tal globalização positiva, de face humana que hoje falta.
  • Basta atentarmos no pensamento de Agostinho da Silva vertida na sua Reflexão - para identificamos alguns pressupostos daquela questões: “Talvez haja uma ciência verdadeiramente humana, de uma descoberta do mundo como a praticaram os nossos pilotos e exploradores dos Descobrimentos, uma ciência de irmãos para irmãos, uma ciência que não põe acima de tudo não o prever, não o poder, mas o admirar, o maravilhar-se diante dos novos céus, dos novos climas.... dos novos animais, dos novos homens, dos novos costumes e, para além de tudo isso, do infinito poder criador de Deus, uma ciência que sabe chegar aos outros, aos que não participaram na descoberta, uma ciência que vai ao encontro de uma filosofia de procedimento, uma filosofia que se faz proverbial e não discursiva. Uma ciência de um povo de homens livres” .
  • A dada altura perdemo-nos para organizar tudo isto, uma vez que a aparelhagem matemática e os ensinamentos das ciências "duras" começam a entrar na sua equação de pensamento. Embora a capacidade de prever - no pensamento agostiniano - se encaminhe claramente não para as questões do Mando e do Poder e da Potência - como em muitos sociólogos da modernidade (recordo Max Weber, por ex.,) mas para as questões ligadas à resolução de problemas de conforto, problemas de produção e de educação gerados na economia capitalista.
  • Também aqui - na relação da Ciência, do Conhecimento e do Saber com o Poder - Agostinho da Silva andou à frente do tempo. Já que cedo compreendeu a possibilidade do tal Poder instrumentalizar essa ciência, esse conhecimento e essa sabedoria.
  • No fundo, Agostinho conhecia bem o símbolo do doutor Fausto, que acabará vendendo ao Diabo a alma da humanidade, se outras forças não puderem ou não souberem intervir. E Agostinho da Silva interveio, e fê-lo quase sempre na adversidade, dentro e fora de portas.
  • Este homem é grande de mais para caber neste écran; é grande de mais para caber na rede.

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