terça-feira

Portugal é um alho. A metáfora do homem-cato

  • A TEORIA DO HOMEM-CATO: O PORTUGAL QUE ALHA E PICAImage Hosted by ImageShack.us...
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O homem-cato diz que ele não se pode aproximar de ninguém. Senão aleija as pessoas de quem se aproxima. Magoa as pessoas de quem gosta. Não pode cumprimentar ninguém: é um espanta mulheres; é um espanta oportunidades; é um espanta-tudo. Faz-me lembrar um colega que tive na Faculdade que ingeria doses industriais de alho. Em pó, em cápsulas, cru, de todas as maneiras. Todo ele transpirava alho. Podia até chamar-se alho. Ele era o alho. A 100 metros já sabiámos que ele vinha lá. De modo que só nos restava pirar para cada canto a fim de evitar aquele bafo mortífero. Até porque não é nos jardins da Faculdade que a malta temperava os bifes de Perú e de Vaca. Hoje acho que também não é!! Esta bizarria passou-se a meio da década de 80. Há dias encontreio-o, e disse-me que ainda estava sózinho. Quer dizer, 20 anos volvidos, lamentava-se de ainda não ter casado. E confessava não encontrar qualquer explicação plausível para o facto. Eu, naturalmente, também não lhe a podia transmitir. Não queria ofender o alho. Até porque não tinha a certeza que essa solidão se justificasse com o alho... Mesmo 20 anos depois... Além de que o alho é muito saudável. Logo, que moral tinha eu de estar para alí a censurar o hálito nauseabundo a alho que saía por aquela boca, quer dizer, por aquela comporta. Um verdadeiro túnel de mau cheiro. Aquilo já não era um esgoto, era um emissário... Nunca consegui estar mais de 5 minutos perto desse colega. Talvez por isso ele me dissesse que quando reencontrava os ex-colegas era sempre tudo às mijinhas, às pressas. E assim nunca conseguia terminar as ideias e as conversas eram sempre todas pela metade. Isso iritava-o. E ao ficar irritado e nervoso activava ainda mais a corrente sanguínea que fazia disparar precocemente aquele mau cheiro que lhe saía pela boca fora. Irritava-se ele e todos aqueles para quem falava. Era, de facto, muito alho, muita irritação. No fim, era já um ventilador de mau cheiro e de irritação, tudo misturado como os resíduos no emissário alí da Guia que leva para o mar Alto as porcarias de Cascais e da Quinta da Marinha, naturalmente. Saí daquele reencontro, confesso, ao mesmo tempo feliz e triste por aquele colega: - Feliz - porque evitou chatices com o casamento, os filhos e o divórcio consequente. Ninguém nos garantiria que amanhã eram mais 3 ou 4 pessoas como ele a consumir e a gostar assim tanto de alho, com as consequências sociais que aquele pivete implicava; - Triste - porque tinha de falar com ele a alguns metros de distância. Por vezes não o ouvia. Mas ele aproxima-se sempre em demasia e à bruta, talvez já escaldado pela malta zarpar sempre antes dele concluir o que quer que fosse. O que agravava ainda mais o problema dos cheiros. E depois dizia: "eu não percebo estes tipos... Falo com eles, mas os gajos estão sempre a fugir". E depois rematava: "eu não sou polícia, pá"... Mas a minha teoria não era contar aqui a estória deste meu colega que tinha um hálito terrível. À parte isso, era (é) uma jóia de pessoa. Também, com tanto alho!!! O meu objectivo era sim demonstrar em poucas palavras que Portugal se converteu no homem-cato. Quando toca em alguém f.... tudo. E depois lembrei-me do Sócrates, depois do Soares e de mais uns quantos que agora aqui não fazem fila. Se calhar muitos deles até comem alho... Infelizmente, Portugal passou a encarnar nesse homem-cato. Ninguém investe cá, poucos nos procuram para fazer algo de válido. As empresas que cá estão só têm uma coisa em mente: pirarem-se. É a deslocalização e mãe dela que responde pelo nome de globalização. Estamos cada vez mais sózinhos e abandonados à nossa sorte. Estamos como aquele meu colega que de tanto alho comer, em vez de ficar mais saudável - como seria suposto - está cada vez mais só e deprimido. E diz não saber porquê... Também ele me fez lembrar o homem-cato. Ninguém se pode aproximar dele, ninguém lhe pode fazer uma festa, dar um afecto. Ou até partilhar um alho... Será que o engº Sócrates também é assim? É que últimamente ele tem-nos afastado muito dele, se é que alguém alguma vez esteve por perto... Em suma: é assim hoje que vejo o meu Portugal. Um país abandonado, só e a cheirar mal. E tal não se deve, certamente, só por causa do alho nem do mau hálito da economia e dos políticos. Devem existir "outros alhos" a desengrenar a máquina, ou a pôr areia na engrenagem. Quem sabe se não são alhos... Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
Eis o problema de Portugal:
Não conseguir conciliar a sua vida privada com a vida particular, embora por vezes consiga refugiar-se na sua vida pessoal.