Evocação de Mário Cesariny -
Nota prévia: Vale sempre a pena regressar ao pensamento surrealista de um cidadão excepcional, de Benfica, que deixou um traço indelével no mundo em que viveu.
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Homenagem a Cesariny no 10.º aniversário da sua morte
Lembra-te
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
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Para os Lábios que o Homem Faz
Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão
Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo
Olhos
a exigir
uma floresta
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão
Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo
Olhos
a exigir
uma floresta
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
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Um Grande Utensílio de Amor
um grande utensílio de amor
meia laranja de alegria
dez toneladas de suor
um minuto de geometria
quatro rimas sem coração
dois desastres sem novidade
um preto que vai para o sertão
um branco que vem à cidade
uma meia-tinta no sol
cinco dias de angústia no foro
o cigarro a descer o paiol
a trepanação do touro
mil bocas a ver e a contar
uma altura de fazer turismo
um arranha-céus a ripar
meia-quarta de cristianismo
uma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mão
uma Ibéria muito desgraçada
um Rossio de solidão
Mário Cesariny, in 'Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano
meia laranja de alegria
dez toneladas de suor
um minuto de geometria
quatro rimas sem coração
dois desastres sem novidade
um preto que vai para o sertão
um branco que vem à cidade
uma meia-tinta no sol
cinco dias de angústia no foro
o cigarro a descer o paiol
a trepanação do touro
mil bocas a ver e a contar
uma altura de fazer turismo
um arranha-céus a ripar
meia-quarta de cristianismo
uma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mão
uma Ibéria muito desgraçada
um Rossio de solidão
Mário Cesariny, in 'Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano
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Etiquetas: Evocação de Mário Cesariny
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