segunda-feira

O sistema político português vive a permanente tensão da vendeta. Evocação de Ismael kadaré




Há um dito - sistematizado por Ismael kadaré - que diz - "Se acompanhas um amigo e ele é morto diante de teus olhos, a vendeta recai sobre ti” (Kadaré, 2001). 

Hoje, 10 milhões de portugueses querem vingar quem permitiu a entrada da troika em Portugal e tudo fez para que essa porta da devassa se escancarasse entre nós a fim de nos colocar na infame posição da colónia pobre e escravizada por uns tipos feios, vestidos de fatos cinzentos que não passam duns mangas-de-alpaca, que têm uma missão específica: humilhar os portugueses e ditar ao governo (outro miserável) o que este deve fazer (fiscalmente) para que os portugueses empobreçam e sejam escravos de poderes estrangeiros para quem o XIX Governo (in)Constitucional trabalha. 

Como "acompanhantes forçados" desta tragédia - os 10 milhões de portugueses só pensam na forma de assumir essa missão e remover esse ente estranho e decapitar o seu agente interno. 

Nessa tarefa, chamo à colação este poema de B. - que pode descrever o que se está a passar hoje em Portugal, e que merece atenção urgente e uma reacção imediata pelos homens de bem em Portugal. Presumo que Diogo Freitas do Amaral é um desses homens, ainda que já se encontre reformado...


Eu hoje podia ser
Um distinto cavalheiro
Meu pai foi assassinado
Devido a não ter dinheiro
Eu para me ver vingado
Fiquei sendo cangaceiro

A trama da vingança em certo Abril despedaçado
Não foi tanto por instinto
Mas sim por uma vingança
Porque mataram meu pai
Minha única esperança
E eu vingar sua morte
Pra mim era uma herança.

Mais: o facto de, hoje, os portugueses não terem um projecto nacional distinto e autónomo da Europa, de África e da relação atlântica deve-se, em larga medida, à debilidade das suas elites, sempre economicamente teleguiadas pelas mega-corporações, mas também à obsessão da ideia de vendeta que nos impede de pensar Portugal que hoje está refém da luta privada de clãs que se confrontam entre dois mundos: o mundo político português que sobreviveu até Junho de 2011; e a destruição galopante do país e do empobrecimento constante e progressivo que o "passismo", medíocre, impreparado e barbaramente neoliberal, impôs intra-muros (respaldado pelo longo braço da troika). 

Ontem uma amiga, por acaso artista, falou-me de kadaré. Esta reflexão, que é miserável pelo seu objecto e, proventura, pelo hiper-realismo dos comportamentos políticos que encerra, vai ao encontro dessa fundada evocação. Desconheço se foi deliberada, se resultou dum mero "acto falhado".



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