segunda-feira

Redes sociais: um bom tema de reflexão para os exames nacionais na transição do secundário para a universidade

Durante anos a televisão foi o principal veículo de comunicação social essencial à democracia, de certo modo ainda o é. Não por obsessão, mas porque ocupa um lugar essencial na teoria da comunicação no contexto de uma democracia de massas. Como não é possível que tudo mude de um momento para o outro não devemos, só por modismo fútil, dizer que a tv perdeu o seu primado, contudo outras fontes e formas de comunicação roubaram espaço aquele veículo, e é com base nessas estruturas emergentes que as pessoas, as organizações e os espaços se ligam uns aos outros. Eis o domínio das redes sociais, porventura um espaço de análise e de reflexão que informará os exames ao nível nacional dos jovens que fazem a transição do secundário para o ensino universitário.
É hoje por via desses canais, de que o Facebook é um dos expoentes, que muitas pessoas criam as suas identidades, fazem "amigos", desenvolvem relações económicas, de conhecimento, de tipo religioso ou meramente de estatuto. Algumas pessoas actuam nessas redes de modo compulsivo, para engrandecer o seu ego, para queimar a cinza dos dias e a solidão. Sendo certo que na grande maioria dessas ligações sobra muito pouco de duradoiro entre as pessoas, apesar da ilusão com que as pessoas partem para essas pequenas aventuras virtuais que, por vezes, terminam actos criminosos ou mesmo em tragédia que ceifam a vida a muitas pessoas.
No entanto, e porque a relação da sociedade deve ser (saudavelmente) restabelecida com a teoria da comunicação - que dinamiza as relações entre pessoas, organizações e espaços seria útil por os jovens, já com alguma massa crítica, a reflectir sobre a forma como se produz e desenvolve a comunicação nos nossos dias e aferir como essas derivas valorizam o conhecimento, a estrutura familiar, socioprofissional e todo um campo de actuação que interfere nas relações do homem com o seu semelhante.
Não podemos esquecer que todos nós recebemos hoje mensagens comerciais, políticas, que procuram influenciar a nossa conduta e comportamento na polís, o que impõe uma reflexão teórica sobre as ligações não reconhecidas entre o político, o económico e o social. Dimensões que implicam um certo tipo de Estado e democracia, sistema económico e um determinado tipo de sociedade.
Assim sendo, seria da maior utilidade que os docentes deste país organizassem o sistema de perguntas para levar os jovens a equacionar todas essas questões essenciais para a política, a economia e a sociedade. No fundo, reflectir sobre esses temas é também reorganizar o mapa de expectativas que irá condicionar o modelo de relações humanas que queremos contruir para o futuro colectivo.
Sobretudo numa fase em que a comunicação é um elemento essencial nas nossas vidas, talvez a questão teórica crucial para a própria democracia. E se essa reflexão - na transição do secundário para o ensino universitário - conseguir equacionar essa desproporção existente entre a legitimidade que sempre envolveu a política, a cultura e a ciência de par com a fragilidade que sempre envolveu a legitimidade da comunicação - talvez conseguíssemos preparar mais e melhor os nossos jovens, decisores de amanhã, para os principais desafios que se colocam, precisamente, àquelas três esferas: a política, a economia e a sociedade.
De resto, ainda não sabemos bem que tipo de progresso estamos construindo. E para que servem tantas tecnologias de comunicação. E qual a relação entre as necessidades de comunicação dos homens e das sociedades no quadro desta explosão de tecnologias. Será, em rigor, que precisamos assim tanto de comunicar?!
Hoje, é quase impossível ter uma democracia social e política competitiva sem uma eficiente teoria da comunicação, o que exige uma eficiente integração do grande número das massas que hoje andam por aí perdidas, de rede em rede buscando um ponto de apoio, uma razão para existir... supondo que são as redes os veículos da sua salvação quando, em inúmeros casos, representam antes factores de aprisionamento pessoal e colectivo.

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