Negócios de família na TVI via família Moniz
Pais do Amaral apelidou José Eduardo Moniz de desleal e acusou-o de usar a TVI para derrubar Governo de Santana Lopes. DN
Miguel Pais do Amaral apelidou ontem José Eduardo Moniz de "desleal", e acusou-o de ter usado a informação da TVI para derrubar o Governo de Santana Lopes. Em declarações aos jornalistas, depois de ouvido na Comissão Parlamentar de Ética, o ex-presidente da Media Capital confessou que ele próprio pugnou para que Manuela Moura Guedes fosse afastada de pivô dos telejornais, adiantando que falou com o Governo antes de vender à Prisa a sua participação na empresa proprietária da TVI.
Depois de José Eduardo Moniz, naquela mesma comissão, a 9 de Março, ter acusado José Sócrates de tentar intervir na informação da estação enquanto ainda era ministro do Ambiente, contando com o apoio do então presidente do grupo, Miguel Pais do Amaral, este, ontem, garantiu que foi o então director-geral da estação quem se afastou de uma linha de isenção e de credibilidade, ao ponto de o considerar "desleal".
"Houve efectivamente um período em que a TVI tomou um conjunto de posições que se desviaram da linha de isenção e de credibilidade que eram apanágio da estação", referiu, sublinhando que isso aconteceu "durante o Governo de Santana Lopes", tendo "a TVI funcionado como plataforma para derrube desse Governo".
Pais do Amaral adiantou que, nessa altura, teve "várias vezes de chamar a atenção do director-geral e director de informação, dizendo- -lhe que uma televisão não existe para derrubar governos, existe para informar o público". O ex-presidente da Media Capital salientou ainda que Manuela Moura Guedes não tinha perfil para ser o rosto de uma informação credível.
Entretanto, o ex-diretor geral da TVI desvalorizou as acusações de Pais do Amaral: "Não me interessa para nada o que diz essa pessoa, que, por sinal, mal conhecia uma televisão que foi propriedade sua", disse à Lusa José Eduardo Moniz.
Obs: A deslealdade do sr. Eduardo Moniz é típicamente um subproduto nacional, traduzido no conhecido adágio de cuspir no prato onde come. Moniz, enquanto director-geral da estação da TVI tinha, de facto, um poder desproporcional para a sua função, e talvez isso decorra do alheamento do accionista maioritário - e dos accionistas em geral - que ao não conhecerem a fundo o seu core business ficam depois de mãos atadas perante o expert Moniz. O qual quis manter a todo o transe a sua dama como pivoto da estação, facto que só contribuiu para afundar mais a credibilidade da tvi em resultado da má informação promovida que pode ser tipificada como jornalismo pitbull. Até os próprios jornalistas da tvi o reconheceram. É o que dá misturar a família com os negócios, outra coisa também típicamente nacional. Mais do que desconfiar dos políticos que Portugal tem, devemos todos ser cada vez mais exigentes com a qualidade e isenção dos jornalistas que temos e da sua produção de informação, pois deles hoje se espera tudo, até a corrupção moral da democracia representativa em nome de interesses pessoais, financeiros, corporativos e familiares. E a desgraça maior é que, no final desse ciclo, constata-se que este tipo crime moral e venal que corroi os fundamentos do Estado de direito e escavaca a democracia é promovido, pois há sempre um grupo empresarial da concorrência predisposto a pagar mais pela contratação da vedeta que depois vai reproduzir a mesma incompetência e ventilar as mesmas intrigas e ódios - que acabam por envenenar o ambiente político que é ainda muito paroquial em Portugal - numa organização congénere e sob o chapéu do mesmo país e com os mesmos otários a consumir e a pagar essa (des)informação. Moniz é, pois, a ilustração prática de que a deslealdade colhe em Portugal e que, ainda por cima, é acariciada e promovida pelos grupos empresariais concorrentes. Contudo, saliento um aspecto que me parece relevante, e se prende com a forma como Moniz trata o seu ex-patrão, muito distinta da forma como os congéneres responsáveis dos media tratam Francisco Pinto Balsemão. E esta falta de autoridade - talvez seja (mais) uma falha de Pais do Amaral agora impossível de reparar.
Etiquetas: deslealdade, jornalismo pitbull, Moniz, Pais do Amaral, sacanagem, TVI
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