O jornalismo medíocre e a mentira em política
O asceta, o amante e o cão têm pontos de vista diferentes sobre o corpo de uma mulher: para o asceta é um cadáver; para o amante uma amante; para o cão um bom pedaço.
La Traité de la Vertu de la Grande Sagesse.
Lembro-me do que Paulo portas fez, então director do Indy, aos pais do engº Macário Correia, na altura ministro do Ambiente de um governo Cavaco Silva. Sujeitaram-nos à maior das humilhações públicas. Foi uma coisa vil e canalha, algo inominado, que o jornalismo de sarjeta do então Portas, hoje chefe do cds, fez aquele casal humilde que não merecia tamanha maldade. Já não me recordo se os canalhas de serviço que então assinaram a peça pediram desculpa aos visados. Mas mesmo que o tenham feito, a maldade e a invasão de privacidade foi tanta e tamanha que nenhum pedido de desculpa remediaria aquela vilanagem disfarçada de jornalismo político. O mal já estava feito com o país a assistir em directo aquela invasão de privacidade. Mas foi essa a escola de jornalismo "pulhítico" que Portas e sus muchachos, alguns vermis que ainda andam por aí, deixaram no Portugal contemporâneo, que transitou do séc. XX para o XXI nesta dobra do milénio - em que o jornalismo ainda não teve nem a coragem nem a capacidade de se reinventar e melhorar - para bem de todos nós, para uma opinião pública mais esclarecida e ilustrada. Mais recentemente temos assistido a formas emergentes desse jornalismo pitbull ou de sarjeta, seja no caso Freeport, seja no maquiavélico plano de controlo da comunicação social por parte do PM em funções. Sem que isto o deixe completamente à vontade no processo que rodeou a sua licenciatura e que os portugueses já perceberam ter havido alí trapalhada, mas, em rigor, quando votamos nas eleições legislativas também não estamos a eleger o licenciado Sócrates da UnI, mas o político que reune (ou não) qualidades para modernizar e reformar o país. Essa, pelo menos, tem sido a vontade dos cidadãos eleitores portugueses que, creio, ainda votam em liberdade, apesar do jornalismo de sarjeta do casal moniz. Dito isto, o país é agora confrontado com a defesa que Moniz faz da sua dama. Trabalhavam na mesma empresa, gostam um do outro, portanto, é natural que o mais forte defenda o elo mais fraco desta cadeia de cumplicidades do star-system nacional - que converteu a política numa companhia de teatro e as supostas notícias e factos do país numa cena de faca & alguidar. Pois era isto, em rigor, o trabalhinho que a dona Guedes se encarregava de fazer todas as 6feiras, temperando a tarefa com uma tonelada pestilenta de ódio ao PM, ao governo e às pessoas que o casal moniz, por uma razão ou outra, destestava.
Ontem no Parlamento, Moniz lá fez o frete à sua dama e reiterou a ideia que Sócrates queria comprar a TVi via PT. Mas o seu patrão, os espanhóis e milhares de portugueses que viam 5 segundos do jornal de 6feira acreditam mais na perseguição mediática de Moura guedes do que nessa operação de aquisição empresarial através da PT. Crespo, numa atitude de pornografia política típica dele, compôs o ramalhete para ajudar a fazer cair o PM via Belém, mas o mais lúcido e o ex-ministro das Finanças, Medina Carreira, que é, apesar de tudo um homem culto, não foi na lenga-lenga de ser fazer passar por mais uma vítima do vilão Sócrates. I.é, Medina não se deixou corromper por Crespo e guedes, foi mais inteligente. Mas Moniz lá defendeu o seu pastel em homenagem ao seu casamento, quiça ao seu amor eterno e a mais coisas que a minha educação me impede de referir a fim de tentar convencer a plebe, animada por pão e circo, de que o PM é um ser do outro mundo e a sua dama uma virgem que ainda cheira a rosas. É óbvio que ninguém acredita nesta farsa. E em matéria de pressões devemos dizer que não há poder político legítimo no pós-25 de Abril que não as faça, e ontem o país ficou a saber que o ex-boxeur e ex-ministro da propaganda de Durão barroso, Morais sarmentes, exigiu a demissão de três directores de jornais por discordar de alguns aspectos em matéria de política de comunicação. Granadeiro, ao que parece, não foi na pressão e mandou sarmentes às malvas e demitiu-se. E fez muito bem. Só os homens livres se podem dar ao luxo destas condutas, evitando o rebanho em que muito Portugal já se converteu, e é pena. Ou seja, o que aqui procuramos enfatisar não é que Sócrates é o bom da fita e o casal moniz os maus, mas que neste mundo de relatividade, cada um não só vê as coisas à sua maneira, mas pretende ainda convencer o outro da sua tese, e quando assim é a palavra muda inteiramente de sentido. Ninguém se deve iludir, pois em histórias de identidade quase nunca se revela um sentido único para as coisas, e aí é a própria ambiguidade que reina, e, não raro, é com base na insídia e na má fé que se tecem muitas afirmações que hoje colonizam o espaço mediático nacional. O leitor é sempre o verdadeiro autor da história e de acordo com os óculos que usa, pode ler aí a ignorância crassa de si, por vezes levada ao absurdo. A dado momento, é ele que se encontra com esses jogos de espelhos. Quantas vezes nós próprios temos um carácter ilusório quando nos miramos ao espelho: vemo-nos de uma certa maneira, com uma espessura mas, na verdade, não é assim que os outros nos vêem. E quando algumas pessoas mais inseguras chegam a esta simples e comezinha explicação fornecida pelo B-A-Bá da psicologia - tendem a suicidar-se publicamente. E como não nos podemos olhar no reflexo da água a correr, ficamos reféns daquelas imagens estáticas que certas pessoas fazem de si próprias. E isto é terrível. Tanto mais quando o espelho começa por se declarar através duma cara menina e moça e acaba, por fim, por reflectir a cara duma velha. Por vezes a magia dos espelhos são coisas terríveis que pesam toneladas de realismo. E isto também tem - e deve - ser dito e meditado em nome duma certa verdade em política, em nome duma certa verdade no jornalismo em Portugal que tem andado pelas ruas da amargura, apesar de ainda termos entre nós bons profissionais no sector.
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