sábado

Autenticidade da democracia representativa

Um dos problemas que hoje se coloca aos portugueses é o de crer na autenticidade dos seus dirigentes políticos, logo na autenticidade da democracia. À parte posicionamentos politico-partidários que o eleitorado identifica em Cavaco e em Sócrates, provenientes de duas famílias políticas diferentes, os portugueses, mormente em momentos de profunda crise social e económica, perguntam-se se podem ser imparciais nos seus interesses, nas suas paixões, nos seus preconceitos ou pressuposições quando discutem um determinado problema, e se podem replicar e projectar essa busca de imparcialidade nos dirigentes políticos que temos à frente do destino do país.
Ou seja, aquilo que os portugueses hoje mais se perguntam é, após ouvir as mensagens de Ano Novo do PM e do PR, se podem escapar à escravidão dos seus interesses, paixões, preconceitos, etc... E se podem perspectivar essa putativa imparcialidade nos próprios dirigentes políticos que nos representam...
Ouvindo o PM e o PR, além do políticamente correcto e dos rituais democráticos do costume, os portugueses não ficam com grandes certezas relativamente ao futuro do país, e que esse mesmo futuro, a ter alterações elas decorrerão mais da conjuntura internacional do que das políticas públicas nacionais.
O sociólogo Max Weber terá dito que a democracia representativa é boa do ponto de vista da racionalidade instrumental, já que se pode esperar que induza nos média boas decisões, e da racionalidade axiológica, já que ela confere a todos uma igual dignidade moral.

Mas no plano efectivo dos resultados no curto e médio prazos, os portugueses jamais poderão ajuizar, dado o comprometimento de cada um daqueles players em querer manter o seu poder (Cavaco e Sócrates), que discurso tem maior correlação com a realidade e com a verdade e a construção dum futuro mais promissor para os portugueses.

É certo e sabido que Cavaco é um actor político, apesar de dar uma imagem de técnico da política, mas cujo fito é fazer-se reeleger para um segundo mandato em Belém; e também é sabido que Sócrates quer governar não obstante os obsctáculos da oposição e do escasso espaço de manobra para inverter os resultados sociais, leia-se desemprego e défice.

E com tanta "representação" política, com tanta máscara pública dissolvida em cada um daqueles discursos de Ano Novo, como em todos os discursos que não passam de sistemas intelectuais de justificação, como diria Vilfredo Pareto, os portugueses olham para a democracia portuguesa e percebem que também ela está comatosa, a sofrer os abalos da crise económica, da falta de liderança e de condução da vida pública do país, e mais do que de crises políticas (conjunturais) Portugal padece hoje de um mal maior: a crise da política, porque estrutural, remetendo-nos para uma ausência de um modelo de desenvolvimento e de modernização que tire Portugal e os portugueses do atoleiro em que nos encontramos.

Ou seja, a crise é também de confiança nas pessoas e nas instituições. Mais do que política, a crise é ética e moral. Neste caso, pergunto-me para quê aquelas mensagens de Ano Novo, e a conclusão a que chego é que elas só têm lugar na medida em que quer Cavaco quer Sócrates gostam muito dos portugueses, de bolo-rei e de champagne..