sábado

Jaime Lerner foi ao São Luís e António Costa apresentou a Carta Estratégica de Lisboa 2010-2024. Evocação de Camões no São Luís

Jaime Lerner é arquitecto e urbanista e ex-Prefeito de Curitiba e consultor das Nações Unidas para Assuntos Urbanos; António Costa é o edil da capital de Portugal e tem um vasto currículo político, ontem encontraram-se no teatro São Luís, em Lisboa, para trocarem experiências acerca do melhor modo de pensar, conceber e desenvolver políticas públicas para a cidade. Montado o Comissariado que tratou dos temas no plano sociológico e urbanístico (com base nos eixos como recuperar a população, tornar Lisboa uma cidade ambientalmente sustentável, como tornar a capital numa cidade amigável e inclusiva, como transformar Lisboa numa cidade inovadora e criativa, como afirmar a identidade de Lisboa num mundo globalizado e como criar um modelo de governo eficiente e participado) - o resultado foi animador e prenuncia planos interessantes para Lisboa nas próximas décadas.
Regressaremos ao assunto, todavia gostaríamos de deixar aqui uma pequena reflexão acerca do Urbanismo como um modo de vida no mundo contemporâneo.
Essa concepção de urbanismo preocupa-se menos com a diferenciação interna das cidades do que com o urbanismo como forma de existência social. Ou seja, o grau em que podemos considerar o mundo contemporâneo como "urbano", na linha de Wirth não depende inteiramente da proporção da população total que vive nas cidades. A influência que as cidades exercem sobre a vida social humana é maior do que o rácio da população urbana indica, dado que a cidade é não só o local de habitação e de trabalho do homem moderno, como constitui o centro de fomento e de controlo da vida económica, política e cultural que levou as comunidades mais remotas do mundo para a sua órbita e transformou num cosmos lugares, pessoas e actividades diversas.
António Costa ao eleger este método de fazer política de cidade - desencadeando um processo assente num comissário geral que coordenou comissários sectoriais - cada um tratando de um eixo infra-estruturante para a vida da cidade nas próximas décadas (depois interligando todos esses eixos) - revelou saber fazer política urbana, apoiando-se na Prospectiva - que recorre ao planeamento e à ciência da concepção de futuros desejáveis para identificar a racionalização dos meios reais para chegar a resultados eficientes e resolver os problemas da polis.
No fundo, António Costa sabe que para iluminar a acção presente à luz dos futuros possíveis - teve de escolher aqueles que melhor pensam a vida na cidade no quadro das sociedades modernas em que nos movemos, e que isso só faz sentido se as políticas públicas urbanas tiverem um desenho antecipado que compreenda a mudança - em resultado das mutações tecnológicas e sociais, mas também partilhe com as populações uma visão de longo prazo que reforce a melhoria das condições de vida de todos nós.
Em rigor, António Costa - que é um político complexo - percebeu que quanto mais depressa se roda, mais longe devem alcançar os faróis, e que a inércia das estruturas de decisão e os comportamentos mandam que se semeie hoje para colher amanhã.
É isso que está sendo feito para (e por) Lisboa, até porque quanto mais uma árvore demora a crescer, menos se deve esperar para a plantar.
E o mais curioso em todo este processo de tomada de decisão política na capital é que o mesmo teve o alto patrocínio de Luís Vaz de Camões, já que no topo do teatro São Luís há uma frase do nosso maior poeta de sempre que diz, tão somente o seguinte:
FAZEI MAIS O QUE SOUBERDES.
Nota: Uma chamada de atenção para um pequeno grande pormenor notado pelo Objectiva3 - de Cristina Garcia - relativamente à boa utilização do Parque Bossa Nova, no Leblon - um Projecto de Jaime Lerner.

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