terça-feira

Turquia não reúne condições para aderir à UE, diz António Vitorino

Turquia não reúne condições para aderir à UE, diz António Vitorino
António Vitorino, antigo comissário europeu, prevê que pode durar mais 10 ou 15 anos a adesão da Turquia à União Europeia. O socialista considera que o país ainda não tem condições para integrar a UE.
António Vitorino considera que a Tirquia só terá condições de integrar a UE daqui a 10 ou 15 anos.
O socialista e antigo comissário europeu, António Vitorino, considera que a Turquia ainda não reúne as condições necessárias para integrar a UE.
«A Turquia tem um longo caminho a percorrer até reunir as condições de poder ser admitida na UE», diz António Vitorino, antevendo «que isso ocorra entre dez a 15 anos».
No entanto, «depende das reformas que forem introduzidas na Turquia», refere o antigo comissário europeu.
António Vitorino diz que a Turquia ainda não reúne as condições para fazer parte da UE, mas a adesão é defendida por Portugal, sendo essa a ideia que Cavaco Silva tem estado a transmitir na sua visita ao país.
Obs: Por um lado o PR, Cavaco Silva, faz bem em fazer-se acompanhar duma delegação de empresários do vinho (e não só) à Túrquia, abre a porta a inúmeros negócios, potencia as exportações nacionais e contribui para a viabilização económica nacional. É legítimo e saudável que faça esta diplomacia económica, como diria esse "peixe de águas profundas" (Mário Soares dixit) que é Jaime Gama.
Mas, por outro lado, Cavaco - e os seus assessores de Belém, faz mal em prometer à Túrquia um mar de facilidades no que concerne à sua aparente e fácil adesão à UE. As razões são múltiplas e vão da religião, à ética e a uma forma de ser e estar que ainda não é plenamente consonante com os ideais das democracias pluralistas do Ocidente. Apesar da Túrquia ter uma dimensão económica interessante, com cerca de 70 milhões de pessoas (mais do que a população de Espanha e de Portugal juntos), uma população jovem, consumidora, e o país é um pólo de interesse estratégico como potência regional que valorizaria a segurança na área contribuindo para a estabilidade e o desenvolvimento do continente europeu.
Já para não falar no seu dinamismo demográfico, a liberalização do seu imenso mercado e na sua relação económica com a UE - em que cerca de metade das suas exportações se dirigem para a UE e os mercados comunitários. E é, note-se, membro da NATO.
Portanto, teóricamente a Túrquia é um país com um imenso mercado apetecível, e foi isso que Cavaco, em parte, sublinhou, mas talvez tenha vendido demasiadas facilidades quando dissertou na Universidade do Bósforo sobre a possibilidade do país - com uma perna no Ocidente e outra no Oriente - poder integrar a UE a breve prazo. Portugal, levou quase uma década desde o início das negociações até à sua efectiva adesão - com a assinatura no Mosteiro dos Jerónimos, com Soares a assinar a adesão, seguida da Espanha.
Aqui o que me surpreende não é a vontade de Cavaco ajudar o empresariado nacional a exportar mais e melhor, mas a vender uma ilusão à Túrquia a troco dumas exportações nacionais, nesse sentido ele incorre nos defeitos que acusa nos partidos - ao prometerem aquilo que sabem não poder cumprir, pelo menos com aquele grau de certeza ou previsibilidade com que dissertou na referida universidade.
Cavaco já deveria saber, e se não sabe deveria pedir conselho avisado a Joaquim Aguiar, o príncipe dos analistas políticos em Portugal, sobretudo quando não está obsecado com Sócrates, que a ilusão é um factor gerador de crises políticas na medida em que corrompe as visões do futuro.
Ainda que no caso de Cavaco a ilusão, que aqui está envolta num manto de bondade para potenciar as exportações nacionais e permitir a Portugal diversificar os seus mercados de exportação, é involuntária ou inconsciente.
Por vezes, pergunto-me se Cavaco toma as decisões certas ou é apenas um problema de assessorias políticas.
Não sei, como diz António Vitorino, se a Túrquia demorará uma década para entrar na UE, o que sei é que as palavras de Cavaco foram pouco prudentes, sobretudo tratando-se duma expectativa demasiado elevada que pode não cumprir-se a breve ou mesmo a médio prazo.
Bem prega Frei Tomás...