quinta-feira

Mulheres & Power

Milhões de mulheres russas amaram Lenine e Estaline, assim como as italianas adoraram Mussolini, as alemãs enamoraram-se por Adolfo Hitler e, já num contexto democrático, Marlyn Monroe e milhões doutras mulheres norte-americanas se apaixonaram por Roosevelt e depois por Kennedy. Todas elas amavam o chefe, embora as mulheres - por serem mulheres - lhes acrescentassem um plus erótico a essa relação na ligação estreita com o poder.

É a sociedade política, a proximidade do poder, a integração no gabinete do desejo, tudo isso as transforma e transfigura naquilo que seria, à partida, numa relação profissional normal, mas converte-se rapidamente numa relação transfigurada de amor pessoal ao chefe. É óbvio que não vou aqui dar exemplos do nosso aqui e agora, sob pena de esvoaçar para outras paragens, e isso não seria conveniente.

Mas isso revela algo em relação ao poder que nos deveria interessar a todos. Até porque para que exista amor é preciso que o amante faça germinar um campo de possibilidades latentes ou reprimidas no nosso ser. Isto é o que diz a psicologia barata que todos nós já conhecemos. Mas tem de haver sempre algo de novo. Por exemplo: o que é que dá um homem qualquer a Marlyn Monroe, a Claudia Schiffer ou a Kim Bassinger - se lhes disser apenas que são belas? Isso já elas sabem.

E é aqui que entram essas duas variáveis - amor e um certo poder - algo que permita vislumbrar algo desejado e ainda não atingido. Algo que promete uma dilatação da experiência, e que pode ser a força, o sonho, a arte, o risco ou o Poder.

Recordo que Marlyn Monroe escolhe primeiro Joe Di Maggio, o desporto, depois atira-se a Arthur Miller, a cultura, e por fim passa a entrar pela "porta do cavalo" da Casa Branca para dar umas cambalhotas com o sedutor J.F. Kennedy, que era a personificação literal do poder e da sedução.

Também Cleópatra se tinha apaixonado por César.

Poderíamos agora começar a desfiar o novelo das casualidades nacionais, mas são tão feias, patéticas, mórbidas e desinteressantes que nem a oposição nos salvaria.

Ou melhor, seria ela quem nos afundaria.

Dedicada ao Alberoni, fonte de muito saber.