terça-feira

O PSD é uma peça de museu

O PSD é hoje um problema para si próprio, para a democracia e o sistema político e uma menos-valia para o poder em funções, porquanto não consegue estruturar propostas credíveis que sirvam de alternativa ao poder em funções. Deixou, pois, de ser competitivo.
Sem quadros, sem identidade, sem projecto, sem liderança e visão de futuro o PSD arrisca-se a implodir por falta de função no sistema político nacional. A actual direcção, para agravar o quadro clínico geral, é representado por uma pessoa que também não é uma pessoa deste tempo, que compreenda as dinâmicas actuais e para elas encontre as soluções mais competitivas e realistas em tempo real.
Os seus gestos, timings e formas de estruturação das decisões politico-partidárias são verdadeiramente medievais, daí o choque com a realidade do nosso tempo - que exige velocidade, comunicação e grande eficácia nos processos de tomada de decisão. Nesta conformidade, Ferreira leite só tem conduzido o PSD para uma situação desregulada que intensificou o desnorte e a crise estratégica, de orientação e de representação do partido na sociedade portuguesa.
De modo que o PSD tem vários problemas ao mesmo tempo. É como se fosse um gigante com pés-de-barro - sendo fustigado por milhões de problemas-anões que vão minando o seu dia-a-dia.
O exemplo da incapacidade de escolher um eficiente cabeça de lista às eleições europeias ilustra bem este problema civil do PSD. Tanto mais que a nossa época é uma época de criação de valor, ora desde que Ferreira leite foi empossada no Congresso de Guimarães, não tomou uma única medida com valor para o partido que fosse ao mesmo tempo valiosa para a sociedade portuguesa. Tudo nela é omissão, vazio, desespero, errático, mitigado com uma terrível falta de jeito e vocação para a política.
Consequentemente, a actual direcção do PSD representa a incapacidade congénita de produzir a mais leve decisão, é como se fosse uma fábrica de pregos, equipada com a devida maquinaria nas suas instalações, mas o sub-produto dessa unidade fabril - apenas consegue produzir pregos tortos.
Ora, fabricando pregos tortos e a alto custo (económico, social e político), o PSD arrisca-se a ser atirado borda-fora das opções socioeleitorais nas três eleições que se aproximam: europeias, legislativas e autárquicas. O que (pode) favorecer os partidos à esquerda do PS - que façam o chamado voto-castigo, o que radicaliza o discurso e a práxis política e instabiliza o sistema político português, inviabilizando a própria continuidade governativa.
O PSD deveria fazer um esforço pela sua re-qualificação política, sob pena de descer para níveis nunca vistos, para conseguir produzir decisões simples mas eficazes, como formar as listas às eleições europeias, dando aos clientes, i.é, aos eleitores e à sociedade, um campo de previsibilidade política aceitável. Tornando-se minimamente aceitável.
Não conseguindo atingir estes mínimos, o PSD passará a integrar a galeria dos pequenos partidos, mas com a agravante de ter a memória do poder. Vive da ilusão do poder do passado recente (2004, ao tempo de Durão cuja fuga detonou todo o processo de decadência do partido), mas deixou de ser um partido mobilizador da sociedade, com um projecto de modernização e portador de futuro.
A direcção Ferreira Leite é, objectivamente, a pior direcção que o PSD teve no pós-25 de Abril, só rivalizada pela gestão de Santana/Meneses, e um e outro têm contribuído para converter o PSD - não num produto político moderno, credível e vendável aos eleitores e à sociedade, mas numa peça de museu.