domingo

U2 e Marcelo de Sousa: a charla da semana

No Line On The Horizon é o novo trabalho dos U2. Fico sempre com a sensação que a capacidade para produzir aquelas melodias excepcionais de outros tempos já se esgotaram. Um pouco como as análises de Marcelo, com o tempo - em vez de melhorarem, só pioram. Oxalá me engane no caso dos U2, porque com Marcelo já não tenho esperanças nenhumas. Enquanto não temos acesso às surpresas da banda, ouçamos uma das boas-velhas.
The Ground Beneath Her Feet by U2 - OST.Million Dollar Hotel
Marcelo: o adivinho...

Marcelo hoje mostrou dúvidas na forma como o negócio da CGD/Fino foi feito. Comprando acções acima do preço de mercado e assumindo o risco da sua eventual depreciação, o que carece de explicações adicionais por parte da tutela, ou seja, pelo ministro das Finanças. Sobretudo num sector, como a banca, em que tudo deve ser escrutinado e realizado com transparência e rigor.

Para o comentarista - em jeito de balanço da acção do Governo, o ano de 2005-06 foi bom, o de 2007 mau, e o ano de 2008 - o ano da "salvação" por efeito da polarização da crise económica e financeira mundial (que erspaldará o Governo). Como pontos positivos fez o seguinte balanço: a reformas da Segurança Social, o equilíbrio das finanças públicas e o investimento nas energias renováveis e nas tecnologias da comunicação e o investimento na educação. Do lado do passivo, o analista enumerou a justiça, a saúde, a administração pública, além da descredibilização das instituições e da imagem dos políticos - como o contraponto daquelas reformas positivas. Por isso, os cidadãos têm hoje pouca confiança no Banco de Portugal, na saúde, na justiça, na banca, na PGR.

De resto, resta saber se a incapacidade de actuação e de regulação decorre duma insuficiência da acção do Governo, como no caso concreto do BdP, ou das reformas que esta importante instituição central de regulação deveria ter empreendido e nada fez no decurso da última década - a fim de se modernizar e prevenir as novas formas de criminalidade económica, como se constatou seja pelo escândalo do BPN seja pelas irregularidades cometidas pelo bcp do tempo do engº Jorge Jardim Gonçalves.

Aqui Vitor Constâncio, governador do BdP - não valerá a pena iludir o problema, não andou bem. Quando deveria ter sido pró-activo revelou-se laxista, quando deveria ter sido prudente e fiscalizador da acção das práticas contabilísticas de certos bancos - mostrou-se um sonolento administrador duma pesada instituição onde ele ganha rios de dinheiro por mês. No fundo, demonstrando que não merece o dinheiro que ganha. E aqui, se quisermos ser sérios, o cds de Portas não deixa de ter alguma razão quando imputa fortes responsabilidades directamente a Constâncio.

Não ver isto é tapar o sol com a peneira... Marcelo, neste quadro, deveria perceber - até porque é professor de direito, que as instituições têm autonomia para se modernizar a adaptar à sociedade, coisa que a orgânica do BdP não fez, por isso não está preparado funcionalmente para combater a nova criminalidade económica que hoje se pratica através de contabilidades criativas que são dificilmente detectáveis por um corpo de funcionários esclerosado utilizando métodos e procedimentos do tempo da "outra senhora". Marcelo deveria perceber este gap. Omitir isto não é sério. Além de que também fica por entender a forma como se negligenciou os relatórios realizados pelas várias consultoras que então chamavam a atenção para alguns irregularidades graves - a que Vitor Constâncio fechou os olhos.

Ora, quando Marcelo imputa responsabilidades ao Governo por estas falhas de regulação - não está a ser sério, apenas está a misturar alhos com bugalhos para fazer aquilo que hoje já começa a fazer curso em Portugal: a demagogia analítica - que concorre com a tradicional demagogia política que os actores políticos clássicos sempre praticaram, até mesmo Marcelo quando fez aquela aliança tão espúria quanto contra-natura com o cds de Portas, que o obrigou a sair pela porta pequena da política. Infelizmente, esta prática tem sido muito corrente no partido de Marcelo, o psd e, em particular, exercitado por Ferreira Leite - quando se cola aos sindicatos no âmbito dos problemas da Educação, ou no caso da greve dos camionistas ou até em matéria de segurança interna. Ferreira leite é, tem sido, um verdadeiro cata-vento. A formulação da política económica do psd é bem disso um triste exemplo, com Paulo Rangel a dizer que apoia os investimentos do PS num dia e a desdizer-se no day after. Tudo porque a srª Ferreira não sabe o que pensar, por isso vive ao sabor das vicissitudes dos dos conselheiros Pacheco e Borges.

Sopesando o deve e o haver, os aspectos positivos e os aspectos negativos da governação Sócrates, o balanço é francamente positivo, ainda que isso custe à análise de Marcelo. Que gostou muito do espectáculo que foi o Congresso do PS em Espinho. Marcelo deve ter pensado que a srª Ferreira no meio de tanta luz e cor se perdia e começaria logo a gritar pelo Pacheco...

Depois creio que também não fica bem a Marcelo fazer juízos de valor acerca de quem é melhor constitucionalista. Se Jorge Miranda, se Gomes Canotilho - colocando aqui Vital Moreira numa posição de secundarização, apenas porque ainda não fez a agregação e ainda não é catedrático. Confesso que estes critérios moralistas com que Marcelo coloca a qualidade das pessoas é, deveras, lamentável. Vale o que vale. Porventura, Marcelo não consegue esconder a sua inveja relativamente a Vital Moreira, que talvez saiba mais de Europa do que Marcelo e Jorge Miranda juntos. Que saõ, diga-se, demasiado formalistas na explicação da evolução da Europa comunitária. Por mim, prefiro as explicações de Vital Moreira acerca das dinâmicas comunitárias, de longe...

Mas, enfim, Marcelo quando já não sabe o que dizer, mete aquilo a que se chama as buchas-analíticas, e lá vai encontrando tabelas comparativas para avaliar e comparar pessoas de grande valor que não devem ser comparados da forma leviana com que Marcelo o faz. Isso só o desqualifica a ele, e também não qualifica os demais professores que citou (Miranda e Canotilho).

Por fim, como Marcelo tem dons de adivinho lá aventou a sua charla para referir como é que Sócrates irá desenvolver a sua campanha eleitoral: não falará da crise, apresentará medidas sociais, vitimiza-se no âmbito do caso Freeport... Ainda pensei que marcelo ia dizer que já conhecia a chave do Euromilhões em 2020.

Ao menos Marcelo ainda consegue identificar as medidas sociais que Sócrates procurará empreender a fim de prosseguir o esforço reformista do 1º mandato. Se, porventura, Marcelo tentasse aplicar a mesma adivinhação de bruxo analítico à srª Ferreira leite - pergunto-me o que ele teria para dizer??!!

E só me ocorrem baboseiras... Por isso, ainda bem que Marcelo não falou da srª Ferreira, líder do seu próprio partido.

PS: Já agora perguntamos daqui a Marcelo se ele tem à mão a chave do totoloto para 2011...