domingo

Líderes da União Europeia discutem crise em Bruxelas

Philippe Wojazer/Reuters. in Público Sarkozy ameaçou bater "com o punho na mesa" se o seu plano não fosse aprovado.
A disputa sobre o proteccionismo anunciada para a cimeira especial de líderes da União Europeia deste domingo em Bruxelas foi esvaziada in extremis depois de a Comissão Europeia ter dado luz verde ao plano francês de apoio ao sector automóvel.
Submetida nos últimos dias a uma enorme pressão de Paris para emitir antes da cimeira o seu veredicto sobre a conformidade da ajuda com o direito comunitário, a Comissão declarou-se “satisfeita com as garantias apresentadas pelas autoridades francesas sobre a ausência de cariz proteccionista no plano de ajuda ao sector automóvel”.
Esta decisão contribuirá de forma decisiva para desanuviar o ambiente de uma cimeira que foi convocada de emergência no início de Fevereiro para apagar os focos de tensão que surgiram nas últimas semanas entre os países mais antigos da UE e os novos Estados-membros do Leste em torno das respostas nacionais à crise económica e financeira.
O tema ameaçava tornar-se no prato forte da cimeira e agravar a tensão entre os dois blocos de países, tanto mais que Paris fez saber que o Presidente Nicolas Sarkozy bateria “com o punho na mesa”, se o seu plano não fosse aprovado até lá.
O diferendo sobre o proteccionismo parece assim afastado face à garantia da Comissão de que os franceses se comprometeram a que “as convenções de empréstimo [a concluir] com os construtores não contenham nenhuma condição sobre a localização das suas actividades ou o fornecimento prioritário junto de fornecedores instalados em França”.
Mesmo com esta polémica ultrapassada, não faltarão, no entanto, temas de contencioso para a reunião que, por ser “informal”, liberta os líderes dos constrangimentos habituais – incluindo o “controlo” dos diplomatas e a obrigação de emissão de conclusões oficiais. Isso deverá permitir uma animada discussão à porta fechada.
Os países de Leste não escondem a sua frustração pelo que consideram a falta de solidariedade dos parceiros ocidentais face ao risco que enfrentam de cessação de pagamentos devido à fuga maciça de capitais do seu território e queda abrupta das suas moedas.
Os líderes de nove dos dez membros do Leste (a excepção é a Eslovénia) deverão aliás preceder a cimeira da UE de uma reunião a sós, já em Bruxelas e a convite do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, para acertar estratégias para a discussão a Vinte e Sete que começa ao almoço.
Obs: Aqueles observadores e "politólogos de explanada" que imputam a Sócrates alguns dos problemas da Europa pelo facto de ter estado no Congresso de Espinho, devem ser os mesmos que agora - só por graça - lhe creditam esta boa decisão francesa de apoio ao sector automóvel com o beneplácito da Comissão Europeia. A nossa indústria automóvel terá de aprender com este exemplo francês...
Aqueles que pensam que a presença ou ausência de um Chefe de Estado numa Cimeira, só por si, irá alterar o curso da história são os mesmos que sabem tanto de política comunitária como o bispo de Setúbal de componentes electrónicos e eu de lagares de azeite.
São os novos politólogos de esplanada. Quanto mais os vejo mais dó me metem. E daqui decorre uma nova demagogia: a demagogia analítica. Também aqui o Marcelo já não anda sózinho...