sábado

As aparições da "coveira" da esperança. Por um novo paradigma político e social na regulação da globalidade

A economia mundial atravessa hoje uma instabilidade terrível. A única certeza é a própria incerteza. A Microsoft - que é quem é - vai despedir 1400 trabalhadores, não sei se é razão suficiente para a "chefe de divisão" da actual Direcção do PSD fazer mais uma aparição à porta da empresa, à semelhança do que fez na Quimonda - apenas para mostrar a sua solidariedade e carpir as suas lágrimas de corcodilo.
Mmas nesse instante não vimos a dita srª Leite sugerir uma única ideia ou proposta de solução para este tipo de problemas que atinge a economia, as empresas e anda ao sabor da volatilidade dos mercados, dos factores de produção, do sistema fiscal praticado em cada Estado, dos custos de contexto, do sistema de telecomunicações, da burocracia e de um sem número de factores que ajudam a fixar investimento numas nações e não noutras.
Como Ferreira leite nem de Economia sabe, ou o pouco que sabe aprendeu pelas velhas sebentas de Pedro Soares Martinez, que vegetam hoje no baú das teorias desactualizadas do séc. XX, quando abre a boca assusta a realidade e lança um chorrilho de banalidades que até enjoam aqueles alunos do 12º a preparar exames para o Ensino superior. Leite deveria investir um pouco e comprar uns livrinhos nas Fnacs ou na Amazon e procurar fazer um esforço para se actualizar e não dizer tanto disparate acerca do funcionamento da economia e dos mercados. Se ela fizer isso, talvez perceba as razões que conduziram ao enfraquecimento do político - sobre a economia e, por extensão, sobre o social, e do financeiro sobre o económico. Fica-lhe mal ela tentar culpar o PM por matérias que estão para lá dos seus poderes e competências, e o mesmo é válido para qualquer PM no mundo inteiro.
Como saímos daqui? Como evitamos que as deslocalizações das multinacionais estacionadas em países como Portugal - ocorram neste contexto de Globalização competitiva?
- Esta seria a grande interrogação que a srª Ferreira deveria colocar quando se "arma em Mário Nogueira do PSD" à porta das fábricas - em dificuldades - por causa da irracionalidade dos mercados e da volatilidade da economia internacional, hoje em recessão - implicando uma retracção forte no consumo que leva à diminuição das encomendas e, consequentemente, à redução das exportações que acaba por atingir os níveis de produtividade das empresas. As quais têm
de fazer ajustamentos no pessoal, nos equipamentos, na produção e mexer em toda a contabilidade da empresa - para "emagrecer" e salvar os postos de trabalho que for possível salvar, sob pena de irem todos ao fundo. O que seria pior.
Leite ainda não entendeu a necessidade de regular a globalização, o Pacheco, o tal que acha Obama um soundbyte, ainda não lhe falou nesse tema nem lhe facultou as fichas que pormenorizam esses aspectos e fazem essas articulações para ela ler em público. Quando isso ocorrer, Leite talvez tenha um discurso não só mais articulado como mais realista e consentâneo com o mundo em que vivemos. Até lá, sempre que aparece é um E.T. em busca de norte, um personagem à procura de sentido na vida, um actor desejando um guião que lhe sirva. Enfim, uma má representação. Logo, o Pacheco anda a falhar.
Leite terá de perceber que os problemas que o PM português enfrenta são os mesmos que os demais líderes da Europa, que também não conseguem estancar a hemorregia das empresas - que ou deslocalizam em busca de factores de produção mais competitivos, ou abrem falência.
E é aqui que emerge a necessidade de reconstruir o político em ordem a que ele assuma a dinâmica do desenvolvimento social, que tem faltado nos últimos anos pelas razões que Obama na América, Gordon Brown no RU - evocaram: a ganância de alguns senhores da economia especulativa, não geradora de emprego nem de riqueza, apenas de mais-valias - que arruinam a economia real.
Logo, o problema reside em saber reconstruir o político - sobre a gestão da economia - para fins sociais, de realização do bem comum, o que é uma coisa inteiramente diferente daquilo que vivemos hoje: a economia e a finança a determinarem os caminhos da política, isso é errado e anti-social.
Isto implica que o político seja ao mesmo tempo credível e responsável - qualidades que Ferreira leite já deve ter ouvido falar lá na Lapa, e depois munir-se de instituições sociais, económicas e políticas fortes capazes de fazer uma regulação da economia sem, por um lado, a asfixiar, por outro permirtir-lhe afirmar energias empreendedoras para criar produtos competitivos, bons mercados, bons empregos, bons salários e qualidade de vida para o maior número possível de pessoas numa sociedade, ante a impossibilidade da ideia keynesiana do pleno emprego. Hoje ainda mais distante.
Isto passa por uma reforma das instituições económicas e financeiras internacionais, converter o neoliberalismo reinante num socialismo e até numa social-democracia desenvolvimentista e personalista - virada para a economia do homem e da sociedade, e não para as mais-valias dos mercados e dos especuladores, daí a necessidade da REGULAÇÃO - mas que não mate o mercado, não mate a galinha dos ovos d' oiro.
Esta reconstrução do político só é possível em democracia, reinventando as instituições, criando outras, fazendo novas regras e normas que abram novas perspectivas de crescimento em todos os sectores da sociedade.
O Estado, tal como a sociedade, não se torna responsável com declarações-coveiras temperadas com lágrimas de crocodilo à boca das empresas em dificuldades.
Esse milagre passa pela razão política - que terá de passar a comandar a razão económica e financeira - que tem dominado a sociedade internacional nas últimas décadas.
O nosso mundinho hoje está confrontado com a necessidade dessas reconstruções de identidades - num modo que não conduza as sociedades ao proteccionismo nem as leve à universalidade que descamba em nada.
Pensar nesse estatuto que hoje queremos para a sociedade internacional e para a economia global é equacionar que tipo de instituições e normas queremos ter para criar os tais bons mercados, bons empregos, bons salários, mais certezas e menos angústias.
Não conseguir equacionar estas pequenas ideias é permitir que a hegemonia do sistema financeiro especulativo conquiste posições sobre um novo modelo de economia global mais personalista.
Não conseguir equacionar este novo paradigma político, social e económico é ficarmos escravos da ignorância atroz que leva uma senhora idosa à boca duma empresa debitar as enormidades típicas de quem não acompanhou a modernidade nem consegue pensar à luz dos novos padrões de funcionamento da economia global.
É por isso que cada cemitério tem sempre o seu coveiro/a. Em Portugal, a esta luz, os cemitérios para um certo psd tendem a transferir-se para a boca das empresas em dificuldades, talvez assim se obtenha a certeza de que vão todos ao fundo mais depressa. Eis a lógica e o esquema mental da srª Ferreira leite e da "direcção".
Para retormar o essencial: urge recuperar uma reflexão de Heideger - que além dum grande sacana - também foi um grande filósofo - quando defendia o seguinte:
  • O pensamento deve ser capaz de pensar contra si próprio. Logo, de dar a si mesmo os meios para derrubar as lógicas, a longo prazo destruidoras, que ele própio iniciou ou, pelo menos, avalizou.
Numa palavra: o neoliberalismo tem de ceder o passo a um liberalismo mais de rosto humano, e isso só se consegue com uma economia global reformada, mais e melhor regulada e menos especulativa para evitar as tais distorções no mercado, que acabam sempre por penalizar os elos mais frágeis da complexa engrenagem social própria a cada País.

Ou seja, a política tem de passar a comandar as regras do jogo, o que implica que a política é para os políticos, e as contas de mercearia são para as contabilistas da Morais Soares.