sábado

O grande teste político para Portugal em 2009 através de George Orwell - que evocamos -

As estratificações de classe, com as suas barreiras invisíveis mas omnipresentes e inultrapassáveis, envenenam muito mais a sociedade inglesa do que as do resto da Europa. Orwell foi sempre sensível a essa praga, hipersensiblidade essa resultante dos seus sofrimentos morais e psicológicos da sua juventude. Nutria um ódio apaixonado pela "boa sociedade" - a que, curiosamente, pertencia por nascimento e educação, mas na qual o pouco dinheiro da família o impedira de ocupar o seu lugar natural. Nunca perdeu essa raiva. No hospital, na última fase da sua doença, antes de morrer, ouviu um dia as vozes de alguns aristocratas de visita a um quarto vizinho e convocou a dose de energia para anotar no caderno o seguinte:
Que vozes! Estes risinhos a propósito de tudo e de nada deixam adivinhar gente bem nutrida de mais e estupidamente satisfeita consigo própria. E, acima de tudo, há essa espécie de obesidade e de riqueza, combinadas com uma graça fundamentalmente má - são pessoas, sentimo-lo por instinto mesmo sem as ver, que são inimigos espontâneos de tudo o que é inteligente, ou sensível ou belo. Não é de admirar que nos detestem tanto.
Trago este fragmento à colação - porventura já desactualizado na sua componente mais estética - para procurar demonstrar que o ano de 2009 será difícil em Portugal. Já é assim em toda a Europa..
Ou seja, Orwell dizia que pertencia à camada inferior do estrato superior da classe média, i.é, no estrato superior da classe média, à camada sem dinheiro.
O ano de 2009 - será um ano de teste em Portugal, e gostaria de acreditar que - a ser assim - muitos portugueses, o maior número possível, pudesse dizer o que Orwell referiu, mas com uma nuance cuja errata aqui deixamos:
Onde se lê: sem dinheiro, - deverá ler-se - com dinheiro.