quinta-feira

Jerónimo de Sousa foi à RTP debitar uma tonelada de lugares-comuns. Um déjá-vu

Jerónimo de Sousa foi à RTP dizer o que encontrou no Congresso do PCP no Campo Pequeno: um Louçã armado em toureiro - que precisava levar umas bandarilhas. Foi o que sucedeu, com Jerónimo a enfiá-las nas magras costas de Louçã. Só que os portugueses, com o devido respeito pela base social de apoio do PCP, antecipariam o conteúdo dessa entrevista: o Governo é um malandro, o capitalismo o inimigo a abater e, portanto, a luta continua com a revolução nas ruas e a Fenprof a servir essa agitação - tendo Mário Nogueira como chefe de banda.
Não há, portanto, muito a dizer no disco de vinil riscado de Jerónimo, igual às 300 entrevistas que ele já deu no passado - e convergente com as futuras 500 que ele irá dar no futuro. Nada de novo sob os céus.
A novidade, a existir, reside no ataque contundente dirigido ao BE para travar o seu crescimento e, se possível, integrar boa parte do seu eleitorado no PCP e, desse modo, crescer eleitoralmente, vq, ao centro e à direita essa tarefa revela-se impossível no espectro político em Portugal.
É óbvio que o capitalismo carece de regulação (e humanização através de maior equidade social - combatendo um fenómeno emergente em Portugal conhecido pelos "novos pobres"), o Estado não deve servir de almofada para todo e qualquer tipo de intervenção na banca, o expediente da nacionalização só deve ser aplicado em casos muito concretos, e atento o verdadeiro interesse público. O resto é a gosma comunista do costume.
Enfim, uma cartografia de lugares comuns, evocando os agricultores, os operários, os funcionários públicos e conexos que engrossam as quotas do PCP e o dinamizam nas ruas através das acções de agi-prop em que a fenprof tanto se especializou.
Confesso que gostaria de ver um PCP com uma liderança do séc. XXI - que, em tempos, Luís Sá chegou a representar, ainda que de forma incipiente. Infelizmente, morreu cedo, ceifado pelo destino sacana, facto que impediu uma certa ala do PCP de se renovar, modernizar e até de se democratizar - credibilizando-se em mais classes sociais no País. Se isso fosse conseguido hoje o PCP seria um partido menos revolucionário e mais reformista, menos protestativo e mais construtivo, dentro e fora do Parlamento, mormente no domínio autárquico onde até algumas coligações poderiam estabelecer-se. Até em Lisboa...
Mas o capital genético retrógrado do PCP impede-o de se revitalizar, como tal aquilo que Jerónimo nos deixou foi a velha manipulação cognitiva e de raciocínio circular de que o Governo, seja PS ou PSD, são uns malandros e o capitalismo é o velhaco da história, esquecendo-se Jerónimo que quer o socialismo e a social-democracia foram os verdadeiros motores de modernização das sociedades contemporâneas - geradores de produtividade, inovação e bem-estar. E em matéria de sistema capitalista, que se saiba, ainda não se encontrou sucedâneo. A não ser que se considere a economia planificada com os preços fixados administrativamente uma alterantiva...
Mas viram-se os resultados de 80 anos de comunismo no Centro e Leste europeu: gulags, purgas, assassínios em série e um modelo de sociedade quatro-mundista. Eis o legado do comunismo internacional.
Do comunismo só vieram maus exemplos, assim como maus exemplos são aqueles que o PCP, miseravelmente, hoje aponta como guias internacionais a seguir: Cuba de castro, Coreia do Norte de Kim Jong II, China e tutti quanti. Uma vergonha.
O PCP e a cultura política instituída - não desiste de reordenar a realidade à luz do velhinho PCP da Soeiro Pereira Gomes que os portugueses já conhecem bem. Mas hoje os projectos de sociedade só se constroem pela via reformista e não pela via revolucionária e protestativa - anti-sistémica que o PCP (de par com o BE) tão bem representam no sistema político em Portugal.
Nisso PCP e BE não se diferenciam, ou melhor, o PCP já recorre a esses expedientes há mais anos porque combateu o fascismo e tem a escola da clandestinidade imposta pelo salazarismo que o BE não tem. Mas se assim é nem sequer se compreende a crítica contundente que Jerónimo dirigiu a Louçã no Campo Pequeno, qual bandarilha...
Em rigor, eles são mais iguais do que diferentes, e é isso que irrita Jerónimo e o PCP (que buscam a diferença), além de não tolerar ver um BE novato a comer eleitorado ao velhinho PCP.
Numa palavra: diz o roto ao nú, porque não te vestes tu...

BEE GEES Staying' alive 1977