domingo

Cavaco e a verruga de Cromwell

Em reflexões abaixo já explicitámos algumas variáveis e correlações que justificam as condutas políticas atípicas que Cavaco está a tomar na lógica de resguardo e promoção do seu poder unipessoal, i.é, de PR - que está, consabidamente, acima dos partidos. Cavaco preocupa-se com ele próprio, teoria que também já conhecíamos, pois em política não há almoços grátis.
Mas o que dissémos abaixo não explica tudo aquilo que se encontra sob o sol, razão por é necessário apertar a malha analítica e sofisticar o campo de análise. O mesmo é dizer, enquadrar as combinações de acasos e de fixações - como se de pequenos cubos se tratasse - que ajudam a explicar a desordem que hoje campeia em Belém, mormente na cabeça de Cavaco e na sua obsessão com certos temas mais formais e marginais da cena pública nacional (e insular). Nem quero imaginar se se tratasse do Estatuto da Madeira - as barbariedades que Cavaco já teria ouvido da boca de Al berto da Madeira. Muito provavelmente, o Al berto reproduziria a gramática de Hugo Chavez, embora com sotaque madeirense, é claro!!! Enfim, seria um carnaval antecipado...
Mas regressemos à vaca fria: às relações de Cavaco com o Governo, que aqui subordinamos à teoria do caos, a fim de descobrir que nos sistemas complexos, como são as relações políticas, tudo desemboca na imprevisibilidade de uma desordem. Ou seja, à proclamada cooperação estratégica de Cavaco, à ordem, está a suceder-se uma conflitualidade estratégica -, ou seja, à desordem - que simbolizamos alí com aquelas verrugas - que denominamos de verrugas de Cromwell.
Essa imprevisibilidade ganhou foma definida a partir do momento em que Manuela Ferreira leite aparece na cena pública, i.é, a partir do Congresso do PSD, em Guimarães - com base no qual é eleita. Uma eleição pífia - que está na razão directa da qualidade e vocação política de Leite para o cargo que actualmente desempenha na Moviflor da Lapa.
Ora, é esse elemento estranho - que não servindo para criar valor político, económico e capital-social ao País - que Leite serve para envenenar as relações intitucionais entre Belém e S. Bento, e algumas adjacências insulares como o famoso e problemático Estatuto dos Açores. Que visa, aparentemente, limitar os poderes constitucionais de Belém (a partir duma Lei ordinária), que Cavaco diz não aceitar. Com base neste elemento estranho, que é manifestamente Ferreira leite, cria-se uma relação fractal nessa ordem política dissimulada entre Belém e S. Bento. Seria como se o bater de asas de Ferreira leite, dadas as suas insuficiências políticas, desencadeassem um tornado entre S. Bento e Belém, já que Cavaco é o criador da criatura, e como bom "pai" jamais poderia deixar (ou renegar) a sua criação ao deus dará. Ou só nas mãos de Pacheco, António Borges e Aguiar Branco...
É, pois, este apoio subterrâneo que Cavaco é obrigado (moral e psicológicamente) a dar a Leite que vai introduzir no sistema e no actual momento político - os tais elementos fractais, que são verrugas de pus político que podem explodir a qualquer momento. Até lá, a política nacional vai-se complexificando, problematizando em pequenas dispersões de matéria, de intriga política - formando estruturas desordenadas entre Cavaco e Sócrates que não aproveita Portugal e os portugueses.
No meio de ambos prostou-se Ferreira Leite - que encontra a sua raison d' être no envenamento das relações politico-institucionais em Portugal. O que prova que Ferreira leite não servindo para governar, serve para envenenar o ambiente político - que trilhava uma rota de normalidade até ao Congresso de Guimarães.
No fundo, o que está em jogo nem sequer é Ferreira leite, que sairá borda fora da política nacional já nas próximas eleições (se lá chegar!!), empurrada pelos seus mais próximos competidores, mas sim a memória que Cavaco procura dar de si agora que é PR - de um Cavaco que já foi PM.
Vejamos: Cavaco fez coisas positivas no Portugal das décadas de 80 e 90 do séc. XX (rede viária, aparecimento da classe média e da geração consumista do Hiper-Continente do Belmiro, privatização dos media), mas matou as elites emergentes, impediu que o pessoal político da geração de Pedro Passos Coelho assumisse maioridade política. O resultado está à vista: em lugar de se afirmarem novas gerações no PSD, é a "avozinha das Finanças" de Durão que veio manchar a cena pública nacional - pelos seus feitos de omissão política que até inibem os seus próprios correligionários de se pronunciarem sobre os problemas políticos nacionais. Como ministra das Finanças de Durão asfixiou o empresariado; como ministra da Educação do actual locatário de Belém destruíu a educação e escola em Portugal. Lurdes Rodrigues ao pé dela é uma santa...
Cavaco ao apoiar subterrâneamente Ferreira leite está a admitir, em rigor, que pretende recuperar - a partir de Belém - as suas funções de PM - ainda que através de agente interposto. E quem é ela?! Ferreira Leite. Portanto, Cavaco não aposta na renovação, mas no passadismo e na acumulação de defeitos que Ferreira Leite é, manifestamente, portadora. Seja em termos formais, seja em termos substanciais. Nada alí liga a srª a qualquer eleitorado. Nem aos pássaros de Castelo de Vida - que vôam de costas... Leite, como disse esta semana o escritor Baptista Bastos na folha do DN, é um frigorífico.
Em vez de Cavaco, subreptíciamente, investir em estruturas emergentes, ele fixa-se no passado e aposta em estruturas obsoletas, incapazes de gerar novidade e mudanças - vertidas, naturalmente, na estruturação de novas políticas públicas de que Ferreira Leite (mais o seu gurú - pacheco Pereira) é incapaz de equacionar, planear, executar.
Quando o País pensa num novo e necessário aeroporto internacional de Lisboa, Ferreira leite está a pensar nos caminhos-de-ferro - que já vêm do séc. XIX; quando o país equaciona os carros movidos a fontes de energia alternativa, Leite ainda pensa que os carros andam a postas de crude; quando o país - através das suas escolas investe na sociedade do conhecimento e na generalização da net aplicada a uma nova criação e manipulação do conhecimento - Ferreira leite - como Marcelo Rebelo - só sabe enviar faxs, ou então pede às secretárias que enviem mails. Um pouco como MacCain, nos EUA.
É tudo isto que a srª Ferreira leite representa, uma acumulação de pensos rápidos do passado que Cavaco hoje recupera (a partir de Belém) - ao patrocinar a liderança de Ferreira leite na "Moviflôr da Lapa". Cavaco está errado, os seus assessores também, e os portugueses não lhes perdoarão esta incursão pelo domínio de narrativas do passado que hoje já não têm lugar entre os portugueses, que mudaram de hábitos, de gostos e de motivações sociopoliticas.
Pede-se a Cavaco que do alto da sua cooperação estratégica apele a uma destruição criativa, na senda de Shumpeter, até para ajudar a introduzir valor na nossa economia, e cavaco faz exactamente o oposto: bloqueia, paralisa, veta - além de algum turismo religioso feito de discursos de circunstância - que nos fazem lembar os dircursos de Américo Tomás quando dizia: esta a é 1ª vez desde a última que cá estive.
Então, onde estão os contactos internacionais de Cavaco? Como é que ele tem apoiado a internacionalização da nossa economia? Ou capturado IDE? Terá fomentado o aparecimento do capital de risco para facilitar operações de internacionalização? O que faz Cavaco da experiência acumulada de 10 anos de PM? Cavaco, em rigor, tem feito discursos pífios, de circunstância - sem dimensão ou valor prático visível no incremento do valor da economia nacional. Hoje cavaco veta. E mais: anuncia que vai vetar. Se continua assim, ainda penso que estou vendo mais um filme de Woody Allen através da imensa tela de Belém...
Digamos que a rendibilidade política e económica de Cavaco tem apresentado um saldo deficitário, que está na relação directa da prestação de Ferreira leite - na vida pública. Portanto, aqui estão empatados: 0 a 0.
Numa palavra, Cavaco - desde o Congresso de Guimarães que entronizou Ferreira Leite na Moviflôr da Lapa - passou a estar politicamente alienado, perdeu a lucidez dos factos sociais com peso político. Não consegue discernir uma cobra dum cavalo de pau, um contabilista dum economista. E é isso que justifica que alguém com a sua experiência política - aposte na governanta da Moviflôr da Lapa (candidata a PM) - que manifesta uma terrível falta de vocação para a política, algo que até é confrangedor. B
astava olhar para os jovens que estavam a ver a srª discursar na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.
Estando alienado, apostando num "cavalo" à priori perdedor - Cavaco ficou cego politicamente. E como está cego politicamente ele já não consegue perceber que as verrugas no nariz de Cromwell representam coisas distintas, consoante a sua leitura seja feita pelo historiador, pelo químico, pelo biólogo ou até pelo economista.
Tudo isto até ao dia em que Cromwell decide consagrar uma quantia de dinheiro à extracção das suas próprias verrugas. E quando isso suceder, é óbvio que os reservatórios de pús que elas comportam irão projectar-se sobre aqueles que estão mais perto um do outro e, de certo modo, representam o Portugal das narrativas das décadas de 80/90 do séc. XX.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Chromeo - Fancy Footwork