sábado

Antonio variações - o corpo é que paga

António variações - o corpo é que paga ( semi-original )
Portugal mudou: já não é Cavaco que está em S. Bento nem Soares em Belém. Os portugueses hoje percebem as coisas mais cedo do que alguns políticos supõem, e ao percebê-las interiorizam opiniões que, gradualmente, se convertem em certezas - que têm consequências práticas no momento do voto.
Razão por que hoje - os agentes políticos em geral - perdem se fizerem os seus cálculos políticos unicamente em função das suas agendas pessoais ou timings, dos seus interesses privados e caprichos que, de facto, nenhuma relação têm com os efectivos interesses e problemas que hoje a generalidade dos portugueses enfrenta.
Ou seja, quando o Governo está centrado na resolução do problema do desemprego, do endividamento, da educação, da criminalidade e doutras políticas públicas de interesse vital para a melhoria de qualidade de vida dos portugueses - seria de bom tom que Belém - não se pusesse a discutir o sexo dos anjos.
O Governo, mais rápido ou mais lentamente - lá vai reformando o País, mas Belém - arrisca-se a não perceber se a sua preocupação - ou melhor - obsessão com a lógica dos poderes presidenciais questionado pelo Estaduto dos Açores - paralisa mais do que ajuda o Governo na óptica da tal cooperação estratégica - com base na qual Cavaco foi eleito (com os votinhos de muito eleitorado do PS).
Ainda não percebi se Cavaco olha hoje para Portugal com os olhos de S. Bento das décadas de 80 e 90 do séc. XX (aquando era PM) - ou se olha para Portugal com lentes tão mesquinhas quanto míopes, pois ao priorizar a questão do Estatuto dos Açores - relativamente às questões candentes do desemprego, da criminalidade, da saúde e da educação - revela uma visão ensimesmada do Portugal-profundo - do qual Cavaco se está a afastar.
Pergunte-se ao português-médio o que hoje verdadeiramente o preocupa no quotidiano e o que ele espera de Belém - para se perceber o ridículo e a fraqueza política que hoje emana do Palácio Rosa.
Percebendo-se isto, e conhecendo-se a dimensão perversa que Cavaco está a agora a emprestar as relações com o Governo (através da sua formulação cooperação-estratégica) - no intuito de coadjuvar a madrinha do António Preto, todos ficamos cientes dos verdadeiros intentos de Cavaco.
Intentos que nenhuma relação têm com o tão proclamado national interest.
Chego a pensar que Cavaco - depois de Belém - quer trilhar na senda de Guterres ou Durão Barroso (ONU e Comissão Europeia), farto de Portugal, como o Eça sistematizara no termo da sua obra-prima, Os Maias - o seu futuro parece estar abroad.
Mas duvido, no caso vertente, que alguém o queira... Por isso, quando a cabeça de Cavaco não tem juízo, o corpo é que paga, como diz a letra da música do genial António Variações - que como todos os génios - morreu incompreendido - por estar à frente do seu tempo.
No fundo, era essa a pequena evocação e singela homenagem que aqui prestamos ao cantor António Variações, que só passei a apreciar após a sua morte.