quinta-feira

Sócrates e Ferreira Leite: o dia e a noite. Um paralelo e um fosso abissal

Nenhum animal consegue voar se só tiver uma asa. Formas talentosas de liderança só ocorrem quando se juntam a cabeça e o coração, o sentimento e o pensamento. São as duas asas que tornam possível ao líder voar, i.é, ter um projecto que direccione o País para um patamar de desenvolvimento superior.
Ora, em Portugal, por exemplo, todos sabemos que o nosso empresariado é fraco e muito subsídio dependente - além de pouco competitivo além-fronteiras, a sociedade funciona mal e é desorganizada, os políticos - só alguns têm uma boa formação técnica, cultural e política - que coadjuve nos questões da governação. A multidão de leis também não significam boas leis - que depois ou não são aplicadas ou ficam por cumprir e/ou fiscalizar.
Temos também desemprego, elevado endividamento das famílias - que continuam nessa senda e uma distribuição desigual da riqueza gerando, com isso, injustiças sociais entre ricos, classe média e pobres. E agora até já se fala nessa nova categoria de pessoas - os "novos pobres" (que é uma expressão lamentável) - para tipificar aqueles que têm emprego mas que já não conseguem assegurar a sua sobrevivência de forma autónoma e pagar as suas contas de água, luz, telefone, alimentos, roupas, etc. Têm que recorrer aos bancos alimentares e demais organizações sem fins lucrativos vocacionadas para o combate à pobreza - que distribuem gratuitamente esses bens - recolhidos com a ajuda e solidariedade da sociedade - que os doou.
É óbvio que os governos, todos eles, têm responsabilidades na forma como esses males se têm desenvolvido - e até agravado em certos aspectos - na sociedade portuguesa. Mas isso não é só imputável aos fazedores de leis, aos deputados e à classe política no seu conjunto. É imputável à sociedade no seu conjunto de que todos fazemos parte.
Ainda ontem, por exemplo, vimos pela tv Sócrates tentando começar a dar cabo da chamada "economia do petróleo", que é criminosa e gananciosa e está a asfixiar as famílias e as empresas na Europa e um pouco por todo o mundo. Com base na introdução de apoios fiscais - e outros - às empresas que invistam na construção de automóveis que consumam energia eléctrica, saíndo assim mais económicos nos seus consumos e menos poluentes para o ambiente. Neste sentido, investir em barragens hidró-eléctricas poderá revelar-se o toque de midas que falta...
O que ontem vimos no rosto de Sócrates - além duma tremenda energia perante as dificuldades - foi a face de alguém que está a "dar tudo-por-tudo" para que a economia nacional consiga sair deste beco em que nós próprios nos enfiamos e que a conjuntura económica - (alta do petróleo, crise financeira e inflação geral dos alimentos e bens de consumo) - deixe de pressionar as condições de vida dos portugueses - que estão também profundamente endividados, e não é só por causa dos empréstimos à habitação...
Onde é que se pretende chegar? Que Sócrates é o maior, nem pensar! Que Ferreira leite é alternativa, nem sonhar!!! Aliás, basta fecharmos os olhos por um minuto e supôr o que seria hoje Ferreira leite a comandar Portugal - para termos uma breve imagem da desgraça que nos aconteceria a todos. Andaríamos ainda todos de rabo-para-o ar a varrer o défice de 6% lavrado por Durão barroso e Ferreira leite - antes daquele executar a sua fuga para Bruxelas.
Pois entre ambos há um dia e uma noite. Sócrates, com as dificuldades micro e macroeconómicas conhecidas - representa o "dia"; Leite - é uma "noite" permanente, pois ainda nenhuma medida social concreta se conseguiu depreender do seu programa, mesmo lendo nas "entrelinhas de Guimarães" escritas pelo seu gurú, o ex-maoista Pacheco pereira.
Com Sócrates, há uma linha clara e determinada, que tem sido acidentada pelas tais balas projectadas da micro e da macroeconomia, com Ferreira leite nada nos inspira, ela é o escuro da noite, o breu dos tempos.
Numa palavra: mesmo para quem desgoste de Sócrates conseguirá compreender e reconhecer nele um mérito que só muito dificilmente reconheceria aos seus mais directos concorrentes nas actuais circunstâncias micro e macroeconómicas por que Portugal - e os portugueses - atravessam. Este é o ponto que nos permite fazer o paralelo entre Sócrates e a oposição - que apenas sabe fazer discursos e oratória parlamentar, mas que, na realidade, nenhuma alternativa viável representa para o País.
Os líderes, e a srª Ferreira leite não é nenhuma líder (até mesmo na área estrita da economia - onde se diz especialista ou conhecedora - as suas posições revelam uma desactualização de pensamento gritante, além do seu pensamento ser obscuro) concretizam visões porque criam valor e motivação, orientam, inspiram, ouvem e até convencem e geram a tal ressonância positiva que é crucial em momentos de mudança (logo de fractura social) como aquele por que passamos.
Ontem ao vermos Sócrates a dar o litro pela "puxada" desse investimento nos automóveis motorizados a uma energia alternativa à actual "energia criminosa" do petróleo - percebeu-se bem, mesmo por parte daqueles que não votaram nele ou até nem apreciam o seu estilo - que não há alternativa ao homem nesta fase do desenvolvimento económico em que nos encontramos.
E o debate hoje em torno do estado da Nação espelhará precisamente este ponto de vista.
Urge então fazer o quê?
- Um Plano Nacional de Emprego - vitaminado e concertado com as PMEs
- Um Plano Nacional de Combate à Pobreza - com o apoio do chamado 3º Sector (ONGs, IPSS e Igreja)
- Reforçar as condições de simplificação e de baixa dos impostos para seduzir e atrair mais e melhor Investimento de Qualidade para o País.
Embora escrever seja sempre muito mais fácil do que fazer.
Mas como diria Kant, não há nada mais prático do que uma boa teoria...