Hoje entre o Marcos, o João e o Sérgio - com quem estive o prazer de estar - tentei perceber o que significava uma expressão que talvez o sociólogo Tony Giddens já tenha utilizado: armazém de ideias - uma expressão que, por ser demasiado inovadora, escapou à nossa compreensão. Poderia ser bazar, mercado, oficina, artesanato.., agora armazém!!!! Seja como fo, o tema não era esse, mas sim apresentar o Second Life e o papel tridimensional que nele terá António Costa na gestão estratégica que se impõe para Lisboa a partir de 15 de Julho. Nem sequer me atrevo a resumir a dispersão de ideias ventiladas no Maxime. Sim, no Maxime, nesse espaço utilizado pelos nossos pais para a arte do pecado que já lá vai.. Desde a criação de jardins musicais para fazer interagir as crianças com o espaço, a racionalização da multiculturalidade, o papel (regulador) da autarquia para fomentar a criatividade & inovação, reformar o quadro de mentalidades nas escolas e muitas outras ideia etéreas como o vento. Tudo ante a estoicidade de António Costa que ouviu tudo e todos até à saciedade. Sucede, contudo, que uma das melhores ideias foi dita em vox baixa pelo J.V. que defendia um aproveitamento diferente do espaço que hoje serve para guardar os carrinhos do lixo integrado no Jardim da Estrela, o qual poderia servir para ateliers onde os criativos e os mais empreendedores possam ensaiar as suas ideias e realizar os seus projectos. Jardim da Estrela, um nome a reter, portanto. Não vou elaborar sobre o conceito de "armazém de ideias" porque ele é tão inatingível que um cérebro como o meu jamais o alcançará, importará sim sintetizar um conceito urgente que exige meditação por todos nós: o de cidades criativas. Partindo da ideia de que as cidades assumiram progressiva importância e por aí vive e trabalha a maior parte da massa cinzenta das grande urbes, é natural que seja também a partir da lei dos grandes números/aglomerados - como se diz em economia - (não confundir com "armazém dos números") - que irrompa essa tal criatividade & inovação vertida em aplicações, serviços e bens - que já não existirá nas cidades médias ou mesmo de menor porte e na província em geral. Daqui decorre que o conceito de cidade-criativa decorrerá da dimensão e da massa crítica da economia em questão e as conexões que ela é capaz de soldar a fim de gerar riqueza, empregos sustentáveis e uma distribuição dos rendimentos justa, i.é, com equidade social, mormente entre as classes mais desfavorecidas da população que também, pela natureza das coisas, será menos criativa, inovadora e empreendedora. Um 2º conceito de cidades-criativas que importa fixar resulta na capacidade de atracção de talento, de empresas multinacionais, de pólos de investigação, de universidades, de infra-estruturas que directa e indirectamente contribuam para o objectivo final, que é o de criar riqueza com solidariedade social sem, naturalmente, esquecer a dimensão do ambiente sustentável, hoje na origem e no carrefour de todas as políticas públicas - nacionais e sectoriais. Aqui o factor diálogo, negociação, tolerância, entendimento do outro, informalidade são vectores que despertam os agentes políticos, sociais e económicos para o cumprimento desse conceito emergente de cidades-criativas. O problema reside é no "armazém de ideias", que se calhar guarda pneus por recauchutar e pouco mais do que umas teias de aranha... Bom, abandonemos isto e evoquemos a ideia do espelho d'água de Manuel João Vieira - que defende a colocação do dito no centro do rio Tejo de forma a reflectir as duas margens e, desse modo, permitir aos lisboetas ver o que se passa na outra banda, e vive-versa. Esperemos que deste duplo reflexo não resulte um duplo deserto.. Mas, porventura, e já que estamos a falar de criatividade, sendo que o Macroscópio também se reclama dessa linha de conhecimento que fomenta a criatogénese nos processos e nas dinâmicas intelectuais que antecedem a produção de conhecimento, talvez não fosse má ideia lembrar aqui umas ideias do referido M.J.Vieira quando há uns anos concorreu a Belém. Refiro-me ao célebre dr. Lello Minsk dos Ena Pá 2000, consagrado vocalista dos Irmãos Catita. Além da pose excêntrica, damos conta duma entrevista que ele deu a uma revista côr-de-rosa há uns anos, dando largas à sua imaginação. Vejamos:
- Diz MJV: acho a política um prazer, mas caríssimo. Tive de comprar um fato no conde Barão, um par de sapatos e troquei o Ferrari por um Lamborgini Miura, mas ainda estou a pagar as prestações.
- Depois, assevera: estava a pensar pôr o meu carro a gás. Questionado sobre a medida mais popular em Belém, diz: os nascimentos devem ser subsidiados e a licença pós-parto prolongar-se por 1 a dois anos. Não é uma medida demagógica, porque se os nascimentos não aumentarem a Segurança Social entra em colapso.
- E quero subsidiar a lingerie feminina a 100% e os perfumes de marca francesa a 150%. E todos os portugueses devem ter um Ferrari.
- E qual a medida mais impopular? Vender o Porto à Inglaterra. Assunto que ainda está na corda bamba, penso que o melhor é fazer um referendo.
Em que lugar gostaria de se encontrar com Guterres para discutir problemas nacionais? Que tal perto de um precipício? Por ex., um pic-nic na Boca do Inferno. E quem será a 1ª dama? Apostamos numa eleição via Internet.
O Batatoon e o professor Neca serão os meus estilistas.
E quanto espera ganhar?
- Os portugueses deviam todos ganhar o mesmo. É importante democratizar a democracia e retomar a política de saneamentos, por sorteio ou rifa, para não dizerem que favorecemos algumas pessoas.
Será que isto integra hoje uma parte da caricatura que é hoje Portugal, similar à narrada por Eça no séc. XIX? Que relação têm estas ressonâncias hilariantes com a classe política, o empresariado, a ciência e a inovação? Bem ou mal, creio que em todo este "armazém de ideias" haverá algum traço de modernidade no Portugal contemporâneo. Ou será que tudo isto não passa duma brutalidade cómica, actualizada com a crise económica e moral do 3º milénio?! Seja como for, com António Costa na Capital, com o Second Life e com uma visão reformista para a cidade - quer a cidade, quer os munícipes terão razões adicionais para olhar para Lisboa com novos olhos, ainda que, pontualmente, possam confundir o armazém de ideias com o lodaçal povoado de bacalhoeiros que ainda hoje, lamentavelmente, ocupam a enorme área mal gerida pela Administração do Porto de Lisboa (APL). Se calhar é este o "tal" armazém de que se falava, e guarda pastas dentífricas maradas.
<< Home