quinta-feira

Cair no abismo ao ler a lista dos nomes das pessoas que perderam a vida no A320 em S. Paulo

A lista
Ao percorrer aquela lista de nomes de pessoas que viajavam no A320 do vôo Porto Alegre - S. Paulo não deixo de me arrepiar: a civilização, a tecnologia, a razão, a velocidade - todas essas grandezas e octanas do Ocidente se convertem nas forquilhas de fogo da morte súbita ateada a 1000º de temperatura. É um inferno. De vez em quando devíamos purgar-nos da razão e da tecnologia que arranjamos para nós como medida higiénica.
Com olhos limpos e piedosos tento percorrer a mesma lista de nomes e não vejo senão um absurdo - porque um Deus que respondesse perante tamanho acidente não deixaria de ser um tarado. As octanas que nos transportam são as mesmas octanas que nos deixam os corpos carbonizados, irreconhecíveis, em pó. E aqui voltamos ao problema do homem que está sentado nessa cadeira do abismo, pode ser uma cadeira de avião ao encontro da morte - e em terra - por ironia do destino, como por regra os carros se acidentam.
Até nisto os aviões são mortalmente invejosos, ao copiar a forma que os transportes terrestres se acidentam. Não é justo tanto plágio mortífero. Estarmos na hora errada e no local errado do tempo do cosmos só pode conduzir-nos a um fim antecipado. Se todos aqueles passageiros não tivessem existido no acaso em que existiram, um a um, na cadeia complexa das suas vidas, Deus seria um idiota a brincar aos aviões em pistas de Portugal dos pequeninos..
Até eu que não percebo nada de indústria aviónica, dimensão de aeroportos percebo que aquela pista é mais adequada para testes de F1, ou cavalinhos de super-bykes e não para take-of e aterragens de aviões.
Dá-me vontade de perguntar se aqueles engenheiros aeronauticos brasileiros se licenciaram na UnI...
PS: Este miserável texto é em homenagem aqueles homens e mulheres que se sentaram no lado errado da história e não puderam nem antecipar nem adiar essa viagem.