sexta-feira

Quem pagou o estudo de Alcochete?

. Francisco Teixeira
"O mote para a realização de um estudo alternativo à Ota foi lançado pelo presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, Francisco Van Zeller, mas foram mais de 20 os empresários que o financiaram.
Joe Berardo (empresário e investidor), Alexandre Patrício Gouveia (administrador do Corte inglês), Manuel Alfredo de Mello (empresário) e Carlos Barbosa (empresário e presidente do ACP) estão entre os patrocinadores do documento que obrigou o Governo a recuar e a suspender durante seis meses a construção do novo Aeroporto de Lisboa na Ota até que a alternativa Alcochete seja aprofundada, através de um estudo encomendado pelo Executivo ao LNEC.
Os argumentos para o financiamento desta causa variam mas todos têm, em comum, um ponto: nenhum tem interesses financeiros na região de Alcochete. “Não quero que se entre numa situação em que um bilhete de taxi custe mais do que um bilhete de avião”, diz o comendador Joe Berardo que explicou ao Diário Económico que foi há três meses que um administrador do Deustche Bank, a título pessoal, o abordou. “Concordei e dei o meu contributo financeiro”, acrescenta, sem, no entanto, revelar o valor.
Alexandre Patrício Gouveia considera que é o futuro “de todos nós que está em causa”. Se a decisão for errada, como considera no caso da Ota, “todo o desenvolvimento do país estaria em causa”.
O presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, confirma que contribuiu financeiramente para o estudo ( “Disse logo que sim.”) porque quer “apenas que se gaste bem o dinheiro público” e se garanta que “a escolha que se faz é a melhor e a que dura mais tempo”. “É uma questão patriótica. Não somos um grupo anti-Ota”.
Até agora e apesar das várias insistências dos defensores da Ota e até do próprio PS (que requereu à CIP a divulgação dos patrocinadores), desconheciam-se os financiadores do estudo que propõe a construção do novo aeroporto no campo de tiro de Alcochete.
Tal como o Diário Económico noticiou ontem, os promotores da iniciativa jantaram há cerca de três meses no Hotel Ritz tendo acordado que os responsáveis pela viabilidade financeira do documento ficariam no anonimato. A ideia não era hostilizar o Governo, mas sim a decisão até então irreversível de se construir o futuro aeroporto de Lisboa na Ota, a mais de 40 quilómetros da cidade. Neste jantar estiveram ainda presentes Carmona Rodrigues, ex-presidente da Câmara de Lisboa e repsentantes".
Obs: Quem sabe Carmona também não ficou beneficiado com algum subsídio de campanha, mas este grupo de empresários defende uma posição realista: Lisboa e a sua centralidade. Seja como fôr, um estudo da UE - composto por entidades e técnicos nacionais - daria não só maior força ao Governo como também maior credibilidade técnica ao projecto.
Não se percebe é o argumento de que alguns empresários não se identificaram com o fundamento de que têm negócios com o governo e, por essa razão, receavam represálias. Em democracia só deverá haver transparência e responsabilidade, e não represálias.
Sendo certo que, doravante, Belém - pelo perfil que está a assumir - terá de passar a receber outros estudos de outros empresários que resolvam por bem empreender estudos alternativos, daí voltarmos ao nosso ponto de partida: solicite-se à UE o mega-estudo. Solução que acabará por favorecer o interesse nacional e diluir os interesses neocorporativos que se agitam no terreno. Portugal agradece.