O que o "Vicente" pensa da economia nacional: diferenciação
Todos nós sabemos o que as estatísticas reflectem acerca dos níveis de desemprego estrutural em Portugal: 8,4%. Os números são sempre manipulados, torneados, subvertidos - mas estima-se que hoje entre meio milhão e 600 mil desempregados povoem a paisagem nacional do desalento e da frustração colectiva. Tanto mais grave tratar-se de pessoas com formação académica cuja valia assim se perde nas valetas desta nossa economia de casino que só sabe hoje fazer bem uma coisa: gerar a economia selvagem nos mercados - nacional e internacional.
Acresce a isto, ainda existe uma outra desvantagem desta nossa neo-economia de casino post-capitalista: qualquer empresa nacional está hoje mais vulnerável do que nunca, tudo hoje pode ser "Opado" à velocidade da luz duma transação económica - adquirida por terceiros. Basta usar as páginas amarelas da Net para que um tubarão-capitalista determine qual será a próxima vítima no burgo ou à escala global.
O exemplo (gorado) da OPA do BCP ao BPI - pode amanhã, por isso já estão a blindar os estatutos, servir de exemplo a esse paradigma de economia bolsista de tipo super-sónico. Num ápice aquilo que tinha um dono, uma estratégia e um corpo de quadros pode, num abrir-e-fechar de olhos, diluir-se em novas estratégias empresariais utilizando, para o efeito, 1/3 dos quadros anteriormente utilizados. Resultado: mais desemprego qualificado e qualquer dia batemos nos dois dígitos... Com o preço do dinheiro a subir ante a impotência das taxas directoras estancarem essa anormalidade.
Ou seja, hoje qualquer empresário pode ver a sua vidinha esbulhada em dois tempos, a sua empresa opada ou destruída e os seus funcionários no olho da rua sem que, para tal, hajam protecções sociais, jurídicas ou outras da parte do Estado, da economia e da empresa. Algo aqui andou mais depressa, e esse algo foi a economia de casino que ultrapassou as protecções sociais dos funcionários e os direitos dos trabalhadores em geral.
Por outro lado, hoje também há mais milhões de pessoas a pensar em como ser competitivo, a criar novos produtos, a gerar força de mercado. Daqui decorre uma pressão constante nunca antes vista na economia global. Daí que estejamos hoje num ponto de ebulição, e aquele meio milhão de desempregados em Portugal significa que estamos todos sentados sobre o vulcão com o rabinho a assar ou a cozer... Qualquer dia estamos feitos em cinzas.
Soluções para isto (!!??), parece não existirem. Os melhores economistas - nacionais e internacionais - dizem uma coisas acerca da inovação, mas são já lugares comuns que tendem a não vingar em Portugal. De modo que continuamos com o rabinho sobre o vulcão, tanto mais que o governo Sócrates fez-se eleger com base na promessa de criação de 150.000 postos de trabalho. Aqui o saldo é... vulcónico.
Depois, as empresas, os produtos e os serviços estão a tornar-se cada vez mais iguais. Isto é claro nos bancos e no sector financeiro. Sempre que entro neles só vejo agentes Smiths (por referência ao Matrix), nenhum se diferencia no tratamento das questões. É uma massificação atroz no tratamento dos processos e das questões. Se entrarmos noutra empresa a coisa também não fugirá muito a este padrão da igualização. Por conseguinte, parece que nos tornamos todos uns carneirinhos que enfileiram na mesma via - e depois o pastor da economia de casino e o cajado do capitalista-mor é que dão o toque de rebate para seguir nesta ou naquela direcção.
Qual é, então, a escapatória para este rebanho sair do pasto em que está, em que estamos, para começarmos a comer em bons restaurantes? Julgo, sob pena de dizer mais uma vulgaridade, que a batalha está alí - naqueles morangos sob a tutela do Vicente... Na prática, a nova batalha competitiva residirá no esquema competitivo assente na tal diferenciação, no design e na garantia de que somos capazes de fazer novos produtos e oferecer novos serviços. No fundo, sermos diferentes. Será essa diferença que orientará o sucesso das empresas nacionais e de cada um de nós. Isso também se vê aqui na blogosfera, creio... Quem não conseguir surpreender torna-se chato e não é lido. Com os casamentos e a vida em geral é a mesma coisa.
Por último, verificamos ainda uma outra diferença relativamente ao tempo anterior, pré-globalização: dantes utilizávamos imensa matéria-prima e baixo know-how; hoje, ao invés, a fórmula inverteu-se, e o conhecimento passou a ferramenta de utilização intensiva. Mas com baixos salários, também não atraímos muitas pessoas qualificadas. Nem pessoas nem investimentos de qualidade estrutural que seja durável no tempo, e não ameace levantar a atenda se o Estado não conceder favores ou benefícios fiscais que não confere a mais ninguém - neste jogo da economia da chantagem velada e explícita.
Dantes éramos um pés-de-chumbo e andávamos como um elefante, hoje esvoaçamos com umas borboletas, mas aqui o risco também é grande, pois podem ser apanhadas fácilmente.
Portanto, sr. engº Sócrates - uma questão à mesa: Que fazer!??? Qual dos morangos vamos comer?
PS: a versão musical desta teoria da diferença pode ser encontrada aqui, nos Gotan Project [link], uma pedrada de génio. Gostaria de ter composto a letra, bastaria uma tarde...
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