segunda-feira

Aparências & realidades na vida política portuguesa

Quem é que não acredita naquele primeiro impulso do casamento, duma amizade, duma relação socioprofisisonal que julgamos profícua e duradoira... Todos nós julgamos que as coisas irão correr pelo melhor durante muitos e longos anos, mas as desilusões são prematuras e irrompem de diversas formas: entre as pessoas, pela vida pública, pelo meio social e profissional, por vezes até entre a família, e o mais. Esta equação coloca-nos um problema (cognitivo/epistemológico) acrescido: o das falsas percepções e das ilusões que que vamos acalentando naquele xadrez complexo de relações - pessoais, profissisonais, políticas, familiares e outras que tais.
Uns fogem para Abrantes, outras migram para o Alentejo, outros ainda ficam onde estão por não ter fuga possível, e depois há aqueles que não são nada, nada sentem, nada pensam - apenas respiram como quem vegeta. Estes são os que passam pelos intervalos do O2 a fim de não serem identificados por ninguém, nem pelo vento invisível.
Decorre isto do nível de "autenticidade!?" das relações políticas portuguesas que temos tido nos últimos 25 anos. Cavaco foi eleito pela direita, mas chegou a governar à esquerda; Guterres foi sufragado pela esquerda mas governou (católicamente) à direita; Fujão Barroso governou-se a ele próprio naquele seu registo de capitalismo de casino apontando a mira para a Comissão Europeia - sendo que para o efeito escolheu a guerra ao Iraque e a Cimeira (canalha) dos Açores para se fazer eleger; SLopes é um néscio - nem sequer saber o que é governar, apesar de ter a mania que fez obra em Portugal (um dia ainda lhe perguntaremos quantas Palmeiras plantou na Figueira-da-Foz...) ante o muito que estragou em Lisboa (uma cidade depois esburacada e arruinada pelo eng. Carmona - que é uma verdadeira lástima política). Aliás, há até quem diga, maldosamente, que o mapa de Lisboa é feito à imagem e semelhança da face de Carmona...
Sócrates, hoje, sendo de esquerda é portador dum perfil político de homem de direita: na sociedade, na economia e no Estado - esvaziando por completo o ideário do cds/pp e do psd - que assim ficaram sem programa, sem ideologia e sem praxis política. Ou seja, Socas deixou órfão o psd+cds, despiu todos os actores políticos à sua direita, tornando-se ele próprio hoje nessa direita - ainda que só pontualmente governe à esquerda.
Ante esta dualidade, esta esquizofrenia política como será possível em Portugal arrumar os que são de direita e os que são de esquerda? Visto que hoje essa compartimentação (artificial) se fundiu numa lógica triturante de poder. Vejamos um exemplo tão lamentável quanto mesquinho e hipócrita: O PsD enquanto poder estudava para implementar o projecto da Ota. Hoje, na oposição tudo faz para denegrir e impedir essa possibilidade. Como poderemos encaixar MMendes nesta dualidade de posições num espaço de tempo tão curto em relação ao mesmo projecto?! É confuso e os portugueses acabam por não compreender e rejeitar essas falsas dicotomias ou arrumos ideológicos. De caminho, são também os líderes partidários que perdem a pouca credibilidade que ainda têm..
Isto leva-me a supor que a vida política portuguesa se transformou numa cena do D. Quixote, quando se confunde o local de venda com o castelo, ou ainda as prostitutas com as donzelas de nobre estirpe. É este confusionismo geral que nos tem levado ao relativismo sociológico em que vegetamos há décadas, e isso penaliza a economia, a sociedade e o Estado. Ou seja, penaliza todos e cada um dos 10 milhões de portugueses.
A vida pública nacional vive, portanto, um cenário burlesco em que são as aparências a comandar a realidade. Assim é (também) entre as pessoas, experimentem um dia aparecer junto de alguém bem vestido e conduzindo o bom BMW... Muitos se impressionam, os pobres de espírito, sobretudo. Ainda ontem vimos e ouvimos mais um sinal dessa doença infantil da análise política em Portugal ventilado por aquele que alguns consideram o génio da análise em Portugal.. Coitado do Marcelo!!! Ao dizer que o 2º maior problema de Socas (depois da Ota) era a sua licenciatura na UnI... Marcelo deveria ter guardado este wishfulthinking... Ele não deve medir a inteligência dos outros pela dele, nem pelos seus standards ético-morais e até políticos.
Fiquei até convencido que é o analista o principal interessado que assim seja. Foi pena ter confundido um ardente desejo pessoal com uma análise que se impõe séria e isenta. Depois, Portugal não beneficia mais ou menos por ter um licenciado como PM a um Domingo ou a uma 2ªfeira. Nesta matéria Marcelo deveria por mais os olhos em Miguel Sousa Tavares ou em António Vitorino que mesmo sendo do PS - é mais escrupuloso e sério.
Se fosse a bichona do Hermano J. a dizer isto a malta ria-se e assobiava ao cochixo, mas vindo da boca de Marcelo dá vontade de chorar, até pela má fé do argumento - penalizando o investimento, o desemprego e a reforma da economia nacional. Ora, também aqui, no domínio da inverdade analítica a que certos players da análise em Portugal não conseguem sucumbir, se podem multiplicar inverdades, imprecisões, confusões, avolumar boatos, intrigar, desvalorizar, minar e tudo aquilo que, no fundo, contribui para consolidar aquele padrão canalha de permitir que sejam, de facto, as aparências e as ilusões a comandar a realidade e os bons sentimentos. Mas que ajuda dá Marcelo a MMendes.. Assim não vão lá...
Este último exemplo é apenas mais um exemplo em que uma pessoa nos quer fazer crer que a feira de Cascais é um Castelo de Marvão, ou as meretrizes de serviço ao D. Quixote são donzelas de nobre estirpe, ou ainda que os moinhos-de-vento são exércitos furiosos prontos para atacar.
São estas ilusões somadas que fazem dos portugueses aquilo que eles ainda são hoje: tolinhos. Os tolinhos da dona Mª El
iza da rtp e do dr. salazar de Stºa Comba Dão ("Dão" só vinho..). Tudo porque não temos ainda os filtros intelectuais necessários para separar o trigo do jóio, separar as aparências da realidade, as intrigas dos factos. E como não conseguimos (ainda) fazer essas destrinças continuamos a olhar para a ministra da Educação e a ver nela a Claudia Shiffer. Tudo, infelizmente, para nosso descontentamento, desilusão e frustração nesse Portugal-à-beira-mar-mal-plantado.
Se calhar o melhor mesmo é zarpar para um monte Alentejano e ficar por lá a respirar uns dias na esperança de dissolver as ilusões e, de caminho, conseguir captar as verdadeiras essências. Se soubesse onde ficaria esse monte zarparia para lá...
Mas tenho receio do cão...