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MARVÃO A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

  • Um artigo de 2005 que já aqui publicámos...

MARVÃO A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE Marvão é candidato a Património Mundial no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) a bens culturais, naturais ou mistos de importância mundial. Trata-se de um exemplo de vila fortificada conservada do Período Islâmico e da “Reconquista”, dotada de uma localização, beleza e harmonia única do Homem com a Natureza. Alguns monumentos já estão classificados como de Interesse Público (Pelourinho, 1933; toda a vila, 1948; Convento de Nª Senhora da Estrela, 1982).

O Estado português, auxiliado técnica e cientificamente por uma comissão municipal, quis reduzir o risco e a incerteza da candidatura. Daí a colaboração de académicos e experts do Instituto Politécnico de Portalegre, da Universidade de Évora e da Universidade de Extremadura (Espanha). Todos são poucos para valorizar o empreendimento de Marvão universal.

A questão que se coloca é saber se após a chancela da UNESCO haverá alteração de regras na intervenção do património. Marvão, naturalmente, continuará a reger-se pelas leis nacionais, supervisonadas pela autarquia e vigiadas pelo IPPAR, IPA e Parque Nacional da Serra de São Mamede. Mas existem vantagens resultantes dessa classificação. Marvão passa a ser um bem precioso para toda a Humanidade; atrairá um acréscimo de turistas de qualidade para a região, gerador de mais desenvolvimento integrado. A hotelaria, a restauração, o comércio e o artesanato serão os pólos mais beneficiados. Indirectamente, tais vantagens repercutir-se-ão na qualidade de vida das famílias, não só pelo aumento de emprego e de rendimentos, como pelas infra-estruturas.

Mas é no plano político que esta vantagem se potencia. Uma vez classificada de Património Mundial, Marvão terá direitos acrescidos na disputa de recursos públicos para a realização dos seus projectos de conservação e de desenvolvimento. Fixando quadros qualificados e atraindo outros investimentos de maior dimensão cuja massa crítica compensa os incómodos gerados pela intranquilidade do influxo de turistas com os automóveis a desqualificar a vila. Tal como em Monsaraz e Óbitos, o espaço intramuros só é acessível a pessoas e bagagens.

O desafio é agora colocado no futuro. E este conjuga-se com problemas de fixação de população, conservação e desenvolvimento. O turismo representa aqui um papel-chave nessa sedução e de melhoria da opção estratégica (regional) e do País. O valioso artigo de Domingos Bucho sobre a Candidatura de Marvão a Património Mundial (in Revista Cultural do Concelho de Marvão, Nº. 9/10, 1999-00 CMM) documenta eficientemente este dossier.

Marvão, onde também criei raízes, poderá fazer a sua globalização feliz pela via cultural: recaracterizando centros históricos, valorizando o espaço e as gentes através de ciclos de conferências temáticos, instituindo prémios dinamizadores da massa crítica da região e do País. O mundo, com as suas dinâmicas, é sempre um universo de territórios. Estes são não só o produto dos recursos que lhes confere uma identidade própria, quanto expressão dos recursos com que se promove a atracção de factores globalizantes que se localizam no interior desses territórios. Marvão poderá ser um desses espaços sub-nacionais que se constituem em sujeitos activos no processo de globalização feliz.

Marvão será essa rugosidade geográfica cristalizado em diamante universal reconhecido pela UNESCO. Ajudará ainda a mudar o rosto de Portugal quando falamos de globalização: fonte de diversidade cultural, atractor de símbolos universais, catalizador de redes locais e regionais no espaço competitivo nacional, gerando uma incerteza nas mobilidades globais hoje impossíveis de determinar.

Pelo que conheço, não tenho dúvidas que Marvão poderá ser esse espaço universal, actor de práticas culturais contextualizadas e em interacção institucional com o mundo. Um lugar mágico de trajectórias inesperadas e um símbolo de glocalização em que o local se torna mundial. Mas com a particularidade de ser Marvão a “fábrica das normas” que rege os hábitos que configuram os seus comportamentos naturais e institucionais na compreensão dos processos socioeconómicos contemporâneos.

Marvão tem essa espessura histórica e simbólica que, pela sua própria imagem, associa uma estratégia de promoção dos seus interesses no plano mundial.