quarta-feira

Porque queremos ganhar o Mundial de Futebol: Liberté, Egalité et Vancifu...

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
  • - É um enunciado tão óbvio quanto redundante, nessa medida estúpido. Mas não é meu propósito aqui apelidar assim os nossos ciber-leitores, nem, tão pouco, incorrermos nós nessa estupidez. Então porque razão queremos sempre ganhar algo, até este Mundial de Futebol. Julgo que isso está inscrito no nosso capital genético. Poucos são os que conheço - dentro e fora da Academia - que não pensam primeiro no seu "eu", no seu "egozinho" - mostrando ao mundo a sua pequena felicidade, comezinha, afinal, diante dos grandes deste mundo. E esses são os verdadeiros filósofos, os que pensam, os que são originais e não os que decalcam sebentas, os que copiam sem originalidade, sem adicionar nada ao que já está feito e servido. Tentarei em breves linhas explicitar essa mega-motivação acerca do porquê das nossas acções, e não a adulação superficial na qual desejamos naturalmente crer, sempre pensando em contrapartidas.
  • -E se algum de nós, um dia, defendense públicamente o seguinte: a selecção nacional já foi longe de mais, já demos o passo maior do que a perna, por isso não merecemos ir além da França... Isto seria uma heresia, embora fosse pensável por 10 milhões de tugas em vox baixinho.
- Mas isto não responde ao que queremos saber. E pretendemos saber porque queremos assim tanto ganhar. Isto supõe uma outra deriva: porque temos piedade dos outros: dos brasileiros, por exemplo. Até nos compadecemos deles. Eu própio ontem quase me desfiz em lágrimas quando recebi um mail do meu amigo Vanaldo, de João Pessoa - em que ele me traduzia a sua tristeza como se um familiar seu tivesse falecido. Reli a carta só para confirmar que se tratava não de um funeral mas, tão só, da eliminação da selecção brasileira pela França que hoje nos defronta...Até fiquei com vontade de crucificar a França na Bastilha... Depois recordei a guilhotina, a Maria Antonieta (Manela Ferreira Leita para os amigos) e depois lá me benzi por ter sido assaltado por esses tão maus quanto pecaminosos pensamentos.
  • - Mas compadecemo-nos dos nossos irmãos brasileiros não porque falamos todos a língua de Luís Vaz, mas porque nos sentimos infelizes com os seus infortúnios. E é agindo em função deste infortúnio que os tentámos confortar. Outros, no próprio Brasil, partiram a estátua de Ronaldinho, como ontem sinalizou Fernando Alves na TSF.
  • - Tudo isto está muito bem, mas não vai suficientemente fundo. A razão pela qual nos sentimos incomodados com os infortúnios dos outros (angolanos, holandeses, brasileiros, - os ingleses Não!!! - ) decorre de pensarmos que a mesma coisa nos poderia acontecer a nós. É isso que sentimos num funeral: sabemos que o próximo a emigrar pode bem ser um de nós, e aí ainda choramos mais. Portanto, é aqui que está a chave daquele nosso enunciado meio-lerdinho das ideias: imaginarmos ou fantasiarmos as nossas próprias calamidades futuras, partindo da consciência do sofrimento de outrém.
  • -Isto pode ajudar a explicar porque queremos assim tanto ganhar. E queremos tanto mais ganhar quanto o objecto da vitória significa algo de muito valioso, desse modo o troféu também nos permite identificar com todas aquelas selecções nacionais que já ganharam esse magno toféu. Por isso, nunca dizemos que queremos ganhar um troféu ganho por uma pessoa/instituição que não fosse boa.
  • - Queremos ganhar, afinal, não pelo valor material da treta do troféu, que valerá tanto como um assalto bem feito às ourivesarias da Rua do Ouro alí na Baixa, mas pelo sentido de identificação positivo que ele nos dá colectivamente. Não é por acaso que sentimos esse sabor da vitória ou da derrota em relação a outrem.
  • - Em suma: queremos o troféu porque o identificamos com as pessoas boas que já o receberam, e não com os que pensamos serem menos dignos dessa vitória moral: imagine-se o que seria os engulhos e as pedras no sapato de Zé Du dos Santos se a selecção de Angola "limpasse" o mundial?!!! Um prémio cimeiro para um país que nem sequer é uma democracia e mata os seus concidadãos - que vivem com menos de 1 dólar per day e ainda sem água potável... Isto seria o maior enxovalho para o mundo na dobra deste III milénio. Não sei se a (hipócrita e cínica da) Fifa já pensou nisto ou até os outros dirigentes do mundo político-associativo desse meio algo mafioso em que se tornou a futebolítica.
  • - No fundo, hoje Portugal reconceptualiza o ambiente e a teoria social que originou a Revolução Francesa de 1789: à liberdade, igualdade e fraternidade - a selecção nacional reelaborou outro tríptico que, a bem dizer, já se converteu na frase do Dia: Liberté, Egalité et Vancifudé!!!!
  • Nota: agradecemos aqui ao nosso consultor clínico - "L. Saimon" da Av. do Brasil - que por coabitar com o Júlio de Matos está cada vez mais lúcido. Advice aos franceses: cuidado com o holo-fote, ele cega)))

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us