quarta-feira

D. Vasco da Gama e o Futebol...

Os economistas pensam que a riqueza económica resultava duma combinação de recursos feitos pelo Homem (máquinas, estradas, fábricas, navios, sistemas de comunicação, recursos tecnológicos e demais know-how). Nesse caso, os países pobres (como o nosso) passariam a ser ricos se investissem dinheiro naqueles recursos e aperfeiçoassem as valências humanas mediante programas educativos e de transferência de tecnologia. Já não sei bem porquê - mas lembrei-me de Vasco da Gama, esse grande cruzador de mares, vice-rei da Índia e Conde da Vidigueira, terra de boa "pomada". Talvez seja o meu consciente que esteja aqui sendo dominado pelo meu inconsciente, já que quando a gestão daqueles recursos não são devidamente geridos pelo Poder político - temos uma tendência natural para encontrar na mística, na fé, na metafísica, enfim, na religião (que religa o homem ao céu que desconhecemos em absoluto, excepto quando chove) algumas chaves para os nossos segredos e problemas pessoais e colectivos. É que a política hoje simboliza o falso profetismo, a banha-da-cobra, as promessas não cumpridas, demagogia e populismo, e o regresso de Santana ao Parlamento - cabendo-lhe logo um gabinete com mais do dobro do espaço dos demais deputados - traduz essa visão labrega e paroquial da política feita por esses aprendizes de feiticeiros e enxameadores de comícios. Vasca da Gama surge-me talvez por esse efeito de contraste: a sua estatura moral e política, a sua capacidade de idear e de conceber complementou-se com a sua capacidade de realizar e de nos engrandecer. Ora é isso que contrasta precisamente com esses que andam por aí exaurindo os recursos ao Estado (alimentado pelos impostos de todos nós) sem qualquer contrapartida para o bem comum dos portugueses. Em suma, enquanto que Vasco da Gama sinalizou um momento de grandeza na nossa história colectiva, esses outros que andam por aí vadiando (hemi)clicamente - representam o falso profetismo da política lusa, o erratismo, o amadorismo, enfim, reflectem uma perversidade do sistema de possibilidades que pauta o horizonte de Portugal. Na prática, enquanto dantes acreditávamos que a Política e os políticos tinham a capacidade de fazer aparecer o que anunciavam, hoje essas proclamações nada mais são do que falsas ilusões. Resultado: viramo-nos, necessáriamente, para o tal sistema de fé, de metafísica, de religião. Já que parece ser nessa instância que radica o nosso verdadeiro sistema de possibilidades, a nossa LIBERDADE - já que os poderes científico, político e social, so far, pouco mais nos garantem do que as ilusões do fim que refutamos. Parece, portanto, que a escapatória para esta globalização negativa que está inscrita no ADN dos dias d' hoje, e nos entra pela janela, pelo cabo, pelo satélite, pela tv, pelo tm e mail... reside em entregarmo-nos a uma certa religiosidade que hoje encontra expressão maior no Futebol, o catalizador que unifica e mobiliza o Portugal-profundo - que nos rasga uma esperança de futuro. É assim que enquadro Vasco da Gama no actual quadro social português em que o mundo vive suspenso pelos resultados deste mundial de futebol. Já agora,que resultado se pensaria poder atribuir a VG sobre o team de logo que põem em confronto Portugal-França...