O homem, o livro, o esteta: um filósofo em busca de si
- - Ainda Carrilho! Tentar perceber o homem é, creio, um gesto de cidadania activa. Tentemos, pois: o homem, que é filósofo e tem uma obra intelectual assinalável, por conseguinte não falamos de jorge coelho que é o porta-vox dos instaladaos do PS, diz-nos em entrevista à sic que escreveu o livro por causa dos filhos. Além de cair bem, quis crer nessa tirada. Gostei.
- - Tentei por-me no seu lugar e reconheci-me daquela frase, naquele gesto moral, ético. Ainda que fosse incapaz de expôr um bébé num contexto de campanha eleitoral. Mas por que razão tanta demora em denunciar o que estava mal no sistema social, comunicacional e político? Carrilho, como sabemos, é um homem vaidoso, cheio de auto-estima, o seu ego é maior do que o mundo. Estas e outras razões de natureza social, psicológica e intelectual fazem com que a classe média em geral o deteste. Por mim tolero bem pavões, sempre gostei de os ver abrir as asas para mostrar as cores no arcos iris da penugem, e ao sol ficam bonitos e alegram a paisagem quando ela é triste. Distraem a vista nos intervalos de pensamentos e de metafísicas maiores...
- - Mas Carrilho, em nosso entender, foi teleguiado por outras motivações. Precisava duma desforra, já não no tabuleiro politico-eleitoral que tinha perdido, mas joga agora noutra dimensão: o espaço público, e é aí que pretende reparar-se - ética e moralmente - já que em termos políticos não há milagres. Creio que Carrilho lança agora o livro porque é um homem que vive no plano (não diria ético) mas estético, quer dizer, ele, mais do ninguém, está tremendamente exposto aos sentimentos de angústia e de vazio. Habituou-se a pontuar, agora perdeu - ficou o vazio que este livro tenta, de algum modo, remediar.
- - É neste jogo da angústia que Carrilho joga, e é nessa dimensão psicológica que tentará recriar uma nova realidade na esfera pública. Até porque sendo ele um esteta - pode agora decidir que quer dar um salto para um nível mais elevado: se conseguir isso terá um (re)significado psicológico e subtrairá peso à sua derrota política; se não conseguir Carrilho fica onde está - numa crise existencial que nenhum livro consola. Resta saber, como parece estar no ar, se Carrilho tem fôlego intelectual (e Carrilho não é Pacheco Pereira - que não sendo filósofo oferece muito mais densidade de pensamento e de cultura política e é mais incisivo na arte da comunicação) - para dar o salto da sua escolha estética para uma visão ética e moral da política.
- - Há homens que, desesperados interiormente, o conseguem fazer com êxito - nesse caminhar do crime e do prémio que muitos buscam, mas só alguns encontram.
- - Todavia, e porque não somos ingénuos relativamente às motivações e estratégias dos jornalistas (não a todos, naturalmente!!!) e daquele outro meio personificado por essas novas máquinas de compra de poder e de influenciação da opinião pública (que são as agências de comunicação - que já aqui analisámos sob o tema do neocorporativismo) - cremos que existe ali um ensaio para uma nova ética do dever kantiano que ora Carrilho nos quer legar. Se assim for, reconheço-lhe o gesto de cidadania que referimos acima, e que pode ter a virtude de nos lembrar que o importante não é a Verdade, mas a busca das verdades importantes para a vida do indivíduo em sociedade. Ou seja, segundo Carrilho, o importante é ele encontrar a verdade que para ele faz sentido.
- - Se vingar esta postura todos seremos kierkegaardianos, reforçando assim a ideia segundo a qual pouco importa viver no tal castelo de nuvens, importa sim é identificar as nossas verdades em função da nossa subjectividade, já que as verdades efectivamente importantes são as verdades pessoais e não a Verdade ideal, de pendor hegeliano, abstracizante que nos empurra para o tal castelo de nuvens que aqui importa evitar.
- - Julgo, em suma, que é este o grande desafio pessoal (e intelectual) de Carrilho: saltar do campo estético que o tem alienado, aprisionado para uma plataforma maior: o domínio ético, moral, político.
- - Também aqui, independentemente das futuras derrotas ou vitórias pessoais do filósofo na esfera pública, o que mais importa - e esta é, creio, a principal lição a tirar de todo este epifenómeno mediático, é que alguém se decida a ter uma opinião em relação a um sistema de comunicação político global que está viciado e corrompido à partida.
- Mas debater nesta frente, convenhamos, não é obra para estetas, mas sim emprendimento para um político que, se for bem sucedido, até poderá vir a ser absolvido pela curta memória dos homens. Carrilho, agora, terá de ser um homem da ética, da moral e da política, e até da filosofia, se quiser reescrever a história a que se propôs refazer, e não um mero esteta da linguagem naquele seu manjar de jogos de racionalidade só perceptível para elites. E para esteta já temos um poeta de grande nomeada que, por acaso, até foi meu conterrâneo: o grande António Botto - a cuja estátua e respectiva homenagem pública - entre outras pessoas - se ficou a dever ao meu Q. Pai.
Macro-despacho: entrar no site do sr. prof. Carrilho é como pedir um café em horas de ponta no estádio da Luz, o Glorioso, e ser servido por um caracol coxo hermafrodita. Informe-se o próprio de que se quer conquistar a estima dos portugueses, o que duvido, terá de substituir o caracol por uma (Ch)Xita. Verá que assim se torna mais felino e já não se deixar apanhar pelo dupla que a sic escolheu para o cilindrar amanhã à noite no programa da dona Fátinha Campos Ferreira: Pros & Contras. Referimo-nos a Pacheco e ricardo costas.Ainda se não se apurou se Balsemão também lá vai estar, mas deve transmitir coordenadas via auricular para um dos presentes.
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