segunda-feira

Rede ou teia: que modelo de sociedade?

UMA AJUDINHA A SÓCRATES
  • Recordo que há cerca de 400 dias o "ouro negro" da Fundação Gulbenkian prestou serviço ao país através da conferência de M. Castells. Castelhano, sociólogo que trabalha na Universidade de Berkeley na área do desenvolvimento urbano e mudança social. Chegou, falou, convenceu e vendeu muitos livros. A Galáxia Internet não ocultou a sua trilogia: Network Society, The Power of Identity; e The End of Millennium.
  • Disse coisas interessantes: a Internet é a base tecnológica da Era da Informação e a rede é o modelo; lembrou que as metas da estratégia de Lisboa que pretende fazer da UE a economia mais competitiva do mundo ainda está longe; que os EUA investem mais do que a Europa em cérebros; que a Finlândia (entalada entre a Suécia e a Rússia mas com forte identidade nacional) conseguiu safar-se; Silicon Valley recebe milhares de engenheiros da Índia e da China. Muitos são CEO à frente dessas empresas conectadas à Ásia.
  • Poderá Portugal comparar-se à Finlândia? A Auto-Europa em Palmela modelizou o trabalho flexível e o Pacto social. Porém, o modelo de Castells articula negócio, tecnologia e informação como se a economia se regesse por fluxos em crescimento continuado. Apesar de inovador, este eixo comporta desigualdades sociais que não se adaptam à globalização competitiva de que a dualização social é o resultado: centros de excelência coabitam com info-exclusão. Logo, a lógica do sistema capitalista global (de fluxos de poder) não pode só basear-se no poder dos fluxos.
  • Que saída para a teia? Regular a crise pelos dispositivos keynesianos de bem-estar e pleno emprego do pós-guerra com estratégias de modernização? Ou, numa deriva neomarxista, evitar a desrruralização e a destruição do ambiente no moderno sistema-mundo em que o ilegítimo capitalismo global implodirá? Estes 3 modelos (Castells, Keynes e Wallerstein) têm as suas vantagens: a rede dá a ideia que o virtual é o real (mas o ar não se come); o pleno emprego prescreveu e hoje fala-se em flexibilidade numa economia de fluxos fragmentados; e as soluções neomarxistas só geram ódio e ressentimento entre as novas classes daí não resultando qualquer acréscimo de riqueza para o bem comum.
  • A conferência de Castells serviu para promover a autoreflexão da sociedade sobre o que pode ser a dinâmica dos factores de mudança ou o recorte das novas condições estratégicas em contexto de globalização. Algo que tem sido encoberto pelo poder político que pode acentuar a instabilidade e a perda de controlo sobre o sistema de expectativas. Precisamos de mundiólogos.