quarta-feira

Pensar a blogosfera, hoje, amanhã, sempre

  • REFLEXÃO DO DIA:
  • Os eleitores decidiram italianos livraram a Europa de uma das suas piores nódoas. Aos poucos a Europa livra-se dos idiotas que algumas direitas colocaram no poder. Depois de Santana Lopes e Aznar foi a vez de Berlusconi. Respira-se melhor na Europa (Jumento - Link).
  • Não terá o Jumento esquecido ou omitido nada nem ninguêm??!! P. Portas, por ex., que hoje dirige o seu partido através da Sic criando o chamado efeito-sugestão (como se faz na Pub.), pelo menos tenta.
"Ao dar uma volta pela nossa blogosfera quase me apetece gritar “Volta Santana Lopes, estás perdoado!”. E como se isso não bastasse vai partir o Berlusconi. Sei muito bem que este post vai custar-me algumas críticas mas apetece-me dizer o que me vai na alma em relação à blogosfera, um espaço que tanto prometia mas que não tem sabido resistir à partida de Santana Lopes e à estratégia de comunicação adoptada por José Sócrates. Mas se o problema fosse apenas de conteúdo …, mas não, a qualidade da forma também não é grande coisa. À direita e à esquerda foram muitos os que se evidenciaram à custa de Santana Lopes, e com a partida destes deixaram de ser porta-vozes do que quer que seja e quase se apagaram. Lembram-se quando dia sim, dia não havia uma televisão a informar o que o JPP dizia do Santana? E com a mudança do governo também não falta quem tenha perdido totalmente o sentido crítico, para passar a ser porta-voz não oficial da governação. Várias galáxias blogosféricas têm vindo a perder o seu brilho, apagam-se à medida que o sol que lhes deu a vida vai perdendo a sua luz. Sejamos honestos, também na blogosfera perdemos em relação a Espanha, perdemos em dinamismo, em qualidade gráfica, em capacidade técnica, e em conteúdo. Uma boa parte do que existe não justifica uma visita, e são alguns dos menos visitados os que de melhor existe. Até quando vai resistir a blogosfera portuguesa?"
____________________________________________
  • Não consegui identificar o autor desta foto-montagem, mas devia para citar a fonte.____________________________________________
  • Hoje o blog Jumento oferece-nos esta reflexão. Na linha, aliás, de muitas outras preocupações que aqui já deixámos, dado que a blogosfera tem sido demasiado permeável aos vícios e dependências que a sociedade de carne e osso e de corte, como diria N. Elias, já comporta na sua matriz original. Já tenho criticado o Jumento quando entendo dever criticá-lo, e também já aqui o temos elogiado quando o bom senso impera. E tem imperado muito nos últimos tempos. E eu estou-lhe grato por isso. De facto, é um caso isolado na blogosfera: em qualidade, em concept-design, em cobertura temática, em rotação, em capacidade interactiva com o rizoma e até na atitude moral e ética - que são exemplares... Então, aqui a distância a que se encontra dos demais blogs, é abissal. Quem disse que a ética não conta na blogosfera?!
  • Confesso, por outro lado, que a blogosfera lusa se transformou numa constelação de constelações, num jogo de dependências, num mar de curvaturas na recorrente república de citações. Vêm-se blogs com poucos links com elevada qualidade intelectual; vêm-se blogs com centenas deles que mais parecem uma feira de vaidades, pernas de polvo nas lotas a lutar entre si para mostrar ao mundo que estão cá... Será isto acidental? Julgo que não.
  • Contudo, não tenho dúvidas de que esta nova plataforma está a transformar a forma de comunicar em Portugal e até, talvez, a própria natureza do homem - que se transformou num instrumento antropogenético, um veículo gerador de novos tipos de realidades. Homem veículo de homens. Tudo se passa aqui e agora, tudo depende da velocidade da informação, da cronopolítica, da sucessão de factos alucinantes, sempre renovados à luz dos acontecimentos e das dinâmicas sociais, alterando, por seu turno, o carácter dos próprios acontecimentos. Ou seja, há aqui uma circularidade, uma reflexividade: os acontecimentos geram notícias, e estas - mais as análises e reflexões (coisa bem diferente) que fazemos sobre os tais acontecimentos, geram, por sua vez, mais acontecimentos, mais análises, opiniões, reflexões...
  • Mas confesso, discordando aqui do Jumento, que S. Lopes em Portugal ou Berlusconi em Itália - que sejam motivos de grandes notícias, análises, reflexões... A não ser que voltemos ao conceito de Estado-espectáculo - que aqui criticamos na blogosfera. Tanto num caso como noutro, o que constato é uma fuga do pensamento, uma circunstância em que a imagem ultrapassa a palavra, e quando esta entra em cena, seja com S. Lopes ou com Berlusconi - para retomar o paralelo supra - instala-se novamente a tal cultural juvenil, e isto representa um retrocesso para Portugal e para os portugueses. Quem não se lembra de Santana (não nos referimos ao Vasco...) em Belém... Quem não se lembra do código de conduta "ético" de Durão??? Dois homens, uma geração rebentaram um país em meses... Isto, claro está, depois de Guterres ter aberto a torneira do consumismo, do despesismo no budget do Estado, etc, etc, etc. É caso para dizer, e desconhecemos aqui se Guterres usa a blogosfera, que uma desgraça nunca vem só.
  • Mas em termos absolutos, a blogosfera tem mais vantagens do que desvantagens, é mais um "activo" do que um "passivo", para retomar o linguajar dos teo-economistas que hoje procuram recuperar a célula da família contra uma Europa em decadência porque não faz filhos...
  • Quando se refere que a blogosfera é composta de "galáxias a perder o brilho" ou que JPP - reproduz o efeito de blog-star, ou estão a perder aquilo que nunca tiveram, tal decorre, a meu ver, da reprodução na plataforma virtual daqueles vícios, subordinações e jogos de dependência recorrentes na sociedade de corte gerada pela revolução industrial que foi exportada ao mundo. Então, se utilizamos a blogosfera para reproduzir males e vícios conhecidos na sociedade de carne e osso, impõe-se perguntar: blogosfera para quê?
  • Julgo que a blogosfera em Portugal ainda está na sua fase infantil. Digamos que ainda vegetamos no estádio do complexo de Édipo, em que ora queremos matar o "Pai" ora nos queremos aproximar da sua imagem. Esta ambivalência manifesta-se na dependência que muitos blogers têm relativamente aos soit-disant guias espirituais, os tais astros em ascenção, a tal fogueira-de-vaidades que arde a todo o vapor. Alguns, certamente, têm o seu valor, mas muitos outros são resíduos contingentes, acidentais, acolitados a líderes de jornais, que fazem ou já fizeram carreira jornalística, que fazem ou pretendem vir a fazer de novo carreira política. Neste filão identificamos muito sumariamente P. Portas, bem como toda aquela gente que gravita, gravitou ou irá gravitar em seu torno. Já agora, será que P. Portas sabe o que é um blog? Será que tem algum? Ou será que ele é como Santana Lopes, que ainda procura a arroba na dispensa, o pause break no frigorífico, o page down no WC - e que só aparecem na ágora de Atenas, só se mostram quando a aparição e o resultado da mostra dão lucros políticos, ou seja, votos?!! Pois se a blogosfera serve para algo, por maioria de razão, também deverá servir para denunciar este tipo de cinismo e hipocrisia políticas. É um serviço à razão, além do tributo à justiça. Se o fizermos com seriedade e consciência também teremos políticas públicas mais eficientes e justas, excluiremos mais os factores de risco no exercício de cargos públicos. Seremos melhores em todos os patamares, latitudes e dimensões.
  • Pois aqui está um dos vícios que a blogosfera terá de saber evitar de futuro: não viver em regime de satélite (ou satelitizado). Romper com o "apartheid" que já começa a ser institucionalizado em certos espaços. E para isso, muito contribuiria se os senhores políticos, dirigentes, altos quadros, assessores e outros penduras do OGE, criassem o seu próprio blog, e aí fizessem um trabalho intelectualmente sério e solidário em prol deste país. E não, como muitos desses cromos que pululam por aí mostrando a testa ou os pensamentos que de lá não brotam, pensassem obsessivamente na sociedade do espectáculo, dos holofotes, dos punhos de renda, enfim, do culto da imagem como se esta fosse mais importante do que as essências. Preocupados que estão com o poder, sempre o Poder - que é uma relação (doentia) como diria o M. Foucault. Porventura, um activista das famílias emergentes - se fosse vivo e integrasse o BE do cardeal Louçã...
  • Nesta linha, parece-nos que P. Portas, para citar um exemplo comezinho, representa bem o modelo de sociedade-solário, de aparências, do look, do show-of, do auto-convencimento que, infelizmente, anda tão "bem" retradado na blogosfera. Mais em regime de alcateia do que em regime individual. Afinal, "eles" só são liberais em manada, nunca de per si, o que é curioso... São os mesmos que investem numa sociedade do cálculo e não da reflexão - como diria Martin Heideger - que Portas também deve conhecer, ou pelo menos já ouviu falar. Ora, nós não queremos recriar na blogosfera uma sociedade em que o Homem esteja em fuga do pensamento e da reflexão, como se nota em mais de 2/3 do espaço que ocupa o actual ciber-espaço nacional.
  • Nós não queremos uma blogosfera arredada da sociologia compreensiva, que nos explique as causas e os efeitos dos acontecimentos e das dinâmicas sociopolíticas; pretendemos antes uma blogosfera que pense mais e calcule menos. Ou seja, um espaço de conhecimento crítico, tolerante e pluralista, aberto à diferença, que seja como aquele lavrador que tem de saber aguardar que a sua semente desponte e amadureça.
  • Enquanto tal não sucede, vivemos ainda o tal estádio infantil da blogosfera: nuns casos percorrendo o mimetismo dos efeitos blog-star de JPP - que, apesar de tudo, sempre vai publicando alguma reflexão sociopolítica considerável, e sempre é melhor republicar Agustina do que recitar Saramago. Mas aqui a doutrina divide-se e os gostos são o que são. Mas com Agustina temos, pelo menos, uma certeza: ela sabe escrever portugês, ainda que possa pontuar à saramago. Esperemos que não...
  • Em suma, vejo a blogosfera como um acto de querer, pois pensar é querer, e querer é pensar. Se conseguirmos, a prazo, assegurar esta condição abrimos caminho para a serenidade. E esta, nos dias que correm, é a coisa mais fugaz e difícil de alcançar. Não porque não exista, mas porque os homens não a sabem encontrar.
  • A blogosfera precisa de serenidade, esse alimento para o espírito, essa vitamina para o pensar. E tantas são as vezes que são os pensamentos que nos pensam...

  • Dedicamos este post a Platão, a esse homem de ombros largos (Platão) por nos ter ajudado a pensar, e a pensar melhor.