terça-feira

Breve evocação a Carlos Cáceres Monteiro

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Arquivo SIC
Image Hosted by ImageShack.usCarlos Cáceres Monteiro era, como todos sabemos, um grande repórter de guerra. Foi um jornalista com múltiplas actividades, fundador de importantes projectos editoriais em Portugal, empenhado e conotado políticamente, comentador político e mais recentemente, no Verão de 2004, edita o seu maior trabalho editorial - resultado de quase 40 anos de actividades, de trajectos e de memórias - algumas recentes e de difícil resolução. HOTEL BABILÓNIA - serviu-nos de inspiração para fazer uma pequena reflexão - então publicada na imprensa e hoje integra o m/ livro - Em Busca da Globalização Feliz, pág. págs. 181-183. Julgo que essa é, agora, a melhor evocação que poderei fazer deste amigo, atento aos trabalhos dos outros, e foi também nessa base de thymos (reconhecimento) que beneficiei da sua amizade e da sua bela e amiga dedicatória com que valorizou esse seu livro, Hotel Babilónia - em cuja dedicatória hoje guardo com valor e cuidado acrescidos. Há dias enviei-lhe um mail; depois fiz um telefonema, ambos sem resposta - hoje percebo porquê. O Ano de 2006 é, já, de per se, um ano triste, e o mais dramático é que estas fatalidades - a que todos estamos sujeitos na máquina do tempo - são de tal ordem irreversíveis que não há volta a dar-lhes. A dada altura, a contaminação do tempo opera como um câncer e impede-nos de distinguir, e só nos deixa confundir as coisas e aí abre-se o caminho do atropelo e da ilusão. Costumo dizer que se cada um de nós puder, um dia, morrer lúcido, também isso já (será) uma dádida de Deus ou dos deuses, conforme o sistema de crenças de cada um. Mas o mistério permanece; esse enigma da morte - que associo ao TEMPO. Um tempo que cada um de nós vive, na sua relação com a eternidade; mas a dada altura a morte vem e a eternidade fica; ganha sempre nesse jogo desigual; nesse pacto leonino. Então, o ideal para que tendemos deverá residir para além do tempo, ié, para além da morte - na busca desses tais elementos de eternidade. Tudo isto decorre a grande velocidade, sem que nos apercebamos, ao mesmo tempo que só conseguimos coligir umas peças entre presente e passado nessa roda do tempo. Mas sempre que alguém morre, personalidade pública ou anónima, com ou sem projecção, com ou sem valor, endeusado ou não pelos demais deuses do kapital simbólico que fazem e desfazem heróis e tecem as teias dos negócios do presente, temos a consciência da nossa pequenês e impotência, tamanha é a incapacidade de podermos remediar o mal feito na sua passagem. E é na constação de que já não podemos estancar esse fluxo, ou obter dele mais um adiamento sine die - que chocamos contra esse muro invisível e inexpugnável que é a morte. Talvez o maior enigma do nosso tempo; de todos os tempos!! Afinal, quem não quer viver? Quem não quer ter a ilusão de ser feliz e de satisfazer um desejo, em vida...

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  • Pantonomia do - Hotel Babilónia Boa porção do universo de investigação politológica arranca de uma perspectiva de análise política. Dela emerge um ramo que aqui cultivamos: a Teoria da Globalização Competitiva (TGC). É ela que contém a palavra-passe, o código de designação do inimigo. Assim para os patrões das multinacionais aquela teoria rima com a expansão do capitalismo, destruição das florestas e eliminação do pequeno mercado; para os cientistas e tecnólogos rima com progresso, prosperidade e acesso aos bens culturais; para os juristas a globalização consiste no desafio da criação de normas transnacionais para ordenar a Caologia emergente numa lógica de aplicação estadual imediata das regras de harmonização fiscal, financeira, burocrática e logística (de que a UE é o paradigma e José Barroso o timoneiro).
  • Porém, a TGC comporta uma lacuna, pois nada diz quanto ao significado da metáfora do III milénio na óptica do jornalismo de investigação (mitigando fotoreportagem, crónica e textos autobiográficos). O Hotel Babilónia (Verbo) entronca nesta categoria e busca arrumação teórica na nova gramática politológica.
  • Imagine o leitor que tem diante si (coligidos nos últimos 36 anos) um conjunto de fotogramas a pedir uma leitura integrativa: a morte de “Che” Guevara, os horrores dos Khmers Vermelhos sob a mão de Pol Pot, as Guerras no Iraque, as sequelas do 11 de Setembro, G.W. Bush, a Al Qaeda, a Informação, a Guerra e a Al Jazira, o mundo fantástico da literatura de viagens, o Médio Oriente, o Terror, o Irão pós-Komeini, a América do sonho ao pesadelo, o Ground Zero, o fim do Império da URSS, a queda do muro de Berlim, o legado de Karol Wojtyla, a abertura e a mudança da China, a plataforma de Hong Kong, a guerra do Vietnam, os ícones e os mitos latino-americanos, a guerrilha em San Salvador, a Cocaína em Bogotá, os 80 anos de Jorge Amado comemorados na Baía com orixás e mães-de-santo animado num grande candomblé, a memória de Allende no Chile, a sombra de Pinochet, Cuba e Hemingway e os refugiados de Miami, O velho e o mar, a história de Papillon, Goa, Timor, Angola, Macau, Moçambique e o mais que fala a língua de Camões.
  • Pelo meio do roteiro de viagens ao globo terrestre de metal ficam muitas memórias: os eléctricos da Graça e um livro de Blasco Ibañez (A Volta ao Mundo) em cuja capa o planeta era arrumado numa Europa (vermelha), numa África (verde) uma imensa Ásia (amarela). Cores desencontradas na paleta do desenvolvimento.
  • Além do sonho de criança – Hotel Babilónia – carrega a multiplicidade de gentes, culturas e costumes, qual posto de observação da própria Humanidade. É a esse anseio intelectual (existencial) dirigido ao todo que lhe dá autonomia, a que chamo pantonomia e que o bisturi do filósofo (José Pacheco Pereira que o apresentou) conhece bem. No autor, cujos traços físicos se diluem por todas as raças, ficou patente a lei de pantonomia, já que o repórter não se contenta com nenhuma posição que não exprima valores universais.
  • Contudo, importa racionalizar esta pluralidade temática num tecido integrativo. Com o autor a costurar diversos géneros narrativos, sem nunca violar datas e factos históricos numa interacção que denuncia a luta entre homogeneidade e heterogeneidade cultural no interior das sociedades e entre Estados. Um complexo cuja similitude gerou linhas de fragmentação que o sociólogo Arjun Appadurai sistematizou: ethnoscapes (paisagem de pessoas: turistas e refugiados dum lado para o outro mundo fora); technoscape (fluxo de tecnologias formatando a configuração global); mediascapes e ideoscapes (numa paisagem de imagens e ideologias que distribuem informação instantânea pelo mundo pugnando por Liberdade, Bem-estar, Direitos e Democracia); e finanscapes (revelando que a disposição global do capital é tão misteriosa quanto rápida na manipulação dos mercados).
  • Narrativas que atravessam o Hotel Babilónia, onde todos têm a ver com todos a todo o tempo gerando um modelo de análise de fluxos culturais globais integrados na TGC, cuja paisagem cósmica mostra como o sonho de criança se tornou realidade em adulto. Cáceres Monteiro caçou a fera na selva e mergulhou sem escafandro buscando no mundo a sua integridade, por isso lhe estou grato. Será que falta fazer a viagem de volta? Para tal é preciso que o pensamento queira engolir o mundo e a mão o apalpe numa caravana sedenta que veja na lonjura do deserto uma linha perturbada onde o frescor da água treme…
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